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Não faltariam boas notícias, houvesse jornalismo nas redes monopolistas: a massa de rendimentos do trabalho em relação ao PIB em 2023 cresceu quase 12%. A maior elevação desde o Plano Real. Não precisa lupa para perceber o significado na vida das pessoas.

O governo Lula precisa elaborar um discurso capaz de convencer a população sobre a qualidade das políticas do governo, sobre o alcance delas. Está devendo isso. E também nossos parlamentares federais estão em dívida. Vai se cristalizando um clima de administração sem rumo e sem impacto sobre a qualidade de vida do povo. E isso não é verdade. Dizer: não há milagres. Mas há muita coisa sendo feita. Muita mesmo.

Nossa comunicação, em amplo sentido, está frágil. Não estamos sendo capazes de fazer frente à ofensiva da mídia empresarial, absolutamente comprometida com o chamado mercado e as políticas neoliberais. É um escândalo o já realizado. Há resultados de grande alcance, todos eles, na qualidade de vida do nosso povo.  Dignos de manchetes. Porém, manchetes não há.

O governo Lula ter conseguido, em um ano, tirar 13 milhões do Mapa da Fome. Dar de comer novamente a esse enorme contingente é um fato de extraordinária relevância, houvesse uma imprensa, mídia com algum parâmetro para o valor dessa mercadoria chamada notícia. O pessoal com mania do mas poderia argumentar a existência de muita  gente ainda com fome. Verdade, mas é quase um milagre, resultado de muita determinação o governo ter conseguido tir tanta gente daquela condição subumana.

Tal resultado decorre da redução do desemprego e do crescimento da renda, impulsionado pelos programas de transferência de renda e pela política de valorização do salário mínimo conforme estudo do Ministério de Desenvolvimento Social, tudo isso consequência de novas prioridades, do processo de reconstrução do país, a que se dedica o governo Lula desde o início de 2023. O presidente anterior havia definido a principal preocupação dele: destruir. A definição fora dada em visita aos Estados Unidos, logo no início do governo dele.

Recentemente, um noticiário cheio de reservas dava conta de um crescimento da renda média dos trabalhadores de mais de 7% se comparada com o ano anterior. Maior alta desde 2012. Os senhores da mídia poderiam desenvolver um pouco tal conquista, avaliar o impacto disso sobre a qualidade de vida da população mais pobre, mas preferem pontuar tudo por adversativas, por muitos mas: deve-se à gastança do governo, isso poderá levar o país a um desastre nas contas públicas, e segue por aí. O uso do cachimbo faz a boca torta.

 Boas notícias

Não faltariam boas notícias, houvesse jornalismo nas redações das redes monopolistas de variada natureza. Olhe-se a massa de rendimentos do trabalho em relação ao PIB em 2023: cresceu quase 12%, 11,7% para ser preciso. Anotem: maior elevação desde o Plano Real. Não precisa lupa para perceber o significado disso na vida das pessoas.

Mas, a nossa mídia empresarial prefere logo no lead atribuir tudo aos gastos públicos bilionários. Não diz da existência de uma política governamental capaz de promover a elevação dos rendimentos dos trabalhadores. E anuncia, torcendo, um crescimento da economia bem menor em 2024, e se for surpreendida, como foi em 2023, não pedirá desculpas, como nunca o faz.  E as previsões catastrofistas já estão sendo desmentidas. Crescimento será maior.

Diria, porque necessário, ao enveredar pela teoria: tal mídia é incapaz de ser ao menos minimamente keynesiana, de observar o impacto do investimento estatal na qualidade de vida do povo trabalhador. Toda a preocupação dela, insista-se, vincula-se à chamada austeridade, de modo a que o Tesouro esteja sempre pronto a pagar juros, distribuir dividendos.

A tarefa de Lula é reconstrução, primeiramente isso. Mas ele tem ido muito além.

O PIB cresceu três vezes acima do esperado pelos chamados especialistas do mercado, pelos trombeteiros do Apocalipse. O desemprego encontra-se no menor nível desde 2014. O salário mínimo começa a recuperar o poder de compra, e isso tem um impacto enorme na vida do povo.

A Petrobras gerou o segundo maior lucro da história, R$ 124,6 bilhões sem ter privatizado nada, nenhum ativo. A tão noticiada perda de R$ 55 bilhões constitui apenas ¼ dos mais de R$ 200 bilhões representados pela valorização experimentada pela empresa nos últimos doze meses.

O barulho em torno da Petrobras, feito pelo mercado e pela mídia empresarial é compreensível: eles não querem uma Petrobras forte. Querem vê-la inteiramente subordinada, e distribuindo dividendos a granel, instrumento do mundo rentista.

Não aprovar a distribuição de dividendos extraordinários, decisão do Conselho de Administração, decorre da necessidade da sustentabilidade da empresa a longo prazo, robustecer o volume de investimentos nos próximos anos. Lula está certo: o mercado financeiro é um rinoceronte ou um dinossauro voraz. Quer tudo para ele, nada para o povo.

Os programas sociais, qualificados pela mídia empresarial como mais do mesmo, como se não tivessem qualquer importância, vão beneficiando fortemente a qualidade de vida da população mais pobre. É o Minha Casa, Minha Vida, é a Farmácia Popular. É o Bolsa Família, a socorrer milhões de pessoas necessitadas.  Todos rearticulados, sob critérios rigorosos, voltados ao atendimento das famílias mais pobres.

