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As reformas se voltam para a área trabalhista. Algumas propostas apoiadas pelo empresariado francês são de ampliar a jornada e eliminar as negociações coletivas

Os partidos socialista (centro esquerda) e republicano (direita), que vinham se revezando frente às instituições de governo na França, Presidência e Parlamento, desde a década de 1970, foram fragorosamente derrotados nas eleições presidenciais e parlamentares de 2017. Os socialistas e aliados perderam a Presidência do país e tiveram sua bancada parlamentar reduzida de 286 para 46 deputados. Os republicanos nem chegaram ao segundo turno das eleições presidenciais e também viram diminuir o número de seus parlamentares, passando de 199 para 126.

Além disso, verificou-se um profundo desânimo dos eleitores com a política, conforme demonstraram as altas taxas de abstenção, particularmente no segundo turno das eleições parlamentares, que foram da ordem de 57%.

Quem soube capitalizar esses dois fatores foi o presidente eleito, Emmanuel Macron, que conseguiu apresentar-se como o “novo da terceira via”, embora não fosse um neófito na política e na administração pública, uma vez que foi filiado ao Partido Socialista francês entre 2006 e 2009 e trabalhou no governo de François Hollande entre 2012 e 2016, inicialmente como secretário-geral adjunto e nos dois últimos anos como ministro da Fazenda. Isto é, um jovem de 39 anos, pessoalmente bem-sucedido como sócio do Banco Rothschild e partidário de ajustes liberais na economia com a defesa dos direitos dos setores mais vulneráveis da sociedade francesa, como os LGBT e refugiados.

A chapa de candidatos de Macron ao Parlamento se apresentou com características semelhantes ao ser composta por 50% de mulheres e muitos jovens. Em ambos os casos por pessoas sem experiência legislativa anterior. O resultado da eleição legislativa foi de significativa renovação, pois dos 577 deputados que compõem o Parlamento francês, 432 são novos integrantes e 223 são mulheres. Seu partido, “República em Marcha”, elegeu 308 deputados, equivalente a 53,3% do total, o que lhe permite governar sozinho.

Desde a disputa presidencial, Macron fez uma aliança com o “Movimento Democrático” (MoDem) liderado por François Bayrou, que assumiu o cargo de ministro da Justiça e cujo partido em seguida elegeu 42 deputados em coligação com o “República em Marcha”. Porém, houve uma denúncia de que Bayrou e outros de seu partido teriam utilizado recursos do Parlamento europeu para pagar despesas pessoais e tiveram que renunciar aos seus cargos, atrapalhando assim a intenção de Macron de governar com a participação de ministros da esquerda, centro e direita, pois aparentemente o centrista “MoDem” pode somar-se à oposição ao governo, devido a esse episódio.

A agenda de Macron, conforme revelado durante a campanha eleitoral e atualmente anunciado diariamente pela imprensa, é reformista e defensora da manutenção da União Europeia. Será mais um a apoiar a política de austeridade que tem beneficiado o capital financeiro na Europa.

As reformas se voltam particularmente para a área trabalhista. A justificativa é a queda dos índices de produtividade francesa e a persistente taxa de desemprego, entre 9% e 10%. Algumas propostas apoiadas pelo empresariado francês são de ampliar a jornada de trabalho e eliminar as negociações coletivas por ramo econômico como forma de evitar o estabelecimento de paradigmas de negociação para o conjunto das empresas de cada setor.

No Parlamento francês, Macron enfrentará pouca resistência, salvo a dos 26 deputados da “França Insubmissa”, partido de esquerda liderado por Jean Luc Mélenchon. Porém nas ruas estarão os sindicatos e suas confederações, defendendo seus direitos, o que somado ao perfil diversificado dos deputados do “República em Marcha” poderá proporcionar algumas surpresas e desgastar rapidamente a imagem, hoje positiva, de Macron.

Kjeld Jakobsen é consultor em cooperação e relações internacionais