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Uma nova onda internacional se formou: escassez e aumento dos preços de alimentos, de commodities e de energia.

Uma nova onda internacional se formou. É composta de escassez e de aumento dos preços de alimentos, de commodities e de energia. Atinge a todos, mas de forma diferenciada. Nos países pobres o golpe é sentido nos alimentos e nos ricos nas commodities e na energia. A todos a onda impõe uma inflação mais elevada.

A questão em debate é como essa onda nos atinge e o que devemos fazer.

Nos últimos cinco anos, o controle da inflação se deu pela desvalorização do dólar, o que permitiu a importação de mercadorias mais baratas, pois sobravam dólares das exportações turbinadas pela expansão do comércio mundial, pelos preços das commodities e pelo direcionamento de vendas a países emergentes.

Ao mesmo tempo, políticas de estímulo ao consumo aumentaram as importações, a tal ponto que nossas contas externas nos três primeiros meses deste ano acusaram déficit de US$ 10,7 bilhões, um recorde para o período. Isso deveria desvalorizar o real, mas ocorreu o inverso em conseqüência do forte ingresso de capitais estrangeiros estimulado pelo ciclo de elevação da taxa de juro iniciado pelo Banco Central, pelos investimentos estrangeiros na produção e pela obtenção do grau de investimento. O câmbio desvalorizado ainda contém, parcialmente, a inflação ameaçada pela nova onda. Em contrapartida, pioram as contas externas.

O Banco Central acredita que a inflação, pois reduzirá o que considera excesso de consumo e influenciará as expectativas dos agentes econômicos. Não se preocupa com o câmbio e com as contas externas, pois sua finalidade é só o controle da inflação.

O Ministério da Fazenda aposta em medidas para estimular a produção e as exportações com a criação do fundo soberano e da nova política industrial. A finalidade do fundo soberano é retirar a sobra de dólares pelo Tesouro Nacional, usando o excesso de arrecadação. O fundo será usado para financiar a expansão de nossas empresas no exterior a juros menores, porém superiores aos obtidos pelo Banco Central nos títulos do Tesouro americano. Com isso, mantém o câmbio nos níveis atuais, melhora as contas públicas, as exportações e as contas externas.

A nova política industrial vai desonerar os tributos das empresas e ampliar os financiamentos do BNDES a juros mais reduzidos, diminuindo seus custos e ampliando sua competitividade interna e externa.

Que rumo tomar? Os ortodoxos apostam em frear a expansão econômica, que consideram superior à capacidade de produção, exigindo um excesso de importações, e defendem a redução das despesas do governo, que alimentam essa expansão. Outros apostam na capacidade das empresas de atender a expansão, pois vêm ampliando rapidamente sua capacidade de produção, atraídas pelo crescimento do consumo.

A saída preconizada pelos ortodoxos fez a economia patinar de 1980 até 2005, com crescimento médio de 2,5% ao ano. A partir de 2006, nota-se uma inflexão na política econômica com a queda dos juros, a expansão dos empréstimos, o fortalecimento do salário mínimo, a elevação das despesas na área social e a consolidação dos empréstimos consignados. O resultado foi uma mudança nas taxas de crescimento econômico para o dobro da ocorrida na fase da ortodoxia. A partir de 2007, estímulos à construção civil e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ampliaram o alcance dessas políticas.

A ameaça de retomada da inflação importada pela nova onda põe em xeque essa nova política, e os arautos da ortodoxia querem o retorno às velhas teorias do piso no freio. Parece que o governo vai continuar na política de expansão econômica, mantendo inalterados os estímulos à demanda e concentrando esforços para o crescimento da produção com as medidas mencionadas.

Temos energia, commodities e alimentos em situação privilegiada e com perspectivas de ampliação. Assim, tudo indica que a nova onda será enfrentada à altura de sua força e com armas mais poderosas. Chega de paradas que marcaram nosso atraso em relação aos demais países emergentes. Está na hora de aproveitar nossa posição estratégica e manter o pé no acelerador.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV