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As reformas consistem em cortar direitos e gastos sociais, transferir serviço e orçamento para a iniciativa privada, levando ao desmonte da máquina estatal

As reformas do governo Temer têm por objetivo três mudanças estruturais, que serão implementadas por intermédio do novo regime fiscal, da reforma da Previdência e da reforma trabalhista. Elas consistem, essencialmente, em cortar direitos e gastos sociais, transferir patrimônio, serviço e orçamento do Estado para a iniciativa privada, levando ao desmonte da máquina estatal, dos serviços públicos e do que ainda resta de Bem-Estar Social.

A primeira reforma está ancorada no novo regime fiscal, instituído pela Emenda à Constituição (EC) 95/16, que congela, em termos reais, o gasto público por 20 anos. O descumprimento do congelamento provoca o disparo do gatilho do corte de despesas, especialmente com pessoal.

A EC 95 é uma espécie de gazua (pé de cabra) que será utilizada para arrombar a porta e forçar a entrada da agenda de reformas em bases neoliberais, notadamente a reforma da Seguridade Social, cujo orçamento, excluída a despesa financeira, com os juros e amortizações da dívida, é o maior do Orçamento Geral.

Como o congelamento não se dá por rubricas específicas pode haver aumento de despesas específicas, como as da Previdência, por exemplo. Mas o aumento de qualquer despesa forçará o corte de gasto em outra rubrica do orçamento, tais como no investimento, na educação, na saúde ou em outra qualquer. Assim, o crescimento de uma despesa levará, necessariamente, ao corte de outra. É um instrumento para forçar o corte de direitos, especialmente os previdenciários e assistenciais.

A segunda reforma é a PEC 287/16, que trata da Previdência, cujo objetivo é dar efetividade à EC 95. Sem um drástico corte nas despesas previdenciárias, dificilmente o governo conseguirá manter o gasto dentro do orçamento congelado apenas cortando despesa com pessoal, que será o primeiro corte a ser feito quando extrapolar o limite de gasto.

O governo sabe que a despesa com Previdência, depois do gasto com juros e amortizações da dívida, é a maior do orçamento da União, daí a prioridade conferida à aprovação da PEC 287, que toca, em prejuízo do segurado, nos três principais fundamentos do benéficio previdenciário: a idade, o tempo de contribuição e o valor do benefício.

A reforma da Previdência será examinada em uma comissão especial, antes da votação no plenário da Câmara dos Deputados. A indicação do presidente e do relator da comissão já dá a exata dimensão do que pretende o governo. O presidente é o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), da tropa de choque de Eduardo Cunha, e o relator o deputado Arthur Maia (PPS-BA), o mesmo que relatou o projeto de terceirização na atividade-fim das empresas.

A terceira reforma é a trabalhista (PL 6.787/16), que consiste na adoção do legislado sobre o negociado, mas o relator pretende incluir também a terceirização da atividade-fim, a pejotização e o enfraquecimento, via custeio, das entidades sindicais.

O relator da comissão especial que tratará da reforma trabalhista, o deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), é um dos principais defensores da escola sem partido, uma das propostas mais reacionárias em debate no Congresso. Ele votou a favor de todas as propostas neoliberais no Congresso nos seus três mandatos.

A ofensiva na área trabalhista, em nome da melhoria do ambiente de negócio, tem acontecido nos três poderes simultaneamente: Executivo, Legislativo e Judiciário. É preciso denunciar e resistir a esse verdadeiro cerco, que também inclui o setor empresarial.

A pressa é tanta que o presidente da Câmara, logo após ter sido reeleito, anunciou a criação das duas comissões especiais: uma para a reforma trabalhista e outra para a reforma previdenciária. Essas comissões terão prazo de até quarenta sessões (do plenário da Câmara) para concluir seus trabalhos, mas a ordem é iniciar a discussão e votação dos relatórios logo após o encerramento dos prazos de emendas, respectivamente de cinco e dez sessões.

Os movimentos sociais e os partidos comprometidos com o interesse nacional e os direitos sociais no Brasil devem intensificar a conscientização e a mobilização da sociedade para enfrentar essa investida em bases neoliberais. A resistência ao desmonte da proteção social é o principal desafio do momento.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap