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Os republicanos confirmaram a chapa Mitt Romney/Paul Ryan, enquanto a convenção do Partido Democrata ratificou a candidatura à reeleição de Barack Obama/Joe Biden

No final de agosto e na primeira semana de setembro, realizaram-se, respectivamente, as convenções partidárias para referendar as candidaturas republicana e democrata às eleições presidenciais nos EUA, em 6 de novembro próximo, junto com a eleição parlamentar. Os republicanos confirmaram a chapa Mitt Romney para presidente e Paul Ryan para vice, enquanto a convenção do Partido Democrata ratificou a candidatura à reeleição de Barack Obama e Joe Biden.

Essas “primárias presidenciais” – em que os partidos definem seus candidatos a partir da eleição de delegados nos estados, que no final se reúnem nas convenções – são parte importante do processo eleitoral, mesmo quando há disputas entre pré-candidatos, como foi o caso do Partido Republicano este ano. Geram espaço na mídia e os mecanismos de arrecadação de fundos dos postulantes também ajudam a mobilizar apoiadores e staff de campanha. Mitt Romney disputou com treze outros pré-candidatos, que foram desistindo ao longo do tempo, alguns deles mesmo antes de se iniciar a escolha dos delegados estaduais. Os democratas não realizaram “primárias”, uma vez que ninguém questionou a sério a candidatura de Obama ao segundo mandato.

O sistema político americano, em função de suas regras de funcionamento, é na prática bipartidário, mas há também candidatos pelos partidos Libertário, Verde, da Proibição, Socialista e dois independentes, sem partido. Esse tipo de candidatura raramente elege delegados nacionais, mas eventualmente pode prejudicar os candidatos do “bipartidarismo”. George Bush (pai), por exemplo, perdeu votos importantes para o ultraliberal Ross Perot em 1992 e em 2000 Ralph Nader, do Partido Verde, teve votos que poderiam ter ajudado o democrata Al Gore, derrotado por George Bush (filho), embora a causa mais provável de sua derrota resida no indício de fraudes nos votos da Flórida.

O voto nos Estados Unidos é facultativo e o eleitor tem de se registrar com antecedência para exercer esse direito. Ao escolher um candidato, está na verdade elegendo delegados eleitorais, que representam proporcionalmente a população de cada um dos cinquenta estados. Só que, na maioria deles, o candidato mais votado fica com todos os delegados, e assim pode ocorrer que seja eleito aquele que teve menos votos populares, mas conquistou todos os delegados de alguns estados maiores. Foi assim com John Kennedy (democrata) em 1960 e com George Bush (republicano) em 2000.

A disputa presidencial nos EUA não é entre candidatos de direita e esquerda, pois todos são liberais em alguma medida e, contraditoriamente, mesmo os republicanos que mais defendem a redução do tamanho e do papel do Estado veem com naturalidade a transferência de recursos públicos bilionários para o complexo industrial militar americano.

Este ano, no entanto, a crescente influência dos liberais mais radicais do “Tea Party” incrustados no Partido Republicano, além de emplacar o candidato a vice-presidente Paul Ryan, impôs um programa de campanha que propõe a redução de despesas em políticas sociais, particularmente na saúde, de direitos das mulheres, dos homossexuais e de emigrantes, entre outros, e de impostos dos mais ricos. Dessa forma, o programa dos democratas tornou-se mais progressista do que seus membros são capazes de cumprir ao defender o direito ao aborto, o casamento entre homossexuais e a legalização de uma parcela dos emigrantes que vivem nos EUA, embora no primeiro mandato de Obama tenha havido mais deportações do que em qualquer governo anterior.

O Partido Democrata acena ainda com promessas de políticas favoráveis à classe média e de ascensão social do conjunto da população, apesar do aumento significativo de pobres durante os últimos quatro anos. Há que se reconhecer a herança da crise econômica de 2008 que coube a Obama e o poder de veto da maioria republicana no Congresso americano desde 2010. Mas o fato é que o desemprego cresceu ainda mais durante seu governo e até agora não há sinais consistentes de início de superação da crise.

Assim, para os democratas, é impossível repetir a mobilização da esperança que levou o primeiro negro à Presidência americana em 2008 e a disputa será acirrada em novembro, com a possibilidade de os democratas também perderem a maioria no Senado, que ainda lhes dá alguma margem de manobra parlamentar.

Nas pesquisas realizadas após a convenção republicana, Romney chegou a encostar em Obama no percentual de preferências, mas este, após a convenção democrata, conquistou uma diferença de 4%. A definição está nos votos dos eleitores indecisos. No entanto, a aposta mais segura ainda é no candidato democrata, pela diversidade de sua representação, pela capacidade de dialogar com os diferentes setores sociais, mesmo que seja apenas retórica, e porque, apesar da crise e do desemprego, muitos eleitores talvez prefiram não arriscar uma mudança de política econômica que possa piorar a situação.

Kjeld Jakobsen é consultor de Relações Internacionais