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Parlamentares do PT, sempre vistos como combativos, só após a posse de Lula passaram a ser vistos também como influentes

Os deputados e senadores do PT, sempre percebidos como combativos, só após a posse de Lula na Presidência da República passaram a ser vistos também como parlamentares influentes, com capacidades e habilidades na condução de debates, articulações, formulações e negociações no processo decisório no âmbito do Poder Legislativo. A imagem transmitida pela grande imprensa, até 2003, era majoritariamente de intransigência, e em geral associada a despreparo para o exercício do poder.

Uma das causas da influência dos petistas no Parlamento é a forma, ou o método, como o partido se organiza, seja na oposição, seja na situação. O sistema de rodízio na coordenação dos núcleos temáticos, nas lideranças da Câmara e do Senado, nas comissões, nas Mesas Diretoras das Casas do Congresso e nas relatorias de matérias relevantes é a principal usina de formação de quadros, tanto do ponto de vista político quanto do domínio dos procedimentos e do conteúdo das políticas públicas, divulgados ou não pela imprensa.

O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), por meio da publicação “Os Cabeças do Congresso Nacional”, desde 1994 vem constatando a influência dos membros da bancada no Poder Legislativo Federal, a partir de critérios objetivos. O partido sempre figurou entre os quatro com maior número de parlamentares na lista dos mais influentes.

Para identificá-los, o Diap adota três critérios amplamente aceitos pela Ciência Política: o institucional, entendido como o posto que o parlamentar ocupa na estrutura da Câmara ou do Senado; o reputacional, como é visto por seus colegas, por consultores legislativos, jornalistas e analistas políticos; e o decisional, como o parlamentar se comporta no exercício do mandato nas dimensões de legislar, fiscalizar e representar o povo.

A combinação desses critérios ou de alguns deles com habilidades, experiência, especialização ou manejo de outros recursos que o parlamentar consiga converter em poder e/ou liderança é que faz dele um “Cabeça do Congresso”. Os parlamentares influentes são classificados em cinco categorias, e o PT está presente em todas: debatedor, articulador/organizador, formulador, negociador e formador de opinião.

O partido, desde o início da série “Os Cabeças”, teve participação expressiva, com  mais de 20% de sua bancada na elite do Legislativo, uma performance que nenhum outro partido médio ou grande manteve ao longo das dezessete edições da publicação. A omissão desse fato pela grande imprensa só poderia ser justificada por preconceito, por motivação ideológica ou por ambas.

A título de ilustração, basta dizer que no primeiro ano da série do Diap, em 1994, quando o PT era oposição, teve 9 parlamentares (8 deputados e 1 senador) entre os 100, contra 22 do PMDB, 15 do então PFL e 17 do PSDB. Na terceira edição, em 1996, ainda na oposição, já tinha 18 parlamentares na lista, contra 23 do PMDB, 17 do então PFL e 15 do PSDB. A partir de 2000 passou a liderar, naquele ano com 21 parlamentares, o ranking dos mais influentes, condição que manteve nas últimas dez edições, incluindo a de 2010.

O sucesso da administração Lula, aprovada por quase 80% da população, e a constatação de que no Parlamento o partido sempre teve deputados e senadores capazes e influentes autorizam a conclusão de que o PT possui vocação, quadros e competência para disputar e exercer os cargos públicos decorrentes de eleição nos Poderes Executivo e Legislativo nas três esferas de governo (União, estados, Distrito Federal e municípios).

A trajetória do PT no Parlamento e no Executivo, como se vê, o credencia a comparar realizações, programas, biografia e experiência administrativa de seus quadros com os de qualquer outro partido, inclusive nos quesitos de relação democrática e respeitosa com o Parlamento e a sociedade, quando no exercício da Presidência da República.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de documentação do Diap