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No campo político a crise já derrubou sete governos europeus e no campo econômico a solução de ajuste fiscal não funcionou e não funcionará

Assiste-se à pior crise econômica na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Sob o aspecto político está derrubando governos sem fazer distinção de partidos ou orientação ideológica. Em três anos, sete já caíram (Islândia, Reino Unido, Irlanda, Portugal, Eslováquia, Grécia e Itália). Agora será a vez de os socialistas na Espanha engrossarem a lista.

O mundo teme e aguarda o desfecho da crise na zona do euro. A última tentativa de salvação veio de um plano com três objetivos: reestruturação da dívida da Grécia, envolvendo calote de 50% e um novo financiamento de € 100 bilhões do FMI e da União Europeia até o fim do ano; recapitalização dos bancos europeus em € 106 bilhões; uso do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (Feef) para captar recursos no setor privado, governos e FMI. O objetivo é dotar o Feef de € 1,3 trilhão para socorrer economias maiores como Espanha e Itália.

Nos três objetivos há dúvidas quanto à viabilidade de implementação. A própria resistência dos governos da zona do euro em disponibilizar recursos para o Feef dá um sinal das dificuldades de acessar recursos de governos de fora.

Fato é que o anúncio dessas medidas reduziu o risco de um colapso imediato, que implicaria uma corrida bancária ou a quebra de um país.

No campo econômico a solução proposta de ajuste fiscal não funcionou e não funcionará. Derruba o crescimento econômico que já estava baixo, reduzindo a arrecadação e elevando a inadimplência, e essa perda de receita pública acaba superando a redução de despesa imposta pelo programa ditado pelo FMI, Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia. Além disso, a desconfiança dos empresários e dos consumidores acaba diminuindo o investimento e o consumo, causando mais depressão.

Depois de Irlanda, Portugal e Grécia terem de se socorrer no FMI, BCE e União Europeia, a bola da vez agora é a Itália, a terceira maior economia da zona do euro. A crescente fuga dos investidores dos títulos italianos, deflagrada pela crise política na Itália e na Grécia, é a mais grave ameaça até agora nos dois anos da crise da dívida da zona do euro.

O prêmio nos títulos italianos de dez anos chegou ao nível mais elevado desde a adoção do euro. É sinal de que os investidores estão perdendo confiança numa solução para a Itália, que ainda pode precisar de ajuda financeira se o anúncio de um novo governo não interromper a saída de capitais.

Os fundos potencialmente disponíveis para a Itália por parte da Europa e do FMI não devem ser o suficiente para atender às suas necessidades. O fracasso na missão de deter a crise pode levar a um calote da dívida italiana, derrubando os bancos europeus - e se espalharia pelo sistema financeiro global.

Com um quarto, € 1,9 trilhão, de toda a dívida pública da zona do euro, a Itália pode ser grande demais para ser salva por outros governos europeus. Neste ano deverá levantar € 58 bilhões e em 2012 mais de € 300 bilhões em dívida a vencer e cobrir o déficit orçamentário previsto de € 25 bilhões. Se os investidores não se dispuserem a emprestar, a Europa terá de apoiá-la com todo o dinheiro que conseguir, ou haverá o risco de um crash financeiro global.

Essa crise já está se refletindo no Brasil e pode exigir do governo medidas para garantir liquidez aos empréstimos, o que poderia ser viabilizado pelas instituições oficiais e pela redução dos depósitos dos bancos no Banco Central, condicionada ao empréstimo com taxas de juros baixas ao mercado. Além disso, deve pisar no acelerador da economia especialmente com a ampliação dos programas de transferência de renda e de estímulos aos investimentos.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor