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A modernização e a tradição nas várias facetas da sociedade chinesa

summerpalace.pngSummer Palace - Direção: Lou Ye (China), 2006, 140 minutos  - Ficcionalização dos eventos da Praça de Tianamen, ou Da Paz Celestial, a simbólica praça central de Pequim, sede do poder por milênios, para a qual se abre o palácio imperial da Cidade Proibida com seus 9 mil aposentos. Ali fica o túmulo de Mao Tsé-tung. Em 1989, um grupo de estudantes acampou na praça e reivindicou liberdade, mas a tentativa acabaria em massacre. Um dos ícones do século 20 viria a ser a extraordinária imagem, filmada e fotografada, de um jovem solitário impedindo com seu corpo o avanço de um tanque de guerra. O feito do diretor valeu-lhe cinco anos de censura oficial.

 

Spring Fever - Direção: Lou Ye, 2009 (Hong Kong/França), 115 minutos - O diretor mostra mais uma vez sua vocação para mexer em vespeiro. Não contente com os anos de proibição de suas atividades profissionais que amargou após Summer Palace, aborda outro tema tabu na China: a homossexualidade. Ao apresentá-la com naturalidade, sem esconder a repressão que sobre ela paira no país e os conflitos que gera, criou novamente problemas para si mesmo. Mas ganhou reconhecimento internacional, ao obter o prêmio para melhor roteiro no Festival de Cannes de 2009.

Banhos - Direção: Zhang Yang, 1999 (China), 92 minutos- Centralizado no conflito de gerações, focaliza os embates entre pai e filho no curioso ambiente passadista dos banhos públicos e sua sociabilidade masculina. Esses banhos têm sido derrubados por toda parte num país em transformação, mas consta que o filme deu visibilidade e importância àquele que constituiu seu cenário, e por isso foi preservado.

 

 

embuscadavida.pngEm Busca da Vida (Still Life) -  Direção: Jia Zhang-Ke, 2006 (China-Hong Kong), 108 minutos - Jia Zhang-Ke tem sido considerado o líder dos diretores da última geração. Já dirigiu vários outros filmes, como O Mundo, Inútil, Pickpocket, Plataforma, Prazeres Desconhecidos. Assesta sua câmera inclemente mas empática sobre o que a modernização da China está causando aos seres humanos: destruição de cidades, de laços pessoais, de modos de vida tradicionais. Duas pessoas deslocadas em busca de seus cônjuges, de que estão separados há anos, em meio à construção da monumental Barragem das Três Gargantas, no Rio Yangtzé, a maior hidrelétrica do mundo. Ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2006.

 

aestrela.pngA Estrela Imaginária  (La stella che non c´è)- Direção: Gianni Amelio, 2006 (Itália-França-Suíça-Cingapura), 103 minutos - Um engenheiro italiano da indústria siderúrgica descobre falha na concepção da caldeira que fabrica e que foi largamente exportada. Dirige-se à China e, com a ajuda de uma intérprete, parte em busca da caldeira defeituosa nos confins do país. Sua trajetória pelos meios operários, ajudado pela intérprete que também procura definir seu itinerário existencial em meio aos valores cambiantes que confrontam a sociedade chinesa. Com Sergio Castellito.

 

 

The WorldO Mundo -Direção: Jia Zhang-Ke, 2004 (China-França-Japão), 140 minutos - O título alude a um parque temático em Pequim, com reproduções das principais atrações do planeta: a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo de Paris, as Torres Gêmeas de Nova York, as pirâmides e a Esfinge do Egito, e assim por diante. Também oferece shows musicais imitando os de Las Vegas e da Broadway, com atores fantasiados como coristas ou personagens históricos do Ocidente. O entrecho joga com o grande contingente de jovens que lá trabalha, suas aspirações, seus amores, suas dificuldades em desprender-se de um passado tradicional.

Walnice Nogueira Galvão, crítica literária, é integrante o Conselho de Redação de Teoria e Debate