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A ver os desdobramentos, mas pelo quadro atual está claro que a direita no continente segue na ofensiva, que tende a se acirrar caso Trump seja reeleito nos EUA em novembro

No dia 27 de setembro houve eleições departamentais e municipais no Uruguai. Elas eram para ter ocorrido em maio, mas devido à pandemia da Covid-19 foram adiadas para setembro. A estrutura administrativa do Uruguai é composta por dezoito departamentos chamados de “intendências” e 125 municípios ou “alcaldías”.

Os partidos que disputaram e que obtiveram algum resultado foram o Partido Nacional, a Frente Ampla, o Partido Colorado e o Partido Independente. Inclusive a lei eleitoral permite que cada partido lance até três candidatos por cargo executivo que antigamente no Brasil conhecíamos como sublegendas. Em Montevidéu onde venceu uma candidata da Frente Ampla, Carolina Cossio, a disputa foi com outros dois candidatos da Frente, incluindo o atual intendente, Daniel Martinez, que no ano passado foi o candidato frenteamplista ao governo federal, mas perdeu por pouco para o atual presidente do Partido Nacional de direita, Luis Lacalle Pou.

O Partido Nacional nesta eleição fez quinze intendentes e 87 prefeitos, a Frente Ampla elegeu três intendentes e 32 prefeitos, o Partido Colorado elegeu um intendente e três prefeitos e o Partido Independente elegeu três prefeitos. No entanto, as três intendências conquistadas pela Frente representam em torno de 40% da população do país e desde 1990 este partido governa Montevidéu, porém a dificuldade maior ainda é penetrar nos grotões agrícolas do país onde a direita é hegemônica. Embora os candidatos da Frente Ampla, Tabaré Vazquez, Pepe Mujica e Tabaré pela segunda vez tenham governado entre 2005 e 2019, sempre foram eleitos no segundo turno, normalmente com alguns votos de dissidentes do Partido Nacional que não apoiavam os candidatos do Partido Colorado que participaram daquelas disputas. Em 2019, a direita se unificou integralmente.

As eleições presidenciais e parlamentares na Bolívia deverão se realizar em 18 de outubro depois de muitas manobras do atual governo golpista de Jeanine Añez, que tentou viabilizar sua candidatura, mas desistiu recentemente. A fórmula eleitoral do MAS –ISP, Luiz Arce e David Choquehuanca, ambos ex-ministros da economia e das relações exteriores do governo Evo Morales, respectivamente, estão à frente nas pesquisas eleitorais, inclusive com possibilidades de vitória no primeiro turno. O segundo colocado é o ex-presidente Carlos Meza.

No entanto, é importante que a diferença eleitoral seja significativa para evitar fraudes e manipulações eleitorais pelo governo golpista que resistirá devolver o poder àqueles de quem tomaram no ano passado.

Em 25 de outubro ocorrerá o plebiscito no Chile, onde o povo decidirá se quer iniciar um processo constituinte, resultado das grandes mobilizações ocorridas em 2019. Este processo de consulta também era para ter ocorrido em abril, mas foi outro igualmente adiado devido à pandemia. Segundo as pesquisas, o “Sim” deverá obter em torno de 70% dos votos.

As eleições, presidencial e parlamentar, no Equador estão marcadas para ocorrer em fevereiro de 2021. Vários candidatos se apresentaram, mas o governo por meio do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) manobrou o máximo que pode para impedir a esquerda de participar. O ex-presidente Rafael Correa seria candidato a vice numa das chapas, mas foi condenado à prisão e impedido de participar pelo CNE. O partido de seu candidato à presidente, Andrés Arauz do União pela Esperança, depois de muita pressão conseguiu substituí-lo, alguns dias depois e a chapa poderá disputar com grandes chances.

A ver os desdobramentos, mas está claro que a direita no continente segue na ofensiva e esta tende a aumentar se Trump for reeleito nos EUA em novembro.

Kjeld Jakobsen é consultor na área de Cooperação e Relações Internacionais