Só com greves e muitas manifestações a classe trabalhadora conquistou a redução da jornada de 14 para 8 horas diárias, em 1886
Só com greves e muitas manifestações a classe trabalhadora conquistou a redução da jornada de 14 para 8 horas diárias, em 1886
A massa de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil tem uma jornada extenuante, chegando a 15 horas diárias em algumas capitais. O 1º de Maio não é dia de shows nem sorteios de carros pagos com o dinheiro do patrão. Não podemos enganar e esconder a história da classe trabalhadora: só é possível reduzir jornada e garantir o fim do fator previdenciário com manifestações, lutas e greves
O Dia do Trabalhador foi estabelecido há 125 anos pela Segunda Internacional Socialista, em congresso realizado em Paris que reuniu os principais partidos socialistas e sindicatos de toda a Europa e do mundo. Ao escolher o dia 1º de maio, os participantes prestaram homenagem aos operários dos Estados Unidos que três anos antes haviam organizado uma grande jornada de luta por melhores condições de vida e de trabalho. Foram cerca de 1.500 greves em todo o país. As paralisações de 1886 tinham como centro da pauta a redução da jornada de 14 para 8 horas diárias.
Depois de dois dias de manifestações, seis operários foram mortos. Com a continuidade da greve, a repressão aumentou, e dezenas de trabalhadores foram mortos, milhares acabaram presos e seus sindicatos incendiados. Essa jornada de lutas resultou ainda em oito dirigentes sindicais condenados – cinco à forca, dois à prisão perpétua e um a quinze anos de prisão.
A homenagem feita a eles pela Segunda Internacional Socialista foi a convocação da classe trabalhadora do mundo para uma greve geral no 1º de Maio de 1890, o que se tornou uma tradição no movimento operário internacional a partir de então. Portanto, o 1º de Maio é dia de luta, é dia dos trabalhadores, e não do trabalho, como divulga a grande imprensa paga pelos patrões. Os significados e as grandes manifestações a cada ano conferiram importantes conquistas para a classe trabalhadora do mundo e o estabelecimento no calendário cristão como feriado mundial.
Os trabalhadores e trabalhadoras do mundo coerentes com essa tradição de luta celebraram o 1º de Maio de 2014 com muitas manifestações e greves. A crise capitalista iniciada em 2008 nos EUA e agravada principalmente na Europa impõe maior radicalização dos trabalhadores em manifestações massivas contra seus efeitos e o desemprego nessas regiões. Com grandes contingentes da juventude desempregada, redução de aposentadorias, salários e conquistas sociais, o Estado de Bem-Estar Social encolhe cada vez mais.
A classe trabalhadora e seus filhos se veem pagando por uma crise sem precedentes que não causaram, especialmente na Europa.
No Brasil, como na América Latina, a crise chegou e tem se comportado com menor intensidade que nos EUA e na Europa. Contudo, os velhos problemas de concentração de renda, desigualdades, miséria e fome continuam. A ganância do capitalismo nessa região do mundo ainda explora trabalho escravo e infantil; as trabalhadoras domésticas ainda não conquistaram a equiparação de direitos em relação aos demais trabalhadores. A massa de trabalhadores e trabalhadoras no Brasil tem uma jornada extenuante, chegando a 15 horas diárias em algumas capitais, somado o tempo de deslocamento de casa para o trabalho. Além disso, muitos enfrentam condições precárias de trabalho, com um número crescente de acidentes, a terceirização, a flexibilização, as demissões sem justa causa, o assédio moral e sexual.
Por tudo isso, o 1º de Maio é dia de luta, greves e mobilizações. Não é dia de shows nem sorteios de dezenas de carros pagos com o dinheiro do patrão. Não podemos enganar e esconder a história da classe trabalhadora: só é possível reduzir jornada e garantir o fim do fator previdenciário com manifestações, lutas e greves.
No Brasil, temos motivos de sobra para isso. A CUT e demais centrais sindicais entregaram uma pauta no ano passado à presidenta Dilma Rousseff com onze pontos: redução da jornada de 44 para 40 horas semanais sem redução de salário, fim do fator previdenciário, reforma agrária, igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, A valorização dos aposentados, aplicação de 10% do PIB na educação, aplicação de 10% do Orçamento da União na saúde, correção da tabela do imposto de renda, ratificação da Convenção 158 da OIT, que impede a demissão sem justa causa, regulamentação da Convenção 151 da OIT, que estabelece a negociação coletiva no serviço público, e ampliação dos investimentos públicos.
Como a classe trabalhadora nunca obteve conquistas sem lutar, é preciso pressionar o governo Dilma, os governos estaduais e os patrões. Não podemos gerar ilusão na classe, pois não haverá concessão nem bondade da parte deles para atender aos onze itens reivindicados. A perspectiva é aumentar a temperatura da luta e o volume da nossa voz. Já ensinavam nossos companheiros e companheiras que tombaram nas greves e lutas de 1886: só com muito sangue, suor e lágrimas foi possível conquistar a redução da jornada de trabalho de 14 para 8 horas diárias.
Vamos à luta!
Viva a classe trabalhadora do mundo!
Expedito Solaney é secretário Nacional de Políticas Sociais da Central Única dos Trabalhadores