Nos últimos dias, o presidente Lula evidencia a preocupação dele com a educação, e anuncia a criação de cem novos institutos federais, espalhados por todo o país, voltados ao fortalecimento do ensino médio e superior públicos, a atender nossa juventude mais pobre principalmente.

Podemos voltar a olhar para a economia: a balança comercial teve superávit recorde de quase US$ 99 bilhões, alta de mais de 60% em relação a 2022, o maior desde a série histórica iniciada em 1989. Uma sucessão de recordes, em pouquíssimo tempo, pouco mais de um ano de governo. 

Mídia e defesa do mercado financeiro

Não, nada disso foi manchete de nossa mídia empresarial. Não ocupou os jornais televisivos, impressos, ou das emissoras de rádio. Fazem questão de esconder essas realizações. Se noticiam alguma coisa, sempre com ressalvas, as permanentes adversativas. Preferem sempre defender acionistas. A vocação de tal mídia hoje, insista-se, é a defesa incondicional do mercado financeiro.

Não tem qualquer compromisso com a produção, e não por acaso bateu duro no programa de reindustrialização do governo Lula, o Nova Indústria Brasil, cujos investimentos, de R$ 300 bilhões, visam ao crescimento sustentável e a propiciar a indispensável inovação da indústria nacional. Uma iniciativa preocupada e voltada à soberania brasileira. A mídia quer mais do mesmo: só capital financeiro, nada de capital produtivo. Neoliberalismo em estado puro. Como disse, não chega sequer a Keynes. 

Sair do canto do ringue

Não basta chorar, no entanto.

Não basta constatar a natureza de nossa mídia empresarial. vinculada ao mundo rentista, voltada a um noticiário favorável sempre ao capital financeiro. Penso haver problemas na nossa comunicação, problemas a merecer atenção do governo. Alguma coisa está fora da ordem.

Como esse enorme manancial de realizações, como uma política capaz de contribuir tão decisivamente na qualidade de vida do nosso povo, permanecem submersos, como nossa comunicação se perde no secundário, e deixa o principal de lado?

Chorar no pé do caboclo não resolve.

Será preciso mudança de rumos. Capaz de tornar público os feitos do governo, e não é preciso inventar nada: só revelar a verdade dessa administração.

A mídia empresarial, como se tem visto, necessita de alguma nova comprovação, se apresenta contra o governo Lula. Ou pela ação, pelo noticiário diário dela. Ou pela omissão, pelo silêncio, escondendo o positivo da atual administração.

Não caberia um maior fortalecimento de nossa impressionante rede alternativa, os tantos veículos interessados num jornalismo sério, capaz de revelar os feitos do governo, ao tempo em que desenvolve a crítica, tão necessária? Essa rede, sempre a enfrentar enormes dificuldades porque não monopolista?

Não caberia uma adaptação, creio ser esta a palavra, ao mundo digital, às TIs, a esse admirável e complexo mundo novo, ao envolvimento com os algoritmos?

É nesse mundo principalmente onde se desenrola a batalha da comunicação e da própria luta política, e nosso governo, numa impressão aligeirada, não tem sabido lidar de modo apropriado com ele.

Lamentavelmente, a extrema-direita, aqui e em todo o mundo, tem sabido lidar de modo muito mais eficiente com as novas tecnologias da informação, e o faz divulgando fake news maciçamente. Nós devemos fazê-lo lidando com a verdade. Não precisamos mais do que a verdade.

Estamos no canto do ringue, sem razão. Necessário sair dele.

Com uma política de comunicação capaz ao menos de revelar a prioridade do governo Lula à melhoria da qualidade de vida do nosso povo. Os fatos estão aí. Necessário virar a chave.

Como disse no início, não há milagre, e do nosso lado, há os partidários do milagre, sempre a ressaltar as óbvias insuficiências, impossíveis de não existirem num país como o nosso, tão complexo, e saído de um governo tão destrutivo. Mas, como já dito, há realizações extraordinárias, algumas parecendo quase milagre, a permanecerem submersas por falta de uma política adequada de comunicação.

Evidente, para finalizar, nossos problemas estruturais não serão resolvidos num governo, não serão devidamente enfrentados em quatro anos. José Dirceu disse isso recentemente, num discurso em Brasília, e está coberto de razão. Mas no atual governo, estamos dando passos, e é preciso torná-los públicos. Para garantir um direito da população, o de ter acesso ao conhecimento do que está sendo feito. E para dar cada vez mais legitimidade a uma administração preocupada com a sorte do nosso povo.

Referências

ACIONISTAS da Petrobras ganharam muito dinheiro com Lula, diz Gleisi. Poder 360, 12/03/2024.

BORGES, Altamiro. Mídia esconde queda do número de famintos. Blog do Miro, 15/03/2024.

CANZIAN, Fernando. Salários voltam a aumentar participação no PIB, e lucro das empresas cai. De Folhapress, publicado em Bahia Notícias, 17/03/2024.

GALA, Paulo. PIB do Brasil cresce acima do esperado. O Globo, 8/12/2023.

GONÇALVES, Rafaela. PIB do Brasil cresce no 3º trimestre e contraria projeções do mercado. Correio Braziliense, 5/12/2023.

MÁXIMO, Welton. Balança comercial tem superávit recorde de US$98,838 bi em 2023. Safra de soja e queda das importações. Agência Brasil, 5/01/2024.

Emiliano José é jornalista e escritor, autor de Lamarca: O Capitão da Guerrilha com Oldack de Miranda, Carlos Marighella: O Inimigo Número Um da Ditadura Militar, Waldir Pires – Biografia (v. I), entre outros