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Violência e misticismo que marcam a resistência do povo brasileiro no sertão

Deus e o diabo na terra do solDeus e o Diabo na Terra do Sol- Direção: Glauber Rocha, 1964 (Brasil), 125 minutos - A obra-prima de Glauber Rocha abeberou-se em Os sertões, de Euclides da Cunha, mas não se resume nem ao livro nem à guerra. Glauber buscou outros elementos em Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e em dois romances de José Lins do Rego: Pedra Bonita e Cangaceiros. A combinação traz a marca inconfundível de sua grife, ao investigar os fenômenos do cangaço e do misticismo, tendo em conta que a violência e a religião têm sido as tradicionais saídas do povo brasileiro para a iniquidade de que é alvo. Premiadíssimo internacionalmente.

 

O Arraial (animação) - Direção: Adalgisa Luz e Otto Guerra, 1997 (Brasil), 13 minutos- A Guerra de Canudos inspirou um desenho animado, realizado inteiramente no Brasil, que reproduz os principais incidentes da campanha. Trata-se de interessante experimento baseado na transferência de suporte. Nos últimos anos, artistas brasileiros têm-se aventurado pelo caminho do desenho animado, antes território virgem em nosso panorama, com muito sucesso no país e no exterior. Quem apreciar o resultado deve procurar também uma Guerra de Canudos em história em quadrinhos, que foi feita já há alguns anos.

Guerra de CanudosGuerra de Canudos - Direção: Sergio Rezende, 1997 (Brasil), 169 minutos -Distribuidora: Columbia TriStar Pictures - A mais grandiosa película de ficção a que o tema já deu origem, com concepção de grande espetáculo. A produção construiu uma cidade de Canudos cenográfica inteira e convocou 8 mil figurantes. Com José Wilker no papel de Antonio Conselheiro e mais 100 atores, entre os quais Marieta Severo e Paulo Betti. Música de Edu Lobo. Filmado nos próprios locais.

 

 

CanudosPaixão e Guerra no Sertão de Canudos - Direção: Antonio Olavo, 1993 (Brasil), 78 minutos - Importante documentário, e o mais completo, que refaz a peregrinação de Antonio Conselheiro e seu séquito durante duas décadas. Os trabalhos de filmagem cobriram 7 mil quilômetros, visitando 180 vilas e povoados, desde o Ceará (Quixeramobim é o berço do Conselheiro) até Pernambuco, Sergipe e Bahia. Colheram depoimentos da população local, de descendentes dos canudenses, de pesquisadores e estudiosos do assunto, tratando também de incluir imagens da flora e da fauna relacionadas ao tema. Grande sucesso de vendas e em festivais.

 

Euclides da Cunha - Direção: Humberto Mauro, 1994 (Brasil), documentário de 14 minutos -O interesse cinematográfico por Euclides da Cunha e pela Guerra de Canudos tem ilustre linhagem: aquele que é considerado pioneiro e patrono do cinema brasileiro dedicou-lhe um curta-metragem. Na exígua extensão de película de que dispunha, tratou de dar o máximo de informações, concentrando-se nos principais episódios da vida e da obra do escritor, sem esquecer de traçar um painel da época.

República de CanudosRepública de Canudos  - Direção: Pola Ribeiro e Jorge Felippi, 1989 (Brasil), documentário de 45 minutos  - A Guerra de Canudos não esgotou os fatores que a provocaram: o povo da região continua sendo vítima dos latifundiários e dos grileiros. Há alguns anos, o Padre Enoque, da Pastoral da Terra, fundou a Igreja Popular de Canudos e passou a cuidar da organização das comunidades da região. Criou a Missa do 5 de outubro, em rememoração da data em que o arraial disparou o último tiro, em 1897. Instituiu o movimento do Corta-Cerca, pelo qual, cantando hinos, as comunidades marcham e põem abaixo as cercas ilegais levantadas pelos grileiros.

 

Monte Santo: o Caminho da Santa Cruz - Direção: José Umberto, 1997 (Brasil), documentário de 48 minutos - Em Monte Santo ergue-se a obra arquitetônica que Euclides da Cunha chamou de “maravilha dos sertões”: os quatro quilômetros da Via Sacra ladeira acima, pontilhados pelas 21 capelinhas brancas dos Passos da Cruz, até atingirem o cume onde se assenta a igreja. Lugar santo de romaria, à qual acorre gente de toda a região. O padre capuchinho italiano Frei Apolônio de Todi capitaneou sua construção em 1785, com trabalho voluntário da população. Uma parte de Deus e o Diabo na Terra do Sol, inclusive as imagens dos penitentes subindo a íngreme escadaria com pedras na cabeça,  foi filmada lá. Tanto Antonio Conselheiro quanto Euclides da Cunha e Glauber Rocha galgaram esses degraus em diferentes épocas.

Walnice Nogueira Galvão, crítica literária, integra o Conselho de Redação de Teoria e Debate