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O quadro atual do processo eleitoral dos EUA, e que não deve mudar em curto prazo, favorece o candidato democrata, mas é imprevisível o que poderá ocorrer no dia da eleição se a pandemia não estiver contida

O presidente estadunidense, Donald Trump, saiu de uma situação de provável reeleito em 3 de novembro próximo para outra de possível derrotado em função da pandemia do Coronavírus nos EUA, principalmente devido à maneira, no mínimo irresponsável, como tem lidado com o problema.

Os Estados Unidos são hoje o epicentro mundial da pandemia com mais de 3 milhões de infectados na primeira semana de julho, uma proporção de 50 mil contaminados diariamente em todo o país e o registro oficial de mais de 132 mil mortos e uma média de 800 mortes diárias. A flexibilização do isolamento social estimulada pelo governo federal provocou a aceleração dos casos de contaminação em 39 dos cinquenta estados e não há sinais de regressão da pandemia na maior parte do país. Vários prefeitos vêm reivindicando o direito de definir a política de isolamento social, atualmente sob controle dos governos estaduais que eles consideram flexível demais.

Segundo pesquisas recentes, 60% da população desaprovam a postura de Trump frente ao problema. A última dele foi declarar que 99% dos casos de Covid-19 são inofensivos. Além de se comportar de forma semelhante ao presidente do Brasil, propondo o uso de remédios inócuos ou até prejudiciais como a cloroquina, não estimular o uso de máscaras e incentivar a retomada das atividades econômicas, ele chegou a fazer piadas recomendando que as pessoas tomassem detergentes para se tratar.

Dessa forma, as pesquisas eleitorais variam de 8% a 14% a favor do candidato democrata, Joe Biden e que venceria fácil em grupos sociais como os afrodescendentes e latinos e perde por pouco entre a população branca. Hoje, Joe Biden também está na dianteira em estados chave onde Hillary Clinton perdeu para Trump em 2016, como a Flórida, Arizona, Carolina do Norte, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.

Dois outros fatores jogam contra Trump. O movimento antirracista e a comoção gerada pelo assassinato do negro George Floyd por um policial quando já estava imobilizado, bem como o desempenho da economia considerado ruim por 33% da população, razoável por 30% e boa ou excelente por 24% (13% não souberam responder). Além disso, a taxa de desemprego cresceu muito após o início da pandemia.

No entanto, mesmo diante desse quadro, Donald Trump não alterou sua estratégia eleitoral. Mantém seu discurso anti-China e antiesquerda, particularmente tentando responsabilizar os chineses pela disseminação do coronavírus, e as manifestações tanto antirracistas como esquerdistas para preservar o apoio dos setores mais conservadores de seu eleitorado. Ele também insiste no fim do isolamento social e na reativação das atividades econômicas. Esse é o único ponto em que a maioria da população o considera mais capaz do que Biden, na proporção de 44% a 38%.

O quadro atual, e que não deve mudar em curto prazo, favorece o candidato democrata, mas muita coisa pode ocorrer nos quatro meses que ainda restam de campanha. Os resultados das pesquisas são indicadores que podem não se confirmar no dia da eleição, pois o voto é facultativo e depende do comparecimento do eleitorado. Assim é imprevisível o que poderá ocorrer no dia da eleição se a pandemia não estiver contida até lá.

Biden tampouco poderá repetir os erros da Hillary Clinton. Ela esteve à frente de Trump nas preferências eleitorais durante toda a campanha, inclusive em alguns dos estados onde acabou perdendo por pouco devido ao sistema de colégio eleitoral como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia que deram todos os delegados para Trump. Ela deixou de fazer campanha nesses locais para se dedicar a outros e deu no que deu. Venceu no voto popular, mas perdeu no colégio eleitoral.

 

 

 

Kjeld Jakobsen é consultor de Relações Internacionais