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PT passou de 411 prefeitos (2004) para 559 (aumento de 36%), obteve 16,8 milhões de votos no primeiro turno, bem à frente do PSDB e do DEM

À primeira vista o PT foi muito bem nas eleições municipais. Passou de 411 prefeitos eleitos (2004) para 559 (aumento de 36%), obteve 16,8 milhões de votos no primeiro turno, bem à frente do PSDB (14,6 milhões) e do DEM (9,4 milhões), atrás apenas do PMDB (18,6 milhões); elegeu prefeitos em 6 capitais (como o PMDB) e mais que os outros partidos nas 77 maiores cidades do país (20, contra 17 do PMDB e 13 do PSDB).

Considerando-se as bases de governo e oposição, o balanço também parece positivo: PMDB somado (que passou de 1.065 para 1.201 prefeituras), a base governista administrará mais de 4.100 municípios, com 72% do eleitorado, enquanto o PSDB recuou de 879 para 785 prefeituras (− 11%) e o DEM de 789 para 496 (− 37%), além do PPS, que cairá de 312 para 132 administrações (− 57%).

Ocorre que uma leitura longitudinal dos dados eleitorais sugere um balanço mais crítico do desempenho do PT – quiçá menos eufórico sobre o significado da vitória da base governista. Afinal, não era razoável esperar que o PT fosse melhor? E, no regime vigente, não é esperado crescimento ou manutenção da base do governo federal no meio do seu mandato?

Embora jovem, a experiência democrática brasileira em curso sugere alguns padrões: atestando a força centrípeta do nosso presidencialismo de coalizão, houve grandes saltos do partido presidencial nas eleições municipais subsequentes (em número de prefeituras o PSDB cresceu 216% de 1992 para 1996 e o PT 120% de 2000 para 2004). E, se a crise que seguiu a desvalorização do real em 1998 praticamente freou o crescimento do PSDB nas eleições de 2000 (+ 7%), o que teria impedido um crescimento vigoroso do PT em 2008, se Lula goza de um nível de aprovação de fato ‘nunca visto antes na história deste país?

Número de prefeitos à parte, pela primeira vez em sua trajetória o PT não teve aumento de votação em eleições municipais: dos 7,9 milhões de votos que obtivera em 1996, passou para 11,9 milhões em 2000 e depois para 16,3 milhões em 2004, quando foi ‘o campeão de votos’, à frente do PSDB (15,7 milhões) e do PMDB (14,2 milhões). Os 16,8 milhões de 2008 correspondem a um recuo sobre a taxa nacional de comparecimento – de 15,8% (2004) para 15,2% – sendo que nas capitais a queda foi de 5,9 milhões (2004) para os 5 milhões deste ano.

Um dos traços notáveis nestas eleições – já presente em pleitos anteriores, mas aparentemente acentuado – foi o baixo nível de mobilização militante nas grandes cidades. Diversos fatores parecem concorrer para esse fenômeno: a necessária profissionalização das campanhas, um rebaixamento dos temas da macropolítica para questões menores, até certo ponto natural em pleitos locais, e uma possível rotinização das eleições – afinal, tratou-se da sétima disputa municipal nos últimos 26 anos.

Mas a quem interessa essa aparente banalização da política? Aos que lutaram pela redemocratização e acreditam que há muito a transformar na sociedade brasileira para que superemos os padrões de iniquidade social ainda vigentes? Ou às forças do status quo, que resistiram e resistem às transformações? Se pretende acentuar as mudanças em curso e se manter à frente desse processo, mesmo no pós-Lula que se avizinha, o PT precisa entender por que uma reclamação recorrente Brasil afora, nestas eleições, era de que ‘as propostas dos candidatos são muito parecidas’.

Que uma direita modernizada venha disputando cada vez mais a agenda social, antes exclusiva da esquerda (e não só via marketing, mas também em suas realizações), parece um fato irreversível e a ser comemorado. Afinal, só o fazem por pressão popular e, ao fazê-lo, avançam as condições de desenvolvimento de uma cultura cidadã. Resta à esquerda seguir por onde a direita não pode, sob o risco de deixar de existir: avançar na participação popular, em direção a uma democracia de fato deliberativa.

Gustavo Venturi é professor de Sociologia da USP ([email protected]).

Gustavo Venturi é professor de Sociologia da USP ([email protected])