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Para tentar se recuperar entre alguns setores, o presidente dos EUA envia ao Congresso a terceira iniciativa de combate ao desemprego, desde 2009

O presidente dos EUA, Barack Obama, será candidato à reeleição pelo Partido Democrata em 2012, mas sua situação eleitoral não é das mais confortáveis com o índice de popularidade abaixo de 50% há algum tempo e por várias razões.

Ele perdeu a credibilidade gerada durante sua mobilizada campanha pela indicação democrata da candidatura em 2008 e da própria disputa contra o republicano John McCain. A crise econômica herdada do governo George Bush se agravou e suas sucessivas tentativas de acordos bipartidários com os republicanos ou fracassaram, ou não favoreceram o governo, acarretando duras críticas dos setores mais progressistas do Partido Democrata, entre eles os sindicatos, devido às concessões feitas aos adversários.

O apoio a Obama entre os eleitores de origem hispânica também se reduziu, pois, além de não cumprir a promessa de solucionar a permanência de imigrantes em situação irregular, deportou mais estrangeiros, principalmente latino-americanos, nos três primeiros anos de mandato do que o governo Bush em oito anos.

Embora  dificilmente mudem os votos para um candidato republicano, os setores progressistas da população, dos trabalhadores e dos hispano-americanos podem simplesmente se abster de votar, e Obama não pode prescindir desses votos, ainda mais num quadro de taxa de desemprego superior a 9%, com o mais longo tempo de procura da história por novos trabalhos. A esses 14 milhões de desempregados somam-se outros 11 milhões (7%) de subempregados. Seis milhões de pessoas se juntaram entre 2008 e 2010 aos 40 milhões que já se encontravam abaixo da linha da pobreza.

Para tentar recuperar a iniciativa política entre alguns desses setores, particularmente os sindicatos, ele acabou de enviar a terceira iniciativa de combate ao desemprego, desde 2009, para discussão no Congresso. A expectativa da atual proposta é gerar até 2 milhões de empregos e reduzir a taxa de desocupação, se a crise não se agravar.

O plano de geração de empregos requer a aplicação de US$ 447 bilhões, distribuídos entre medidas que gerem postos de trabalho no setor público, principalmente, por meio de construção de escolas e contratação de professores (US$ 140 bilhões) e três propostas de mais recursos para estimular o consumo e a produção por meio da melhoria do seguro-desemprego (US$ 62 bilhões), cortes nos encargos sociais de empregadores e empregados (US$ 175 bilhões) e redução de impostos para pequenas empresas (US$ 70 bilhões).

Ainda para agradar os críticos mais à esquerda, propõe aumentar os impostos para os que recebem mais de US$ 1 milhão por ano, para reduzir o déficit público. Essa iniciativa foi apelidada de “Regra Buffet”, em referência ao magnata Warren Buffet, que declarou que milionários como ele deveriam pagar mais impostos para ajudar o governo a enfrentar a crise.

Os republicanos se opõem às duas medidas propostas por Obama, particularmente a última, que denominaram de “guerra de classes”. Dificilmente, portanto, serão aprovadas no Congresso, pois eles têm maioria na Câmara de Deputados. O presidente sabe disso, mas salvo o agravamento do desemprego, que o prejudica eleitoralmente em qualquer circunstância, a rejeição a suas iniciativas será um ônus para seu futuro e ainda indefinido adversário republicano.

Olhando para outros setores, ele mais uma vez atendeu ao lobby israelense e fez de tudo para impedir que os palestinos obtivessem seu reconhecimento como Estado com plenos direitos na ONU, inclusive aplicando o poder de veto no Conselho de Segurança. O objetivo é manter os 78% de votos que obteve em 2008 da comunidade judaica nos EUA, apesar do desgaste político que a postura representa internacionalmente.

Portanto, a agenda política americana, interna e externa, daqui em diante será cada vez mais determinada pela eleição presidencial de novembro de 2012.

Kjeld Jakobsen é consultor de Relações Internacionais