Estante

Aqui nestas linhas tortas dormem vagões,
o sono de chumbo dos justos, que ninguém é de ferro.
Ai! os risos, as lágrimas, os acenos que conheci, como a palma da mão,
as moças que amei e perdi.
as que casaram, as que cansaram, as que fizeram caso...
Fumaça, Maria, fumaça que cachimbo nenhum apaga.
Era uma vez uma era.
Aqui a vida transcorre assim,
sem trégua, sem guerra, sem arte
O tempo, pressentem, talvez fosse o trem
que carrega todo o mundo, até o cachorro
O tempo, pressentem, talvez fosse a linha,
que chega onde ninguém nunca viu.
O tempo, pressentem, talvez fosse a estação,
onde a gente desce, os outros não.
Mas a estação, a linha, o trem, pressentem,
são presente do tempo, esse que pressentem...
- E ele, mãe? arrisca o menino, e ela, abaixando, cochicha ao filho.
Então o velho vagão de carga sorri e apita.