Política

A nova realidade política exige um ministério mais coeso e articulado, o que inclui substituir quem não correspondeu às expectativas e redistribuir forças dentro do governo.

Passados dois anos do início da gestão do presidente Lula 3, e após as eleições municipais e a definição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, o governo se vê diante da necessidade de avaliar o desempenho de seus ministros e promover uma reforma ministerial. O objetivo é aprimorar a gestão e ajustar o ministério à nova correlação de forças políticas, reflexo das mudanças nas prefeituras, câmaras de vereadores e na direção das Casas do Congresso Nacional.

No início do governo, o núcleo duro do Planalto era composto exclusivamente por petistas, enquanto a área social era ocupada pelo núcleo ideológico da coalizão. A economia ficou a cargo de um perfil social-liberal, e os demais ministérios foram distribuídos entre os partidos da base aliada, incluindo siglas de centro e centro-direita, como PSD, Republicanos, União Brasil e MDB. Agora, a tendência é que o governo abra mais espaço no núcleo duro para não petistas, embora o PT continue majoritário. O mesmo deve ocorrer nos ministérios da área social, com a inclusão de partidos mais à direita e ao centro da coalizão. Para os demais cargos, é natural que haja uma ampliação da participação de partidos de centro e centro-direita, refletindo os resultados das eleições recentes.

Esse rearranjo visa não apenas adequar o governo à nova configuração política, mas também melhorar a gestão, fortalecer o apoio no Congresso e sinalizar alianças estratégicas para 2026. Lula precisa identificar, desde já, quem estará ao seu lado no próximo pleito presidencial, valorizando e empoderando aqueles que marcharão com o governo.

A relação do Executivo com o Congresso, que será reforçada com a reforma ministerial, se dará em novas bases, especialmente pelo perfil dos novos presidentes da Câmara e do Senado. No biênio 2023/2024, o governo conviveu com um presidente da Câmara que exercia controle centralizado sobre os líderes partidários, enquanto o presidente do Senado adotava uma postura mais dialogada, porém com menos controle. Agora, a situação se inverte: a tendência é que a relação com a Câmara seja menos conturbada, enquanto no Senado pode haver menor cooperação, sem, contudo, comprometer a governabilidade.

Nesse contexto, a reforma ministerial representa uma oportunidade para Lula ir além da mera acomodação de interesses políticos. É o momento de reforçar a base de apoio no Congresso e na sociedade, promovendo mudanças que melhorem a qualidade da gestão, essencial para a sustentação do projeto de governo. Para isso, é necessário um diagnóstico detalhado da atuação dos atuais ministros, avaliando tanto as entregas de cada pasta quanto a capacidade de defesa do governo como um todo. Esse balanço permitirá identificar quem permanece e quem será substituído.

O papel de um ministro combina duas dimensões fundamentais: a de gestor e a de representante político. Como gestor, exige-se capacidade de liderar equipes e conhecimento técnico na área de atuação. Já como representante, cabe ao ministro legitimar e defender a agenda do governo, transmitindo confiança e credibilidade em suas manifestações públicas. Essa função é estratégica, especialmente em tempos de polarização.

Ao escolher seus auxiliares, Lula considerou critérios como lealdade, competência, representatividade partidária, regional e de gênero. No entanto, após dois anos de governo, é necessário ajustar rumos. A nova realidade política exige um ministério mais coeso e articulado, o que inclui substituir quem não correspondeu às expectativas e redistribuir forças dentro do governo.

A troca do titular da Secretaria de Comunicação (Secom) já sinaliza essa preocupação. O governo busca uma comunicação mais assertiva, capaz de combater desinformação e fake news, além de melhorar o marketing governamental para conquistar corações e mentes. Embora o ideal fosse impor um padrão uniforme aos partidos da base aliada, nem sempre isso é viável. Ministros que combinam lealdade, agilidade, criatividade e eficácia são raros, mas exemplos positivos, como o titular da Advocacia-Geral da União, mostram que é possível aliar competência técnica a compromissos democráticos.

Com sua experiência e habilidade política, Lula tem condições de promover uma reforma ministerial que equilibre competência, articulação política e compromisso com as diretrizes do governo. Ao ajustar sua equipe, desde que a coalizão não imponha nomes incompatíveis com esse perfil, o presidente poderá fortalecer sua base de apoio e construir um legado que fortaleça a credibilidade do governo e do projeto político que representa.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. É sócio-diretor da empresa “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais”, foi diretor de Documentação do Diap e é membro da Câmara Técnica de Transformação do Estado, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República – o Conselhão.