Política

Com a eleição e posse de Dilma, a mudança continua, mas a disputa também.

O PT ganhou sua terceira eleição presidencial, mas enfrenta dificuldades para hegemonizar o processo.

Primeira dificuldade: a crescente distância entre a influência do PT e nossa capacidade efetiva de direção.

Segunda: o empobrecimento de nossa elaboração ideológica, programática e estratégica. É preocupante o descompasso entre a complexidade das questões postas diante de nós, vis-à-vis nossa capacidade de refletir coletivamente sobre esses assuntos.

Terceira: o processo de “normalização” do PT, de integração ao establishment. Durante muitos anos, o PT cumpriu um papel civilizatório na política brasileira. Por diversos motivos, entre os quais o financiamento privado, fomos nos adaptando a certos hábitos e costumes da política brasileira. Isso ajuda a explicar alguns dos motivos pelos quais uma parcela da juventude não se identifica mais conosco. Precisamos de práticas distintas, combinadas com projeto de futuro, ideologia, visão de mundo, programa transformador. Senão, teremos inclusive problemas eleitorais, pois logo, logo não adiantará muito comparar nosso governo com o passado, pois para os mais jovens nós também fazemos parte do passado.

Nossa integração ao establishment não é decorrência automática de nossa conversão em partido de governo. Nossos governos podem ser inovadores e atraentes; mas nossas instâncias partidárias geralmente têm se transformado em “agências reguladoras” de nossa participação nas eleições, controladas por esquemas cada vez mais tradicionais.

A quarta dificuldade: nossa relação com os aliados e as regras do jogo. Precisamos de aliados para vencer eleições e para governar. Mas, nas atuais regras do jogo, a política de alianças não parece contribuir para um salto no tamanho de nossas bancadas parlamentares e no número de nossos governos estaduais. Isso, mantidas as atuais regras do jogo, nos condena a um teto, a um limite de crescimento. E, sem maioria de esquerda no Congresso, perde sentido a discussão sobre reformas profundas pela via institucional.

Com a eleição e posse de Dilma, a mudança continua, mas a disputa também. Continua a nossa disputa contra o neoliberalismo. Continua a nossa disputa contra o desenvolvimentismo conservador. E continua a disputa deles contra o PT.

Disputa que vamos vencer, se abandonarmos as ilusões no inimigo, a defensividade absoluta e certo medo de sustentar nossas posições históricas, especialmente os quatro temas prioritários para 2011: a reforma política, a democratização da comunicação, a reforma tributária e a reorganização do PT enquanto partido socialista de massas.

A disputa contra o PT é uma disputa em torno do conteúdo da mudança que está em curso no Brasil. É uma disputa de hegemonia. E disputar hegemonia não é igual a fazer concessão, não é igual a ceder ou a recuar sempre. Disputar hegemonia é o contrário disto. Disputar hegemonia é travar uma luta cotidiana e permanente em defesa dos nossos valores, do nosso projeto socialista, para o mundo e para o Brasil.

(Versão resumida do texto “Comemorar muito, mas de sandálias”)

Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT