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Nenhuma das tentativas de intermediação diplomática posteriores aos Acordos de Oslo, em 1993 pela OLP com o governo de Israel, levaram a resultado concreto

Os Acordos de Oslo firmados em 1993 pela Organização pela Libertação da Palestina (OLP) com o governo de Israel, na época dirigido pelo Partido Trabalhista, para a constituição e o mútuo reconhecimento de dois Estados, foi o mais próximo que se chegou de um acordo de paz e solução para os direitos do povo palestino a uma pátria, continuamente violados desde o início da migração judaica para a Palestina no final do século 19. Nenhuma das tentativas de intermediação diplomática posteriores a Oslo levaram a um resultado concreto. Entre elas estão as realizadas pelos EUA, pelo “Quarteto” (EUA, Rússia, União Europeia e ONU), o “Mapa da Paz” proposto pela Liga Árabe, a Conferência de Annapolis nos EUA durante o governo Bush, na qual o governo brasileiro também participou como observador.

Ao contrário. A Faixa de Gaza e parte da Cisjordânia desocupadas por Israel em função dos Acordos de Oslo foram submetidas a rígidos controles de acesso e circulação, sem contato direto com o exterior – por terra, mar ou ar –, cercadas por muros e, no caso da Cisjordânia, seguidamente reocupada por colônias israelenses, expulsando moradores palestinos como ocorria no passado com a chegada dos judeus à região. Nesse meio tempo, foi invadida diversas vezes pelo Exército de Israel, e a sede da Autoridade Palestina em Ramallah, onde se encontrava o então presidente Yasser Arafat, chegou a ser cercada e isolada do mundo por vários dias em 2002. Por sua vez, a Faixa de Gaza foi ferozmente bombardeada e atacada por terra em 2008, causando a morte de 1.387 palestinos e treze israelenses, e agora esse ato se repetiu com nova estatística macabra, 155 e cinco mortes, respectivamente.

Há vários fatores que explicam esse retrocesso, embora não o justifiquem. No início da década de 1990, os trabalhistas israelenses e outros setores da esquerda sionista se convenceram pelo alto custo político da primeira Intifada, iniciada em 1987, e pela influência da opinião pública internacional e de Israel. Esta última movida pelo movimento “Paz agora”, que era chegado o momento de um acordo, e a estratégia do governo de Israel foi negociar a concessão de territórios por paz. Entre os princípios da negociação havia o reconhecimento da OLP como legítima representante do povo palestino, e não mais como mera organização terrorista, permitindo criar a Autoridade Palestina e seu Parlamento. A reciprocidade foi o reconhecimento do Estado de Israel, bem como o direito dos israelenses de viver em segurança.

No entanto, a direita em Israel repudiou as negociações e o acordo, particularmente a possibilidade de devolução dos territórios palestinos ocupados que denominam pelos seus nomes bíblicos de Judeia e Samaria. O primeiro-ministro trabalhista Yitzhak Rabin foi assassinado em 1995 por um extremista de direita e seu sucessor, Ehud Barak, não avançou nas negociações da segunda fase, prevista nos acordos iniciais. Nas eleições israelenses de 2001, o Partido Likud, de direita, venceu e o processo foi interrompido na prática, embora muitos encontros e reuniões entre as partes tenham ocorrido de lá para cá, além do início da segunda Intifada.

Arafat, que provinha do partido Al Fatah, majoritário na OLP, enfrentava problemas semelhantes no seu campo político, pois o máximo que Barak ofereceu em 2000 era menos do que o mínimo que ele poderia aceitar naquele momento. Havia setores no interior da OLP, bem como agrupamentos externos como o Hamas, que não admitiam sequer a negociação com um Estado que consideravam ilegítimo. Na opinião desses grupos, os israelenses usurparam o espaço que pertencia ao povo palestino e, assim, a única solução seria sua completa retirada do Oriente Médio.

O Hamas venceu as eleições para o Parlamento Palestino em 2006 e pouco depois assumiu o controle da Faixa de Gaza, enquanto o Al Fatah, presidindo a Autoridade Palestina, manteve sua base na Cisjordânia. Essa divisão política, além de seccionar a precária administração palestina em duas áreas, para alegria israelense, também gerou duas estratégias na busca da independência do Estado Palestino: a negociação e a luta armada.

O sucessor de Arafat na presidência da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, reivindicou em 2011 o reconhecimento do Estado Palestino como membro de plenos direitos à ONU. O pedido foi vetado pelos EUA no Conselho de Segurança sob o cínico argumento de que o reconhecimento deveria ser resultado de negociações diretas com Israel, negociações que este, na prática, abandonou uma década atrás e nunca retomou a sério. Em 2012, porém, Abbas conseguiu que o Estado Palestino fosse reconhecido como Estado observador pela Assembleia Geral da ONU, com o voto de 138 países, entre eles o Brasil, que em 2010 já o havia reconhecido como Estado de acordo com as fronteiras de 1967.

Aliás, o governo e as forças de esquerda brasileiras têm se demonstrado importantes apoiadores da causa palestina, como mostrou o recente Fórum Social Mundial Palestina Livre, em Porto Alegre, que reuniu entidades de apoio à independência palestina de cerca de trinta países para discutir o tema. Além da condenação da ocupação da Palestina por Israel, bem como da constante violação de direitos humanos, o evento aderiu ao movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) contra Israel, semelhante ao imposto à África do Sul durante o período do  apartheid para convencê-la a abandonar suas políticas racistas e segregacionistas por meio da pressão econômica. A comunidade internacional criou um problema ao tentar resolver outro, que foi o genocídio judaico cometido pelos nazistas, e portanto lhe cabe também resolver as consequências daquele ato de solidariedade. Os israelenses e palestinos sensatos defendem a solução “dois povos, dois Estados”, mas a direita israelense, em especial, obstaculiza essa possibilidade e não percebe que a opressão do povo palestino numericamente majoritário no interior de um único Estado judaico levará apenas a um processo de emancipação que poderá ser extremamente violento, pois estadistas como Nelson Mandela não surgem a cada momento nem em qualquer lugar para conciliar posições antagônicas de forma pacífica.

Kjeld Jakobsen é consultor de Relações Internacionais