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Com relação às eleições municipais deste ano, sabe-se que não tem havido isenção nem imparcialidade na Folha, Estadão, Globo e JB.

A poucas semanas das eleições municipais reaparece, não só nos comitês de campanha, mas também entre militantes e eleitores, a velha questão sobre qual é de fato a influência da cobertura da mídia aos vários candidatos nos resultados eleitorais.

A questão, por óbvio, não é simples. Existe um grande número de variáveis que interfere no processo político-eleitoral e há divergências significativas entre os pesquisadores com relação ao peso e à importância delas. O primeiro passo, portanto, é desconfiar das tentativas de reduzir a questão a clichês, tais como “se a mídia decidisse eleições os aliados da imprensa burguesa venceriam sempre”. Ou, então, a afirmações contraditórias do tipo “a mídia não tem o poder de manipular a opinião do público” e, por outro lado, “a mídia é que decide as eleições”.

Há, no entanto, umas poucas certezas de que a pesquisa acumulada oferece em relação ao tema:

1. a influência da mídia assim como a decisão do voto são processos de longo prazo. Vale a observação feita por Paul Lazarsfeld em 1953: “As eleições decidem-se pelos acontecimentos que têm lugar em todo o período compreendido entre as eleições e não pela campanha”.

2. a influência da mídia varia de acordo com suas próprias características, assim como com os padrões de seu “consumo”. Vale dizer: numa sociedade como a brasileira, sem tradição de leitura e com baixa circulação da mídia impressa (jornais e revistas), a influência desta será menor do que aquela da mídia eletrônica (rádio e televisão).

Há uma polêmica não resolvida em relação ao poder dos jornais de “pautar” a mídia eletrônica, inclusive pelo fato de que alguns de seus principais “formadores de opinião” são multimídia e circulam entre diferentes veículos dos mesmos grupos empresariais. Aqui, a melhor maneira de resolver a questão é examinar caso a caso.

3. a influência da mídia será menor quanto maior for a pluralidade e a diversidade da informação política disponível. É por isso que o surgimento da internet e sua incrível penetração nas chamadas classes C e D está provocando uma ruptura com os paradigmas tradicionais de formação de opinião que prevaleceram em nosso país durante as últimas décadas.

4. a influência da mídia aumenta na mesma medida em que o mandato em disputa “se distancia” do dia-a-dia do eleitor. Vale dizer: a influência na decisão do voto será maior em uma eleição para presidente da República do que para vereador ou prefeito; será maior na eleição para senador do que na de deputado estadual. Isto porque “a distância” faz diminuir a possibilidade do eleitor conhecer diretamente – sem a “mediação” da mídia – os atributos do candidato.

5. a influência da mídia diminui na medida em que aumentam os índices de escolaridade e a organização política da sociedade civil. Os dados revelam que, desde as eleições presidenciais de 1989 até as eleições de 2006, essas alterações, tanto num quanto no outro, foram extremamente significativas no Brasil.

Se por um lado há poucas certezas, por outro, é interessante observar que a preocupação com a influência da mídia nos resultados eleitorais é recorrente nas democracias. É o que ocorre agora, por exemplo, nos EUA. Lá o candidato Republicano reclama, com razão, do grande desequilíbrio existente a favor do Democrata.

Não se trata, portanto, de uma preocupação brasileira, justificada, aliás, tento em vista o histórico de comprometimento da mídia com grupos políticos.

Com relação às eleições municipais deste ano, sabe-se que não tem havido isenção nem imparcialidade na Folha, Estadão, Globo e JB. É o que revela o acompanhamento feito pelo Doxa do Iuperj. Nada de novo. O que não se sabe, todavia, é qual será exatamente a influência da ausência de isenção e imparcialidade nos resultados eleitorais.

Venício A. de Lima, sociólogo e jornalista, autor/organizador de A Mídia nas Eleições de 2006, Editora Fundação Perseu Abramo, 2007