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Retratos da negritude em filmes ao longo da história

Sinhá MoçaSinhá Moça -  Direção de Tom Payne (Brasil), 1953, 130 minutos,  Distribuidora: Cinemagia -  Num entrecho romântico, a heroína, abolicionista, embora filha de rico fazendeiro, luta pela causa da libertação dos escravos. Neste filme, o negro ainda é escravo, aparecendo agrilhoado e açoitado. Ainda era raro que fossem criados papéis para negros, mesmo que em posição de coadjuvantes, como aqui. Desperta a atenção Ruth de Souza, que faria longa e distinta carreira como atriz. É exemplo da grande fase do cinema industrial paulistano e da Companhia Vera Cruz, que em poucos anos de existência produziu filmes de alto padrão técnico.

 

 

Orfeu NegroOrfeu Negro - Direção de Marcel Camus (França), 1959, 103 minutos, Distribuidora: Lopert Pictures Corporation -  Adaptação do mito grego de Orfeu às favelas dos morros cariocas, com elenco negro e belo aproveitamento do carnaval. Filme francês dirigido por Marcel Camus, contou com produção local e atores brasileiros (exceto a norte-americana Marpessa Dawn) pertencentes ao Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento. Baseado na peça original de Vinicius de Moraes, com música de Tom Jobim, anteriormente encenada no Teatro Municipal do Rio com cenários de Niemeyer. Palma de Ouro no Festival de Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro. Refilmado recentemente.

 

OriOrí – Cabeça, Consciência Negra  - Direção de Raquel Gerber (Brasil), 1989, 91 minutos - Documentário de Raquel Gerber, filmado no Brasil e na África. Expande o conceito de quilombo, que passa a ser considerado como todo e qualquer núcleo de resistência negra, detectado em candomblé, capoeira, música, dança, gesto, ritual, culinária etc. Examina várias instâncias, dentro do Brasil e em países da África Ocidental, de onde procedem alguns povos ioruba de língua banto. Música de Naná Vasconcelos. Durante os onze anos de produção, acompanhou a formação e crescimento dos movimentos negros em nosso país, ouvindo seus representantes. Premiado com o 1º lugar no Festival Pan-Africano de Burkina Faso.

 

Cidade de DeusCidade de Deus -  Direção de Fernando Meirelles (Brasil), 2002, 135 minutos,  Distribuidora: Lumière / Miramax Films - O cotidiano dos traficantes de drogas (os “donos do morro”) que controlam a vida dos habitantes das favelas. Suas guerras internas entre gangues rivais, suas guerras com a polícia, suas guerras com os trabalhadores que moram nas favelas e são suas vítimas. De uma violência nunca vista. Muito competente como filme de ação, em que o suspense, as correrias e os tiroteios levam a melhor sobre a reflexão. Pelo foco narrativo identificado aos favelados, situa-se nos antípodas de Tropa de Elite, com seu foco narrativo identificado aos policiais.

 

 

AntoniaAntonia -  Direção de Tata Amaral (Brasil), 2006, 90 minutos,  Distribuidora: Downtown Filmes - A diretora Tata Amaral focaliza quatro cantoras e compositoras de baile funk, seus problemas e suas reivindicações especificamente femininas. A protagonista Antonia é vivida por Negra Li. Interessante por mostrar a originalidade feminina em meio aos timbres machistas do baile funk, com suas canções depreciativas da mulher. A vida árdua que levam nas favelas, onde as mulheres são discriminadas. Sua luta por um lugar ao sol e para superar a posição subalterna.

 

 

Filhas do ventoAs Filhas do Vento - Direção de Joel Zito Araújo (Brasil), 2003, 85 minutos, Distribuidora: Riofilmes -  De Joel Zito Araújo, militante responsável por outras notáveis realizações, como A Negação do Brasil, documentário (também livro) sobre o negro na telenovela brasileira. Indo contra a corrente de colocar o negro sempre como marginal e criminoso, põe em cena uma família bem integrada, ao longo de seu percurso e de sua própria crônica interna. Ganhou oito prêmios no festival de Gramado: um para o diretor e sete para os atores, alguns deles os mais importantes do cinema negro, com ilustre carreira, como Milton Gonçalves, Ruth de Souza e Léa Garcia, que trabalhara no primeiro Orfeu Negro.

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da FFLCH da USP e integrante do Conselho de Redação de Teoria e Debate