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Revitalização e Humanização da Orla da cidade catarinense ampliou o acesso em suas praias. Obra foi decidida com a população e é símbolo da gestão petista

A negação histórica da existência de um povo palestino, necessária para afirmar o status da terra como res nullius, como uma terra sem povo destinada ao povo a que fora prometida, mantém-se constante até hoje e é acompanhada da vilificação daqueles que estão “do outro lado”, daqueles menos civilizados, dos radicais, dos amantes da morte

Administração petista transformou a orla de Itapema

Administração petista transformou a orla de Itapema. Foto: Arquivo

Fernando Schlichting, 44 anos, não tomava banho de mar há 25 anos, desde que sofreu um acidente e perdeu o movimento das pernas. Quando via outras pessoas se divertindo na água, sofria com a dor que a limitação causa. Mas, no último verão, o desejo de sentir novamente as ondas se tornou realidade com as cadeiras anfíbias, que levam os deficientes até dentro do mar, e o auxílio de pessoal treinado. Para muitos outros como ele, é a realização de um sonho que só foi possível graças ao recente parque-calçadão de Meia Praia, em Itapema, a setenta quilômetros de Florianópolis.

A iniciativa, que transformou a cara da cidade, levou em conta as necessidades dos portadores de deficiência física. “O declive está de acordo coma as normas da ABNT, a escolha do piso é perfeita para rolagem e as rampas de acesso permitem que o cadeirante chegue até o mar”, complementa o morador, com um largo sorriso no rosto enquanto desfruta o entardecer na orla.

Foi do cadeirante um dos votos favoráveis ao “Projeto de Revitalização e Humanização da Orla de Itapema” durante as audiências públicas realizadas com a comunidade na cidade litorânea de Santa Catarina. A obra alia valorização à vida, acessibilidade, inclusão social e preservação ambiental.

Cadeira anfíbia leva ao mar quem não mais podia.

Toda beira-mar da cidade está sendo beneficiada. A principal transformação é em Meia Praia, onde cinco quilômetros de calçadão já estão quase prontos. A Praia Central, por sua vez, recebe investimentos em iluminação e melhorias dos espaços para convivência e acesso. Já a pequena praia de Ilhota está sendo, aos poucos, transformada em vila gastronômica, enquanto o Canto da Praia ganha melhorias para os pescadores locais.

Isso tudo porque a gestão petista no município leva a sério a premissa de que as políticas públicas de uma cidade precisam atender às necessidades de seus habitantes. Assim, a administração tem como marca programas de participação popular, em que os moradores são convocados a dar sua opinião e a votar nos projetos que deveriam ser realizados. “O direito concedido ao povo de ter suas necessidades atendidas e sua voz ouvida com respeito incentiva a participação e integra a sociedade”, diz Schlichting.

Trabalho coletivo
Cidade litorânea, Itapema sempre atraiu muitos turistas. A partir dos anos 1970, não só o turismo aumentou, tornando-se a principal economia, como a cidade passou a ser mais intensamente povoada. O crescimento desorganizado e a falta de uma administração competente quase comprometeram o principal atrativo local, uma orla extensa de areias claras e águas tranquilas.

Todo verão, cerca de 650 mil pessoas visitam o município de 50 mil habitantes. Muitas delas gostam tanto que voltam, adquirem um imóvel e acabam se instalando na cidade, incentivando ainda mais o crescimento da construção civil. O comércio é outro setor que depende do sucesso da temporada para apresentar bons resultados. De acordo com dados da Secretaria do Turismo, cada turista gasta, em média, R$ 100 por dia. Para muitas famílias é a renda do verão que sustenta as despesas do ano todo. “Quando a temporada é boa, o cidadão itapemense fica feliz. Nós vivemos do turismo”, diz o prefeito Sabino Bussanello.

