Juventudes do campo e das cidades, dos movimentos sociais e estudantis, das pastorais e sindicatos e das variadas lutas estão mobilizadas para debater modelos de sustentabilidade
Juventudes do campo e das cidades, dos movimentos sociais e estudantis, das pastorais e sindicatos e das variadas lutas estão mobilizadas para debater modelos de sustentabilidade
Agenda da juventude para a Rio+20 deve considerar a participação social como elemento indispensável da promoção do desenvolvimento sustentável: jovens do campo e da cidade, ambientalistas, da agricultura familiar, dos sindicatos, das pastorais, de movimentos de luta por moradia e outros estão mobilizados por um novo modelo de produção e consumo sustentável
Duas décadas depois da histórica Rio-92, o Brasil sediará em junho a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, também conhecida como Rio+20. Esse processo de mobilização de governos e sociedade pela sustentabilidade também tem alcançado gestores, movimentos e redes de juventude, apontando para uma grande intervenção dos jovens na conferência e na Cúpula dos Povos.
A realização da Rio+20 no Brasil deve ser encarada como uma grande oportunidade de considerarmos o desenvolvimento sustentável a partir do olhar da maior geração de jovens da nossa história. A ampliação dos canais de diálogo e a realização de uma ampla campanha de mobilização da juventude para a Rio + 20 devem apontar uma agenda de juventude pelo desenvolvimento sustentável que incida nos debates preparatórios, nas decisões e na mobilização posterior à conferência.
O atual modelo de desenvolvimento nos levou a padrões de produção e consumo que acentuam as desigualdades sociais e a insustentabilidade no manejo dos recursos naturais que o planeta oferece. A crise econômica em curso, cujas dimensões ambiental e social são evidentes, também tem impactado de maneira negativa na vida dos jovens de todo o mundo, ampliando a pobreza, a insegurança alimentar, a restrição dos direitos sociais, a migração, o desemprego e a precarização do trabalho.
A articulação de uma agenda de juventude para a Rio+20 deve considerar a participação social como elemento indispensável da promoção do desenvolvimento sustentável. Jovens do campo e da cidade, ambientalistas, da agricultura familiar, dos sindicatos, das pastorais, de movimentos de luta por moradia, entre outros, estão mobilizados por um novo modelo de produção e consumo sustentável. As perspectivas e leituras variam, mas a preocupação com esse tema é algo que unifica jovens de distintas realidades.
A importância da participação da juventude se evidencia também no protagonismo que os jovens têm tido na conformação de novos valores, na capacidade de influência e mobilização sobre novos temas e agendas como o desenvolvimento sustentável. Para tanto, a dimensão cultural na reflexão sobre alternativas sustentáveis é fundamental, assim como devem ser reconhecidos os saberes e práticas tradicionais como vetores de hábitos e práticas sustentáveis.
A construção de um novo padrão de produção e consumo exigirá ainda novas formas de inserção produtiva dos jovens. Do ponto de vista da oferta de condições de trabalho decente, eles constituem um grupo desfavorecido, não raro submetido a altas taxas de desemprego, informalidade, rotatividade, terceirização e ausência de proteção social. A geração de renda e postos de trabalho decente para a juventude deve articular o enfrentamento da precarização do trabalho com empregos e investimentos nas cadeias produtivas sustentáveis.
Outro importante compromisso a ser assumido é com a incorporação da erradicação da pobreza extrema e da soberania alimentar como objetivos fundamentais das declarações da conferência. Para alcançar essa meta, devemos enfrentar o ciclo de reprodução da pobreza que atinge as novas gerações, uma vez que os extremamente pobres no Brasil são, em sua maioria, crianças, adolescentes e jovens.
A escola e a universidade, por sua vez, devem ser consideradas espaços privilegiados de mobilização pelo desenvolvimento sustentável, a partir da promoção de práticas educacionais que contribuam para novas relações de interação com o meio ambiente, programas e iniciativas de educação ambiental, formação profissional, ciência, tecnologia e inovação sustentáveis.
Além disso, o território é uma chave de leitura indispensável para entendermos as formas de integração do jovem à sociedade, para além da família ou da escola. O planejamento e desenvolvimento urbano e rural são condições fundamentais para o estabelecimento de práticas de ocupação e circulação territorial sustentáveis.
O direito à cidade permite ao jovem a construção de sua identidade individual e coletiva. A vivência do espaço urbano deve ser realizada de maneira acolhedora, exigindo políticas eficazes de mobilidade, habitação, saneamento, acesso e descentralização dos serviços públicos, transporte coletivo, acessibilidade e circulação não motorizada. De igual maneira, devem ser criadas as oportunidades de plena integração do jovem no campo. As políticas de desenvolvimento agrário têm de articular o acesso a terra com a oferta de equipamentos e serviços públicos para a juventude, gerando condições de permanência do jovem no meio rural.
As “futuras gerações”, mencionadas pelas declarações da Rio-92, são os jovens de hoje do Brasil e do mundo. O engajamento, a conscientização e a participação da atual geração de jovens na tomada de decisões sobre o meio ambiente e o desenvolvimento serão fundamentais para o êxito dos compromissos firmados pela Rio+20.
Severine Carmem Macedo é secretária Nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República