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Os jovens e as jovens eleitas pela esquerda devem estar preparados para defender os direitos das juventudes e protagonizar a luta em defesa da democracia e da soberania nacional e popular

São muitos os aspectos e as lições a tirar das eleições de 2018. No caso do Legislativo, falou-se muito de renovação. De fato, assembleias legislativas, Câmara e Senado Federal tiveram suas cadeiras renovadas em proporções acima dos últimos pleitos. Na Câmara, um em cada cinco eleitos nunca ocupou cargo público e somente metade dos parlamentares foi reeleita. No Senado, vimos a maior taxa de renovação da história (85%), com 46 novos senadores para as 54 vagas em disputa.

Mas o que essa renovação representou em termos geracionais? Quantos jovens conquistaram cadeiras no Parlamento? Analisamos em "O espaço da juventude na política institucional" o número de candidaturas jovens (até 29 anos, conforme o Estatuto da Juventude) em âmbito estadual e federal e vimos que houve aumento considerável de jovens candidatos e sobretudo candidatas. Sabemos, contudo, que se o registro de candidaturas jovens já é um funil, a vitória eleitoral é um desafio muito maior.

Se de um lado a juventude carrega um imaginário social do novo, associado a uma expectativa de transformação, em especial na esquerda, de outro lado ainda é forte a percepção das/os jovens como seres em formação, inexperientes, cidadãos do futuro, e que por isso têm pouca legitimidade para expor e defender suas ideias e visões de mundo. O peso desses fatores faz com que candidatas/os jovens tenham mais dificuldade para arrecadar recursos e conquistar a confiança do eleitorado. As candidaturas de filhos de políticos são uma forma de contornar essa resistência à transição geracional e de prolongar o poder de oligarquias familiares – aquelas mais tradicionais ou as de formação recente.

Das 1.083 candidaturas a deputados estaduais/distritais e 391 federais jovens, quantos desses foram eleitos? Quem são eles?

O universo de jovens parlamentares eleitos é formado por 54 deputadas/os estaduais e distritais e 18 deputadas/os federais, os quais representam 5,1% e 3,5% do total de 1.058 e 513 cadeiras nas assembleias e Câmara Federal, respectivamente. A proporção de mulheres eleitas foi de 15,2%, sendo 226 (14,3%) delas com idade superior a 30 anos e catorze (0,89%) jovens. Os homens jovens conquistaram 58 cadeiras no total, o que representa 3,6%. Dos 14,3% de mulheres eleitas, 11,1% são brancas e 4,2%, negras.

Em relação à cor/raça, a predominância de brancos é absoluta entre jovens, não jovens, mulheres e homens. São 72,3% de parlamentares brancas/os e 27,3% de negras/os. Naqueles com idade superior a 30 anos há duas pessoas de raça autodeclarada “amarela” (um estadual e um federal); uma deputada federal “indígena”; 1.081 “branca”; e 415 “negra”. Entre os jovens, um “amarela”; nenhum “indígena”; 56 “branca”; e quinze “negra”. A proporção de negras/os eleitas/os é semelhante entre mulheres (26,6%) e homens (27,4).

A análise do perfil das candidaturas apontou menor desigualdade de gênero e raça entre candidaturas aos parlamentos estaduais/distrital do que em relação à Câmara Federal, traço que permanece entre as/os eleitos. Nos estados, 51 (4,8%) mulheres negras se elegeram, enquanto na Câmara somente treze (2,5%) mulheres negras terão assento na Câmara Federal. Das 51 eleitas para as assembleias legislativas, 48 têm idade superior a 30 anos e três são jovens. No caso da Câmara, são doze com idade superior a 30 anos e uma jovem. Entre os homens, a desigualdade combinada de gênero e raça é menor: 254 (24%) negros foram eleitos para as assembleias, ao passo que 112 (21,8%) foram eleitos para a Câmara Federal. Desses, são nove deputados estaduais e dois deputados federais negros jovens.

No que tange à escolaridade, nota-se que a proporção de mulheres com “ensino superior completo” é bastante superior à dos homens: 47% e 27,6%, respectivamente. Entre as mulheres com mais de 30 anos, 82,7% possuem “ensino superior completo”; já entre as mulheres jovens, 71,4% estão nessa condição. Entre os homens, a desigualdade geracional é maior. Enquanto somente 26,8% dos homens com idade superior a 30 anos já concluíram o ensino superior, entre os jovens a proporção cresce para 53,4%. Vê-se, portanto, que as mulheres eleitas possuem, proporcionalmente, maior escolaridade que os homens; e que os homens jovens possuem maior escolaridade que os não jovens. O dado do aumento da escolaridade é, sem dúvida positivo, e tem a ver com os esforços de expansão da educação brasileira nos governos Lula e Dilma. Porém, notar que o preconceito e as dificuldades que as mulheres menos escolarizadas encontram para se eleger são bastante superiores que os dos homens, o que acaba por se refletir na menor proporção de mulheres menos escolarizadas eleitas.

A distribuição de jovens por partido indica grande dispersão entre as/os 72 eleitas/os. O PSL foi o partido que elegeu mais jovens (nove, sendo três deputados federais); assim como havia sido o partido com o maior número de candidaturas jovens (102). O segundo partido que mais elegeu jovens foi o PP, com sete jovens eleitos, sendo dois deputados federais. Os demais partidos elegeram entre quatro e zero deputadas/os jovens. O único jovem eleito pelo PT irá ocupar uma vaga na Assembleia Legislativa do Pará. O deputado mais jovem dessa legislatura é do PSL e foi eleito representante da Assembleia do Ceará.

Muitas outras análises podem (e precisam) ser feitas a partir desses e de outros dados sobre as eleições de 2018. Ressalta-se que o recorte etário não pode se restringir ao aspecto quantitativo, afinal a correspondência geracional (até 29 anos) não implica compromisso ou identificação com as pautas das juventudes. Vimos que há diversidade de gênero, de raça e de escolaridade entre as/os jovens eleitos; e certamente há diferenças econômicas, culturais e políticas entre eles. Contudo, esse pequeno contingente não expressa a grandeza da diversidade das juventudes brasileiras, que deveriam contar com um contingente mais expressivo de representantes no parlamento.

A disputa política em curso tem sequência anunciada de forma ainda mais agravada. No que impacta diretamente a vida das/os jovens, podemos citar os cortes de direitos; os retrocessos nas políticas de reconhecimento e respeito à diversidade; a pressão privatista sobre a educação pública; o aumento do desemprego; a redução da maioridade penal; a intensificação da falida política de guerra às drogas que sustenta o extermínio da juventude negra; dentre muitas outras agendas conservadoras.

Que as/os jovens eleitas/os pela esquerda estejam preparados para resistir nas trincheiras do Parlamento em defesa dos direitos e da vida das juventudes e sejam protagonistas da luta em defesa da democracia e da soberania nacional e popular.

Luiza Dulci é militante da JPT, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. É economista (UFMG), mestre em Sociologia (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura (UFRRJ)