Ao tomar posse, em 2006, após o antigo prefeito ser cassado, Bussanello constatou que a situação do principal cartão-postal da cidade era grave. Máquinas já abriam uma via de acesso na beira-mar para a construção de uma avenida quando a Justiça Eleitoral reconheceu o abuso de poder pela gestão anterior. O petista sabia que qualquer projeto na orla era estratégico para a qualidade de vida dos moradores e para o desenvolvimento do setor econômico mais importante da cidade.

“O município havia perdido credibilidade. Nem mesmo as entidades governamentais tinham interesse em dialogar com a prefeitura”, relembra o prefeito. Por isso que, em um primeiro momento, foi necessário concentrar esforços para readquirir a boa vontade de órgãos como o Ibama e a Fundação do Meio Ambiente (Fatma), do estado, para realizar um estudo de impacto ambiental e criar projetos alternativos para a beira-mar.

Para resolver esse impasse, a prefeitura fez um termo de ajuste de conduta com os órgãos ambientais desenvolvendo um projeto sustentável. Depois de um estudo sério, levando em consideração o meio ambiente e as reais necessidades dos moradores, três projetos foram apresentados para mais de seiscentas pessoas que participaram da Audiência Pública: uma opção que deixava a orla como estava, outra que dava continuidade à construção da avenida e uma terceira que sugeria a construção de um calçadão que ofereceria acessibilidade urbana e preservação ambiental. Com 96% dos votos, o parque-calçadão venceu, dando início à obra-símbolo de um governo marcado pelos benefícios do Orçamento Participativo.

“Como eu, alguns moradores já sabiam que um calçadão era da maior necessidade, mais até que a avenida, porque a cidade não dispõe de espaço para parques e praças”, diz Ambrósio Kniess, que vive no município desde 1987, é presidente fundador da Confederação dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Itapema e participou da Audiência Pública.

Projeto aprovado, era hora de somar esforços para arrecadar a verba necessária para dar início aos trabalhos, o que foi possível graças a uma parceria entre Ministério do Turismo e governos federal e municipal.

Democratização do acesso

Antes do parque-calçadão, somente os moradores da beira-mar tinham o privilégio de desfrutar a orla. A estreita faixa de areia era o único espaço de socialização, mas ficava comprometido em dias de chuva ou de maré alta. Convencer algumas pessoas a abrir mão de um benefício exclusivo em troca do bem comum foi, sem dúvida, um desafio. “Tinha gente que mantinha um jardinzinho dentro da área da União e não queria recuar”, relata o prefeito.

Esses moradores questionavam a legalidade de ceder aquele espaço, mesmo diante de um acordo, até então inédito no Brasil, que permitia ao município o uso sem custo daquelas terras que estão em área da Marinha. Esse documento foi uma das questões mais demoradas a ser resolvidas, por conta de toda a burocracia que envolvia. Foram quase dois anos até que todos os entraves estivessem solucionados. A parceria com o Ministério Público e o Poder Judiciário foi fundamental para a continuidade do trabalho. “Agora temos a maior praça longitudinal ao ar livre cedida pela União ao município”, comemora Bussanello.

E o resultado foi amplamente aprovado pela população. “A praia ficou maior. Além da faixa de areia, podemos aproveitar um espaço que antes pertencia aos prédios e casas que se estendiam até a orla”, afirma a dona de casa Magdalena Machry, que faz caminhadas diárias na beira da praia.

O parque oferece espaço para lazer, saúde e convivência. Dona Valkíria e seu Célio Eccel sempre passeiam no calçadão com a neta Gabriele, de 1 aninho. O casal de aposentados mora na cidade de Brusque, a 70 quilômetros de distância, e tem casa em Itapema há mais de vinte anos. “Agora é uma maravilha”, dizem eles quando perguntados sobre os benefícios do parque. As transformações do local fizeram com que as vindas à praia ficassem cada vez mais frequentes e mais prolongadas. Os passeios com a neta pelo calçadão são quase um compromisso diário. “É bom ter um local com segurança. Tem os bancos para sentar e conversar olhando para o mar, tudo muito bonito e bem-cuidado”, afirmam.
A preocupação com a qualidade de vida também está presente em academias de ginástica ao longo da via, que oferecem equipamentos para a prática de exercícios físicos. Uma ciclovia percorre toda a orla. Bancos estão dispostos no trajeto, decks de madeira avançam pela faixa de areia e a ampla iluminação permite que o dia não tenha hora para acabar.

