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Se o governo continuar acreditando nos pacotes de estímulo e não remover os freios que impôs ao desenvolvimento, dificilmente conseguirá ultrapassar o crescimento de 2,7%

Desde o fraco crescimento de 2,7% do PIB em 2011, o foco do debate econômico deixou de ser a inflação em queda no mundo e passou a ser o crescimento. O governo tinha como meta crescer 4,5% neste ano, mas desistiu face aos fracos resultados no primeiro semestre, segundo vários indicadores, especialmente na indústria.

Algumas análises atribuem esse fraco resultado à insuficiência dos investimentos de 18,7% do PIB no primeiro trimestre. Defendem 25%(?), mas reconhecem que para atingir esse nível demora e o que se deseja é uma recuperação mais rápida da economia.

Fato é que a crise internacional derrubou e continua derrubando o crescimento em todos os países, e nessa conjuntura as empresas tendem a se retrair e a postergar investimentos.

Mas algumas análises creem que para suplantar essa situação o governo federal deve investir mais. Isso supõe que não existam sérias dificuldades de gestão para conseguir tirar as obras do papel.

Crescer por meio de exportações está difícil, pois o mercado externo está saturado e fortemente vendedor.

Até a saída pela ampliação do consumo das famílias, segundo essas análises, está descartada devido a um endividamento que consideram excessivo, com um quarto do orçamento doméstico comprometido com o pagamento de prestações.

Segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros médios em abril (antes da ação do governo) foram de 107% ao ano e em junho 106%(!). Assim, a ação do governo para tentar derrubar os juros ainda não surtiu o efeito desejado e metade das prestações são juros. Eis o principal freio ao crescimento.

O que fazer?

A primeira coisa a reconhecer é que a economia está travada devido ao potente conjunto de freios que o governo não removeu por medo do fantasma da inflação. Esses freios são: Selic, juros bancários e carga tributária sobre o consumo dos mais altos do mundo e liquidez das mais baixas do mundo.

A redução do juro (Selic e bancário) e da carga tributária alivia o orçamento doméstico e reanima as empresas, melhorando sua competitividade. Se o governo decidir baixar a Selic para 5%, sem muita demora, vai economizar os recursos necessários à desoneração na carga tributária. Além disso, a queda da Selic diminui os ganhos de tesouraria dos bancos e, se for tabelada, reduzindo as tarifas bancárias, os bancos tenderão a ampliar suas operações de crédito, elevando sua oferta e gerando a necessária concorrência bancária, com, aí sim, a redução dos juros.

Não basta o Banco do Brasil e a Caixa baixarem seus juros. É necessário seguir o conselho do economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban): "Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. Segundo ele, é este o caminho das pedras: aperte o lucro dos bancos. Isso é que vai levar o cavalo ao rio. É bom o governo ouvir quem é do ramo.

Para ativar exportações é necessário desvalorizar o real perante o dólar. O melhor caminho para isso é pela ampliação da liquidez, à semelhança do que vêm fazendo os países desenvolvidos para elevar suas exportações. O câmbio deve ficar acima de R$ 3, que é o nível adequado para permitir o equilíbrio nas contas externas. Para isso é preciso elevar a liquidez de 6% do PIB, que é metade da praticada na Argentina e no México e dez vezes inferior à da China.

Se o governo continuar acreditando nos pacotes de estímulo e não remover os freios que impôs ao desenvolvimento, dificilmente conseguirá ultrapassar o crescimento de 2,7% registrado no ano passado. A ordem é tirar o pé do freio para deixar o país crescer, e a bola está só com o governo.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor