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Com a premiação do Oscar 2021, no próximo dia 25 de abril, boa parte dos filmes já está disponível para ser apreciada em casa e aqui indicamos alguns com as respectivas plataformas

Com base nas indicações já anunciadas, podemos arriscar um apanhado geral dos pontos altos que vislumbramos na premiação do Oscar 2021, no dia 25 de abril próximo. Boa parte dos filmes já está disponível e aqui apontamos as respectivas plataformas, para que seja possível vê-los de antemão, assessorando nossa fruição e nosso juízo. Vale a pena aproveitar igualmente a fartura da oferta dos vencedores prévios, em todos os canais de TV. Não perca: é uma boa preparação, permitindo prelibar um gostinho da noite da cerimônia. E nossa quarentena contará com mais esse fator de diversão. Contribuindo, a revista Monet, da Net, estampa uma lista dos 100 melhores dos anos anteriores.

Em primeiro lugar, e com enfática aprovação de todo o mundo, destaca-se o comprometimento sem restrições com a diversidade. Diversidade de gênero, diversidade de etnia, diversidade de... diga aí, e ela estará contemplada neste Oscar. Grande avanço com relação aos anteriores, e até bem recentemente, quando de repente se percebeu que o Oscar, e a Academia constituída pelo corpo de eleitores que vota nele, era dominado por homens brancos adultos, que não prestavam atenção ao trabalho cinematográfico de mulheres e de negros. Para dizer o mínimo...

Não faz muito tempo, a diretora negra Ava Duvernay, nova mas não estreante, fez o excelente Selma, sobre a marcha liderada por Martin Luther King, marco incontornável da campanha pelos direitos civis nos anos 1960. Nem menção obteve, pois para essa Academia o filme tinha dois defeitos, era sobre negros e dirigido por uma mulher (negra). Pior ainda, participantes do filme foram à estreia com camisetas “Não consigo respirar”, em protesto contra o assassinato, público e filmado, do negro George Floyd pela polícia branca, suscitando objeções de membros da Academia, que resolveram boicotar o filme.

Há pouco, em meio às crescentes revelações de abuso sexual do magnata hollywoodiano Harvey Weinstein, afinal condenado a 23 anos de prisão, as mulheres do cinema convocaram e repassaram a palavra de ordem de comparecerem vestidas de preto à premiação do Globo de Ouro 2018; e assim foi feito. Oprah Winfrey, feminista histórica especialmente homenageada na ocasião, soltou o verbo em seu discurso de agradecimento. Foi um belo gesto coletivo.

Não custa lembrar que o movimento Me Too (Eu também), que se desdobraria no Time´s Up (Agora chega), nasceu e foi sustentado pelas corajosas mulheres de Hollywood.

Ante a grita geral – se estão lembrados, e isto se passou apenas há dois ou três anos – a Academia foi levada a rever sua própria composição e a abri-la às minorias, os resultados não se fazendo esperar. Agora, se somarmos todas as indicações, em todas as categorias, constatamos a presença de setenta mulheres, o que é motivo de regozijo e um recorde desde a fundação do Oscar: nunca tantas mulheres foram indicadas. E quase não dá para acreditar, quando verificamos que, das cinco indicações a melhor diretor(a), duas são mulheres e três são homens. Ou seja, quase em pé de igualdade.

No capítulo das atrizes, a grande Viola Davis é forte concorrente em A Voz Suprema do Blues, em que ela vive uma cantora dos primórdios do jazz, a famosíssima Ma Rainey, reputada por sua radicalidade e intransigência. É oportunidade para nos despedirmos de outro grande ator, prematuramente falecido aos 43 anos, Chadwick Boseman, astro do filme de orgulho étnico Pantera Negra, que contracena com Viola Davis em diálogo constante. Ele também é candidato na categoria de ator coadjuvante.

Rivaliza com Viola Davis um filme de projeto semelhante, outra biografia de uma diva do jazz, Estados Unidos vs. Billie Holiday, estrelada por Andra Day, e a perseguição policial racista de que foi alvo a vida toda. Entre as demais candidatas, ressalta mais uma brilhante atriz, branca esta, Frances Mc.Dormand, no filme Nomadland.

A categoria melhor ator traz dois peso-pesados, Anthony Hopkins em Meu Pai e Gary Oldman em Mank, revivendo  Herman J.Mankiewicz, o genial roteirista, alcoólatra e rebelde, do clássico de Orson Welles Cidadão Kane. Ambos ingleses, ambos magistrais, já trabalharam inclusive em mais de um filme juntos. O leitor deve lembrar-se do primeiro como o tétrico Hannibal o Canibal, que lhe valeu o Oscar, e o segundo como Winston Churchill em O Destino de Uma nação, outro Oscar. E ainda há mais atores principais e secundários negros entre os candidatos.

Quanto às duas categorias mais importantes e mais disputadas, melhor filme e melhor direção, este ano a corrida é apertada, pois há alguns filmes fora de série, feitos por diretores também fora de série. Entre os candidatos a melhor filme está Os 7 de Chicago, em que se destaca Sacha Baron Cohen (o Borat) num papel sério, resgatando uma dívida de meio século. Vemos o injusto julgamento, por um juiz parcial que chegou a mandar amordaçar e agrilhoar um dos réus, dos sete líderes estudantis à frente de um protesto contra a Guerra do Vietnã, quando da Convenção do Partido Democrata em 1968 em Chicago. Embora o protesto fosse pacífico, o prefeito Daley mandou a polícia agredir violentamente os manifestantes desarmados. E, depois disso, os culpados eram os estudantes... Um famoso filme de Wesley Haskell, Medium Cool, que documentou os eventos, misturando-os a personagens fictícios, foi o registro que restou. Os outros candidatos ao galardão de melhor filme são os supracitados Meu Pai e Mank, e mais Judas e o Messias Negro (sobre os idos do Black Power dos anos 1960 e a feroz perseguição que lhe moveu J. Edgar Hoover, diretor do FBI), Minari (imigrantes coreanos nos Estados Unidos), Nomadland (um road movie no feminino já premiadíssimo no país e no exterior), Bela Vingança (ácida crítica à “cultura do estupro”), O Som do Silêncio.

Os melhores diretores indicados são os que fizeram Druk: Mais Uma Rodada (Thomas Vinterberg, com Mads Mikkelsen no papel principal), Mank, Minari, Nomadland (diretora mulher), Bela Vingança (mais uma diretora mulher).

Mas há outros bons filmes que ficaram de fora desta vez, ou então foram indicados para categorias insignificantes, como melhor figurino, ou coisa parecida. Entre eles está um de Spike Lee, o diretor negro que fez do cinema uma arma na luta antirracista. Trata-se de Destacamento Blood, sobre um grupo de ex-soldados negros que volta ao Vietnã depois de meio século, em busca de um tesouro em barras de ouro que ficou enterrado e dos despojos de seu comandante. Não é dos melhores filmes desse diretor, mas não se pode negar que qualquer filme dele é sempre interessante.

Afora a auspiciosa novidade de ser este o Oscar da diversidade, nota-se o papel preponderante da Netflix, que não costumava concorrer em festivais porque seus filmes não atendiam ao pré-requisito de estrear em salas, saindo diretamente em streaming. Até o ano passado o festival de Cannes, o mais importante de todos, assim procedia: vamos ver no próximo. O fato é que, devido à desorganização que a pandemia ocasionou nos grandes estúdios, abriu-se oportunidade para os independentes e para a Netflix. Esta, com 35 indicações, ou onze a mais que no ano passado, lidera absoluta a competição.

Disponíveis para assistir em casa

A Voz Suprema do Blues (dir.: George C. Wolfe) NETFLIX

Meu Pai (dir.: Florian Zeller) NOW, GOOGLEPLAY

Mank (dir.:David Fincher) NETFLIX

Os 7 de Chicago (dir.: Aaaron Sorkin) NETFLIX

O Som do Silêncio (dir.: Darius Marder) AMAZON PRIME

Druk: Mais Uma Rodada (dir.: Thomas Vinterberg) NOW, GOOGLEPLAY, VIVOPLAY, SKYPLAY

Destacamento Blood (dir:. Spike Lee) NETFLIX

Estreiam em breve

Estados Unidos vs. Billie Holiday (dir.: Lee Daniels)

Nomadland  (dir.: Chloé Zhao)

Judas e o Messias Negro (dir.: Shaka King)

Minari (dir.: Lee Isaac Chung)

Bela Vingança (dir.: Emerald Fennell)

 

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da FFLCH da USP e integrante do Conselho de Redação de Teoria e Debate