A caravana Lula pelo Brasil concluiu na sexta-feira, 8 de dezembro, sua terceira jornada. Após percorrer os nove estados do Nordeste e as regiões norte e nordeste de Minas Gerais, a caravana passou cinco dias nos estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro. O ato de encerramento ocorreu na concha acústica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
Milhares de estudantes, técnico-administrativos e professores da Uerj e de outras universidades e escolas do Rio de Janeiro estiveram presentes neste que foi um dos mais emocionantes encontros das caravanas do ex-presidente Lula.
Os atos nas universidades e nos institutos federais de educação têm sido uma constante nas andanças da caravana. O motivo é simples: os governos Lula e Dilma investiram como nenhum outro na educação brasileira. O legado da política educacional dos governos do PT soma mais de 422 escolas técnicas, dezoito novas universidades federais, 173 novos campi interiorizados e o maior programa de crédito subsidiado ao ensino superior da história, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Isso sem falar na garantia das cotas raciais para o acesso ao ensino superior; no enorme crescimento de bolsas, da iniciação científica ao pós-doutorado; nos investimentos em pesquisa e em extensão; e por aí vai. Esse processo de valorização e de democratização do ensino de fato mudou a cara das universidades, que aos poucos foi tomando a cara de povo. E a reflexividade sobre essas novas identidades e suas interseccionalidades tem transformado as agendas de pesquisa, de ensino e de extensão.
O ato na Uerj carregou toda essa potência, acrescido de um simbolismo particular. Ocorreu na semana do grave ataque à autonomia universitária na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e poucas semanas após o trágico ocorrido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E também porque que é uma das mais importantes universidades do país, com uma comunidade universitária de cerca de 50 mil pessoas (superior a população de 90% dos municípios do país), criada ainda em 1950, vive hoje um momento dramático. Salários atrasados, dívidas do 13º salário, contratos de terceirizados interrompidos, cortes nos investimentos em pesquisa e extensão, estruturas físicas sendo deterioradas... O governo do estado parece seguir uma receita de bolo para promover o sucateamento da Uerj e prepará-la para o que pode ser seu processo de privatização.
O que pode nos parecer absurdo não está tão distante assim do horizonte dos golpistas. Lembremos que a desobrigação do estado do Rio com a Uerj já apareceu como recomendação em parecer do Tesouro Nacional/Ministério da Fazenda em setembro de 2017, relativo ao Regime de Recuperação Fiscal dos estados. Da mesma forma, a privatização do ensino público é também a tônica das recomendações do recém-lançado documento do Banco Mundial intitulado “Um ajuste justo: Análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil”.
A força do ato na Uerj é a expressão da resistência. Da resistência marcada nas mobilizações do movimento estudantil, nas ocupações das escolas, das universidades e dos institutos federais, na luta contra a Escola sem Partido. A universidade elitizada, branca, sem investimentos em pesquisa e extensão, restrita aos grandes centros urbanos do país e desobrigada de sua função social não tem e não pode ter mais lugar no Brasil.
Luiza Dulci é militante da JPT e integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. É economista (UFMG), mestre em Sociologia (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura (UFRRJ)