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Filmes que exibem infâncias roubadas em situações marginais e extremas

pixote-poster02.jpgPixote, a lei do mais fraco (Direção de Hector Babenco, 1981,128 minutos, Brasil) As mil e uma desgraças que acometem um menino de rua ao ir parar na Febem. A vida dos sem-teto e dos pequenos delinquentes,  em São Paulo e no Rio de Janeiro. A fatalidade que rege seu destino de desamparados, sobre os quais paira a tragédia. Teve extraordinário sucesso no mundo todo, graças a seu estilo de documentário, com atores amadores. Com Fernando Ramos da Silva como protagonista e Marília Pera. O pequeno ator recairia na delinquência e seria morto pela polícia em 1987, como mostra outro filme: Quem matou Pixote?, de José Joffily.

 

umheroidonossotempo.jpgUm herói do nosso tempo (Va, vis et deviens) (Direção de Radu Mihaileanu, 2005, 140 minutos, França/Bélgica/Israel/Itália) Menino etíope, cristão e negro, cuja mãe o obriga a passar por judeu para que se salve do campo de refugiados em que ambos mal sobrevivem. Adotado por uma família em Israel e lá educado, tem a enfrentar o preconceito dos israelenses, por causa da cor da pele e da origem etíope. Daí decorrem suas escolhas e sua trajetória. Grande prêmio em Berlim, entre outros.

 

infancia_roubada_tsotsi.jpgTsotsi - Infância Roubada (Direção de Gavin Hood, 2005, 94 minutos, África do Sul/ Inglaterra) - Menino de rua, habitante de um gueto em Joanesburgo,  vai aos poucos passando à delinquência e à criminalidade. Até que cai em suas mãos um bebê, do qual não consegue se livrar por mais que tente, o que o obriga a reconsiderar toda a sua vida, suas potencialidades e seu futuro. Oscar de melhor filme estrangeiro.

 

 

sobamesmalua.jpgSob a mesma lua (La misma luna) (Direção de Patricia Riggen, 2008, 106 minutos, México/EUA) Menino de nove anos, ao perder a avó que o cria resolve atravessar clandestinamente a fronteira e pegar caronas. Vai procurar a mãe que há anos trabalha em Los Angeles e manda dinheiro para sustentá-lo. As peripécias por que passa, entre exploradores e mediadores desonestos, enquanto vai desenvolvendo estratégias para não se entregar. Mal ou bem, acaba sempre encontrando quem o ajude, mesmo por pouco tempo e esporadicamente. O ambiente dos trabalhadores ilegais nos Estados Unidos, hoje estimados em 11 milhões. Com Adrián Alonso e America Ferrera, a atriz da série de televisão “Ugly Betty”.

 

versailles-2008-dutch-front-cover-17104.jpgVersailles (Direção de Pierre Schöller, 2008, 113 minutos, França/Bélgica) Filme dark franco-belga, sobre menino de seis anos, criado por mãe drogada e sem-teto. O menino vai passando de mão em mão, é valente e estoico apesar de criança. Admirável cena do menino subindo a famosa escadaria do Palácio de Versalhes, ícone da grandeza da França. Com Guillaume Depardieu, outro drogado e inadaptável que se encarrega dele por um período e até o perfilha. Belas assembléias de clochards no parque que circunda o palácio, onde vivem; suas táticas para não perecer em meio hostil e sua solidariedade. Nota-se a garra da extraordinária escola dos muito premiados irmãos belgas Dardenne.

 

Tartarugas podem voarTartarugas podem voar (Turtles can fly) (Direção de Bahman Ghobadi, 2004, 98 minutos, Irã/Iraque/França) Passa-se num acampamento de refugiados curdos na fronteira entre Iraque e Turquia, fugindo de Saddam Hussein. O garoto protagonista, Satélite, fala umas palavras de inglês e é fã dos americanos, como todos, aliás, que aguardam a chegada deles para liberá-los do ditador iraquiano. O que de fato acontece, mas não melhora nada para eles. O enredo é tremendo. As crianças sobrevivem desmontando minas pessoais (um deles, sem braços, com os dentes) que vendem a intermediários que as revendem para a ONU. Cenas com muros e mais muros, a perder de vista, de cartuchos de obuses empilhados. Satélite se apaixona por uma menina de 14 anos que foi estuprada por soldados iraquianos e carrega o bebê (cego), que odeia e chama de bastardo; seu irmão, que perdeu os braços, a recrimina e ajuda nos cuidados com o bebê. Há cenas de distribuição de máscaras contra gases (“uma  para cada família”). Com Soran Ebrahim e Avaz Latif.

Crianças de Orange CountySem-teto: As crianças de Orange County (Direção de Alexandra Pelosi, 2010, 60 minutos, EUA) Sim, é o mesmo “O.C.” da série televisiva, o município dos milionários, ostentando a maior renda per capita dos Estados Unidos, no estado da Califórnia. Ali vivem muitos sem-teto, na maior parte crianças morando em ocupações ilegais de motéis abandonados. A administração republicana estadual conseguiu reduzir os impostos dos ricos, destinados a financiar o melhor sistema de ensino público do país, que imediatamente entrou em colapso, com consequências como esta.

 

ChocolatChocolat (Direção de Claire Denis, 1988, França) Filme de estreia da grande cineasta francesa, criada na África, cujos filmes raramente são exibidos por aqui. A amizade de uma menina branca com um serviçal negro, na residência rural de um administrador das colônias francesas, no Cameroun antes da independência. Os conflitos resultantes do convívio interétnico, a opressão e a atração simultâneas, geradas pela intimidade: tudo meio dissimulado, tortuoso e não-dito. Com Cécile Ducasse e Isaach De Bankolé.

 

Geração roubadaGeração Roubada (Rabbit-proof Fence) (Direção de Philip Noyce, 2002, 94 minutos, Austrália) Na Austrália colonizada pelos britânicos, crianças aborígenes eram comumente arrancadas das famílias e postas em campos de concentração para aprender a ser brancas e cristãs. Depois serão todas empregadas domésticas dos brancos. Uma menina foge e anda a pé centenas de quilômetros para reencontrar sua tribo.

 

 

Crianças InvisíveisCrianças Invisíveis (All the Invisible Children) (Direção de Mehdi Charef, Spike Lee, Emir Kusturica, Ridley Scott, Stefano Venuroso, John Woo, Katia Lund, 2006, 116 minutos, Itália) Filme de ficção em sete episódios sobre problemática de crianças na África, Estados Unidos, Sérvia/Montenegro, Inglaterra, Itália, China e Brasil.  Negligência, abuso, maus-tratos, violência doméstica, exploração do trabalho de menores, são alguns dos ângulos focalizados. O de Spike Lee mostra  uma menina aidética alvo de preconceito na escola: embora seja filha de uma família estruturada, tem pais  aidéticos e drogados.

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da FFLCH da USP e integrante do Conselho de Redação de Teoria e Debate