Além das merecidas comemorações, o aniversário de 45 anos do PT exige de nós uma reflexão sobre o futuro. Um futuro de enormes desafios não apenas para o Brasil, mas para toda a humanidade:
A crescente digitalização do trabalho, o avanço das Big Techs, as incertezas quanto à Inteligência Artificial, a concentração cada vez maior de renda nas mãos de poucos, a emergência climática e a ascensão da extrema-direita no mundo.
Antes de tudo, cabe lembrar que o enfrentamento de grandes desafios é parte indissociável da história do PT.
Nascemos durante a ditadura militar, crescemos no neoliberalismo, atravessamos as tentativas de desmonte do Estado, a perseguição judiciária ao partido, o golpe de 2016, a poderosa máquina de espalhar desinformação e fake news, o permanente ódio das elites e de seus representantes na grande mídia.
Perdemos a conta de quantas vezes decretaram a morte do PT. Apesar de tudo, chegamos aos 45 anos vivos e fortes. Sem renunciar aos valores que nos trouxeram até aqui, seja no governo ou na oposição: a defesa intransigente da democracia e da soberania do Brasil, a busca pelo desenvolvimento econômico com inclusão social, o combate à fome e a todas as formas de desigualdade.
Nenhum desafio é maior do que a nossa capacidade de luta e resistência.
Tenho recomendado aos companheiros e companheiras a leitura do Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores, escrito há 45 anos.
Não se trata de propor uma volta ao passado. O país mudou nos últimos anos. Precisamos responder a essa nova realidade e apontar para o futuro.
Mas tão importante quanto sabermos para onde vamos é jamais esquecermos de onde viemos. O PT precisa estar, mais uma vez, à altura de suas origens.
Cito um trecho do nosso Manifesto:
“O PT quer atuar não apenas nos momentos das eleições, mas, principalmente, no dia a dia de todos os trabalhadores.”
No final de 2024, tive a oportunidade de participar do seminário “A realidade brasileira e os desafios do Partido dos Trabalhadores”, promovido pelo PT e a Fundação Perseu Abramo. Na ocasião, fiz o seguinte alerta:
“Se a gente não discutir política dentro da fábrica, do comércio, no bairro, se a gente aparecer nos bairros apenas de quatro em quatro anos para pedir voto, nós estaremos sendo iguais a qualquer partido nesse país. Nós não nascemos para ser igual, nascemos para ser diferente”.
Volto ao Manifesto de Fundação do PT, quando ele diz que somente estando presente no dia a dia do trabalhador “será possível construir uma nova forma de democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam tomadas pelas maiorias.”
Isso nos coloca diante das seguintes questões:
Estamos de fato presentes no dia a dia do trabalhador? Estamos de fato ouvindo os trabalhadores, ou apenas falando em nome deles? Estamos de fato construindo uma nova democracia, ou correndo para apagar o incêndio quando a democracia é ameaçada, a exemplo do 8 de janeiro de 2023?
Precisamos estar atentos às novas formas de comunicação, ocupar as redes sociais, usar os algoritmos a nosso favor, rebater as fake news com a maior agilidade possível.
A verdade tem que vencer a mentira também no ambiente digital.
Mas, se o campo de batalha hoje é outro, a luta de classes continua a mesma.
Por isso, precisamos ser também “analógicos”, no sentido de percorrer de novo o Brasil, ocupar as ruas, conversar com as pessoas nos bairros, igrejas, locais de trabalho, movimentos sociais, universidades.
Jamais perder de vista a sabedoria do povo brasileiro.
Precisamos de mais apertos de mãos, mais conversas olho no olho, mais sorrisos e mais abraços.
Porque o afeto vale mais do que mil algoritmos.
Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República Federativa do Brasi