Prefeitura de Itapema investe na qualidade de vida

“As mudanças interferiram positivamente na vida de muita gente. Agora ninguém tem mais desculpa para ficar em casa”, diz Vera Lúcia Tillmann. Ela é diretora da Secretaria de Esporte e participa do grupo de caminhada orientada do programa “Itapema Mais Ativa”. A iniciativa é um trabalho conjunto das Secretarias de Esporte e Cultura e de Saúde e oferece atividades e acompanhamento profissional à terceira idade. O programa funciona desde 2008, é gratuito e aberto a toda a população.

Muitas das atividades do grupo são realizadas no calçadão. “De março a novembro, todos os dias tenho uma atividade. Pode ser caminhada, ioga, ginástica ou dança. Vamos inclusive a outras cidades representar Itapema em campeonatos. Os professores são muito bons e atenciosos, nos ajudam a cuidar da saúde através da prevenção e da preocupação com o bem-estar”, diz o aposentado Natal Gomes, que tem 66 anos e mora há dois em Itapema. “Eu vim visitar e não quis mais voltar”, declara.

Mas não são só os idosos que reconhecem os benefícios da obra. Ayrton Justino Silva Junior, mais conhecido como Junior Andorinha, empresário e ex-vereador, é o braço direito nos negócios do pai, que tem uma imobiliária e construtora há quase trinta anos em Meia Praia. A princípio, Júnior preferia o projeto que contemplava o trânsito de veículo. Segundo ele, a possibilidade de trafegar de carro com vista para o mar talvez pudesse valorizar ainda mais os imóveis na orla. Mas, hoje, admite que a atual estrutura tem 100% de aprovação. “Agora, não mudaria nada no parque-calçadão, porque já é um benefício incorporado pela população”, pondera. Para o empresário, os maiores ganhos são a acessibilidade e a promoção da igualdade, uma vez que qualquer pessoa pode usufruir o lugar.

Sustentabilidade

A preocupação com a preservação do meio ambiente está presente em todos os aspectos do projeto. A madeira utilizada nos decks é de reflorestamento. Os bancos são autoclavados para aumentar a durabilidade e feitos a partir de garrafas plásticas recicladas. A iluminação é focada para não atrapalhar a vida marinha, além de ser eficiente, iluminando mais e consumindo menos. Ao longo de toda a via, foram plantadas árvores nativas da Mata Atlântica e recuperada a vegetação de restinga junto à areia da praia. O calçamento tipo paver (montado com blocos pré-moldados de concreto) contribui para o escoamento da água e os postos dos bombeiros e salva-vidas foram construídos reaproveitando material de demolição.

Além disso, desde a posse da gestão petista, obras em infraestrutura em toda a cidade foram iniciadas, trazendo mudanças significativas para a vida da população. Em 2007, na Meia Praia, a instalação da rede esgoto eliminou uma das principais causas de poluição e de transtorno para os moradores e turistas. Outro problema grave era a falta de água que atrapalhava a vida das pessoas todo verão. Para solucioná-lo, lagoas naturais foram criadas para captar a água da chuva e garantir o fornecimento através da estação de tratamento e distribuição.

A valorização da cultura local é outro ponto que ocupa lugar de destaque. Pensando nisso, um mercado público foi construído com espaço para apresentações artísticas e comércio de artigos típicos, peixe, frutas, verduras e refeições rápidas. “Assim dá gosto pagar o IPTU, porque a gente pode ver o imposto se transformar em benefício. Em poucos anos a beira da praia foi melhorada, o esgoto foi resolvido, além da água que nunca mais faltou”, dizem dona Valkíria e seu Célio Eccel, cheios de orgulho da cidade que está sendo construída para as próximas gerações.

Camila Stähelin e Fernanda Schneider são jornalistas.