A cidade de Assis, na Itália, irá sediar em março de 2020 o encontro Economia de Francisco, que reunirá jovens economistas para debater e elaborar propostas para uma nova agenda econômica mundial. O encontro foi convocado pelo papa Francisco em carta lançada, não à toa, no dia 1º de maio de 2019. A convocatória abrange jovens economistas das áreas de pesquisa acadêmica, empreendedores e ativistas – um entendimento, portanto, amplo e não corporativista da categoria. A carta do papa Francisco se destina a economistas “interessados em um tipo diferente de economia: aquele que traz vida, não morte, que é inclusivo e não exclusivo, humano e não desumanizado, que cuida do meio ambiente e não o superexplora”. Trata-se, portanto de um chamado que visa reunir ecumenismo, ecologia e economia.
Também não foi fortuita a escolha da cidade de Assis, referida pelo papa como símbolo da fraternidade humanista e eleita pelo papa João Paulo II como ícone da cultura da paz. A Economia de Francisco pode ser vista como um dos desdobramentos da encíclica Laudato Sí – “Sobre o cuidado da casa comum”, publicada em 2015. Documento rico e revolucionário a respeito da ecologia, que assume uma perspectiva ampla e integrada entre seres humanos e todas as demais formas de vida abrigadas pela Mãe Terra.
Assis receberá os jovens durante três dias de atividades, debates, oficinas e palestras, que já têm entre as participações confirmadas os vencedores do prêmio Nobel de economia Muhammad Yunus e Amarthya Sen e figuras de destaque como Bruno Frey, Tony Meloto, Carlo Petrini, Kate Raworth, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva e Stefano Zamagni.
Apesar de data oficial do encontro ser março de 2020, a mobilização e os debates já começaram e estão sendo fortemente incentivados pelo Vaticano. Assim, no caso do Brasil, foi criada a Articulação Brasileira para a Economia de Francisco, com vistas a promover e desdobrar o chamado do papa Francisco no Brasil. A Articulação Brasileira realizou seu primeiro encontro nacional em 18 e 19 de novembro de 2019 na PUC-SP. O encontro reuniu jovens que devem estar presentes em Assis e elaborou uma carta firmando os apontamentos do Brasil para a Economia de Francisco.
A mesa de abertura teve a presença de Michael Lowy e na sequência foram realizados dois painéis com os temas “As bases para uma economia não capitalista” e “Bases para a construção de um novo currículo para os cursos de economia”. Em seguida, seis temas animaram as rodas de conversa: Economia; Finanças; Desenvolvimento; Educação; Redes; e Formas de organização. O encontro também sediou dois painéis de boas práticas para discutir os temas da economia solidária, cooperativismo, bancos comunitários, agroecologia e orçamento participativo. Além do encontro nacional, reuniões regionais têm sido organizadas, com o mesmo intuito de debater e elaborar propostas para uma nova agenda econômica para o país.
Vemos, portanto, que a iniciativa do papa Francisco já está dando frutos. Mais uma boa surpresa de seu papado, que desta vez confere responsabilidade ao mesmo tempo em que demonstra confiança e esperança nas juventudes. Trata-se de um chamado para repensarmos o mundo em que vivemos, nossa relação com a Casa Comum, com a Pachamama e uma oportunidade para revermos os padrões morais, econômicos e políticos que organizam nossas sociedades.
Será um espaço de reflexão e elaboração sobre as transformações nas relações, condições e na própria natureza do trabalho no mundo de hoje e também sobre a forma como produzimos e distribuímos renda e riqueza entre países e classes sociais, entre mulheres e homens, entre negros, indígenas e brancos.
Luiza Dulci é militante da JPT, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. É economista (UFMG), mestre em Sociologia (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura (UFRRJ)