Colunas | Cinemateca

As várias facetas da tensão entre Israel e Palestina retratadas em filmes

Nossa MúsicaNossa Música - Direção: Jean-Luc Godard, França/Suécia, 2004, 80 minutos, Distribuição: Imovision - Godard, o militante que fez do cinema arma de luta política, como o demonstra sua carreira inteira, divide seu filme em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso, como a Divina Comédia, de Dante. A primeira parte compendia imagens dos horrores de muitas guerras. Depois, comparecem escritores – Juan Goytisolo e Mahmoud Darwish, o grande poeta palestino – participando de um seminário na cidade de Sarajevo. Há uma moça que interpela e polemiza. O filme se constrói a partir de materiais heteróclitos, numa pungente discussão da guerra e da violência. Tudo se encaminha para um final surpreendente, que o espectador não será capaz de adivinhar.

 

Paradise nowParadise Now  - Direção: Hany Abu-Assad, França/Alemanha/Holanda/Israel, 2005, 90 minutos, Distribuição: Europa Filmes - Filme palestino muito premiado. Dois amigos que vivem em Israel são selecionados pela organização guerrilheira de resistência para se tornar homens-bomba. Suas posições são contrastantes: um deles está imediatamente disposto ao autossacrifício, o outro se mostra relutante e segue a contragosto para a imolação. O filme, de uma tensão e de um suspense admiráveis, aproveita a situação de impasse entre os dois amigos para discutir guerra, violência, suicídio, a validade das causas e dos destinos humanos. Extraordinário.

 

 

Violação de domícilioViolação de Domicílio - Direção: Saverio Costanzo (Itália), 2004, 90 minutos, Distribuição: Europa Filmes - Casa de palestinos é ocupada por soldados israelenses, mas a família se recusa a sair. Não se discute por que os soldados têm o direito legítimo de ocupar a casa. Mas fica claro que estão se entrincheirando em posições que interessam à estratégia geral de uma guerra contínua de escaramuças contra os palestinos, nos territórios ocupados e na Faixa de Gaza. A família, de vários membros, tenta continuar a levar uma vida “normal”, dentro do possível. Entretanto, as coisas vão se acirrando e os impasses aumentam. Lembra Kafka e filmes de terror science fiction, embora seja puro cinema realista.

 

BubbleA Bolha (The Bubble) - Direção: Eytan Fox, Israel, 2006, 90 minutos, Distribuição: Imovision - Caso de amor gay entre palestino e soldado israelense desenvolve-se em meio ao dissídio de seus respectivos povos, na grande cidade de Tel Aviv, onde os disfarces e a clandestinidade são possíveis e a guerra parece distante. Mas a fricção interétnica interfere praticamente a cada momento, tornando fonte de tensões a tentativa de relacionamento, esgarçando o tecido emocional, dilacerando as lealdades envolvidas. Ambos se pretendem acima de seus povos, mas o conflito faz-se presente, transformando o amor em ódio.

 

Free ZoneFree Zone - Direção: Amos Gitai, Israel, 2005, 90 minutos - Distribuição: Bac Films  - Três mulheres, uma americana, uma israelense e uma palestina, dão um show neste filme. Longa jornada de carro, num táxi dirigido pela israelense conduzindo a americana. A Free Zone fica na Jordânia, a oito horas de distância de Jerusalém, para onde vai a taxista, com o intuito de cobrar uma dívida. O devedor não está, mas ela vai procurá-lo, com a ajuda de uma palestina. Ao chegar ao destino, a aldeia está em chamas, e o fogo foi ateado pelo filho do devedor. Ritmo de suspense alucinante, com irrupções de humor. Com Natalie Portman, Hanna Laszlo e Hiyam Abass. Prêmio de melhor atriz em Cannes para a israelense Hanna Laszlo.

 

Sorry hatersEsperança e Preconceito (Sorry, Haters) - Direção: Jeff Stanzler,  EUA,  2005, 86 minutos, Distribuição: IFC Films / Flashstar Home - Video - Modesta e instigante produção para TV que vai fundo na paranóia norte-americana. Motorista de táxi muçulmano em Nova York apanha freguesa, com quem conversa. Ao saber que ela é produtora de um reality show, pede-lhe ajuda para inocentar seu irmão, injustamente preso por ligações políticas. Em vez de ajudá-lo, ela passa a assediá-lo e persegui-lo, no intuito de também incriminá-lo como terrorista, precipitando o desastre.

Walnice Nogueira Galvão, crítica literária, integra o Conselho de Redação de Teoria e Debate