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É fundamental compreender que a sucessão de 2026 não será decidida apenas nas urnas, mas antes nos algoritmos e nas redes. Quem entender essa dinâmica e conseguir mobilizar corações e mentes no ambiente digital terá uma vantagem decisiva.

Nunca foi tão difícil governar com a verdade. O governo Lula III enfrenta não apenas desafios administrativos, mas verdadeira guerra de narrativas. Realizações concretas e políticas públicas em benefício da população são sistematicamente ofuscadas por uma máquina de desinformação que atuar de forma coordenada, explorando as vulnerabilidades e limitações da comunicação oficial. A batalha é travada em um ambiente onde a viralização de conteúdos simplificados e emocionais se sobrepõe ao discurso institucional. E o objetivo final é claro: minar a credibilidade do governo, fomentar insatisfação e criar um cenário desfavorável para a sucessão presidencial de 2026.

No Brasil, consolidou-se uma verdadeira indústria de crise. Algumas são reais, outras cuidadosamente fabricadas. Muitas das turbulências que ganham destaque público não surgem espontaneamente de falhas administrativas, mas são habilmente construídas por setores da oposição, que atuam de forma articulada no mercado financeiro, no cenário político e nos meios de comunicação, com forte ênfase nas redes sociais. Essa estratégia visa não apenas desgastar o governo, mas também desviar o foco de suas conquistas e promover um ciclo permanente de desgaste.

Como bem aponta a deputada Gleisi Hoffmann, ministra de Relações Institucionais (SRI), "mesmo quando o governo comunica medidas positivas, elas acabam ofuscadas pela gestão constante de crises". Essa dinâmica aprisiona o governo em uma lógica reativa, onde se corre atrás de narrativas negativas enquanto avanços reais e entregas concretas perdem espaço no debate público. A narrativa dominante, assim, não é construída sobre políticas públicas e entregas concretas do governo, mas sobre problemas, reais ou fictícios.

A recente crise do INSS é um exemplo emblemático. Um escândalo real, o desvio de bilhões de reais por servidores e associações criminosas, foi imediatamente convertido em uma arma narrativa contra o governo, mesmo que a atual gestão tenha trazido o problema à luz do dia, e atuado para punir os responsáveis e ressarcir os prejudicados. O detalhe de que a origem do problema remonta ao governo anterior foi omitido ou minimizado pela oposição, que explorou o episódio para alimentar o descontentamento popular.

Outro caso ilustrativo foi a propagação de fake news sobre a suposta "taxação do Pix", além da manipulação em torno da revisão do IOF. No caso do Pix, a medida visava coibir lavagem de dinheiro e o financiamento de atividades ilegais, mas foi distorcida como um ataque direto aos trabalhadores informais. Já a revisão do IOF tinha como alvo milionários que utilizavam o PGBL como estratégia de elisão fiscal, mas foi propagada como um aumento de impostos para a classe média.

A estratégia é sempre a mesma: distorcer medidas complexas e transformá-las em slogans virais, mobilizando o medo e o ressentimento popular. E esse tipo de comunicação funciona porque explora o desconhecimento da população sobre detalhes das políticas públicas, aliada à dificuldade do governo em comunicar suas ações de forma simples, emocional e impactante.

A comunicação oficial, frequentemente técnica e institucional, não consegue competir com a viralização de conteúdos que exploram o medo e a indignação. Como alerta Alek Maracajá, especialista em Big Data e estratégia digital, autor do livro Brasil Digital: Nas Entrelinhas da Polarização Política, "é essencial que o governo adote uma abordagem mais orgânica e humanizada, priorizando plataformas como WhatsApp, TikTok e rádios comunitárias, que possuem maior penetração em camadas populares. Lives espontâneas, vídeos curtos com linguagem acessível e memes bem planejados podem ajudar a desmontar fake news e aproximar a população das medidas governamentais."

Além disso, é urgente a criação de núcleos de monitoramento em tempo real para identificar zonas críticas de desinformação e reagir antes que narrativas falsas se consolidem. Ministros e lideranças governistas devem atuar como embaixadores digitais e territoriais, participando de eventos locais e utilizando suas redes sociais para engajamento direto. A comunicação não deve se limitar a divulgar números e estatísticas; deve contar histórias, emocionar e criar identificação.

Mais do que reagir, o governo precisa antecipar crises e construir uma narrativa positiva que conecte suas conquistas com as aspirações da população. A comunicação deve ser proativa, ágil e emocionalmente inteligente. É fundamental compreender que a sucessão de 2026 não será decidida apenas nas urnas, mas antes nos algoritmos e nas redes. Quem entender essa dinâmica e conseguir mobilizar corações e mentes no ambiente digital terá uma vantagem decisiva.

A batalha pela percepção pública já está em curso. A comunicação digital, se bem utilizada, pode ser a chave para garantir que os avanços do governo não sejam sufocados pelas manipulações da oposição. É crucial evitar que fake news e narrativas distorcidas afetem a legitimidade e atinjam negativamente a imagem do governo Lula III, especialmente nesse período que antecede à sucessão presidencial.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. Sócio-diretor da empresa Consillium Soluções Institucionais e Governamentais, ex diretor de Documentação do Diap e membro da Câmara Técnica de Transformação do Estado, do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República, o Conselhão.