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Essas eleições constituem um teste decisivo para as forças de oposição ao neofascismo. Não podemos contribuir para disseminar a cizânia. Devemos responder à altura com dados. É disso que se trata

Ao PT, na condição de maior partido da esquerda no Brasil, requer-se estar preparado para as críticas, capacitado a recebê-las sem reações intempestivas ou mal-humoradas.

Não pode, no entanto, não deve calar-se diante delas. Quando reagir, conveniente seja com dados. Matando a cobra, mostrando o pau, e a cobra morta.

Se há críticas justas, há outras azedas, rabugentas, fundadas em preconceitos no melhor dos casos, ou em posições políticas destinadas a desgastar o partido. Se pela direita ou pela extrema-direita, não há surpresa.

Se pela esquerda, equívoco ou disputa de espaço. Aí cabe ajudar a corrigir o erro e mostrar o quanto as forças de esquerda precisam estar unidas nessa conjuntura.

A disputa de espaço quando houver, melhor seja feita com o máximo de respeito.

Um mantra espalha-se: o PT não quer unidade com ninguém. Só quer saber de si mesmo. Não se deve aceitar isso, porque falso, absolutamente falso.

Em três capitais, o PT faz aliança com o PSOL nessas eleições. Em outras três, com o PCdoB. Em cinco, com a Rede. Em duas, com o PSB.

O PT apoia 173 candidatos do PDT e o PDT apoia o PT em 134 cidades.

Chega a 140 o número de candidatos do PSB apoiados pelo PT. E o PSB apoia 117 candidaturas do PT.

O PCdoB é apoiado pelo PT em 45 municípios e apoia o PT em 152 cidades.

O PT apoia candidatos do PSOL em 16 municípios e recebe apoio do PSOL em 50 cidades.

A Rede é apoiada pelo partido em 13 municípios e apoia o PT em 29.

Há um óbvio esforço de unidade do partido com as forças de esquerda, como, sem dúvida, esforço de todos esses partidos.

Esses dados foram divulgados pelo deputado federal José Guimarães (PT-CE), coordenador nacional do Grupo de Trabalho Eleitoral do partido, no artigo "O PT e as eleições de 2020".

Essas eleições constituem um momento essencial de acumulação de forças numa situação de defensiva das forças democráticas, progressistas e de esquerda.

Há um governo neofascista no poder, cujas movimentações indicam capacidade de unir o centro, atrair algumas instituições, envolver o Congresso, apoiar-se na mentalidade conservadora da sociedade brasileira.

Essas eleições constituem um teste decisivo para as forças de oposição ao neofascismo.

Não podemos contribuir para disseminar a cizânia, ao contrário. Trata-se de reforçar nossa unidade, e com isso, sendo vitoriosos, sairmos da defensiva, e abrirmos caminho para a vitória em 2022.

Há quem argumente não haver relação entre eleições municipais e as eleições para governador e presidente. Sempre há.

Unidos, considerando singularidades, cláusulas de barreira, necessidade de lançamento de candidaturas a vereador, fortalecimento de cada partido, sabendo caminhar em meio a disputas onde elas acontecerem, podemos acumular forças.

A luta pela democracia, o combate ao neofascismo, passam também por essas eleições municipais, e a esquerda deve ter sabedoria nesse enfrentamento.

Não engolir eventuais azedumes, não dar bola para provocações da direita e extrema-direita.

Seguir adiante.

Vencer em 2020 para conquistar a presidência em 2022.

 

Emiliano José é jornalista e escritor, autor de Lamarca: O Capitão da Guerrilha com Oldack de Miranda, Carlos Marighella: O Inimigo Número Um da Ditadura Militar, Waldir Pires – Biografia (v. I), entre outros