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No que se refere à mídia, tudo indica que temos um ano movimentado pela frente

No que se refere à mídia, tudo indica que temos um ano movimentado pela frente. Menciono algumas das possibilidades mais evidentes.

A inclusão digital continuará a avançar. A informação on-line ­ de todo tipo ­ estará cada vez mais disponível a preços acessíveis tanto nos computadores como nos celulares, que, aliás, já vêm se transformando em minicomputadores portáteis. Os últimos dados indicam que já são mais de 148 milhões de celulares em uso no país e milhões e milhões de brasileiros já fazem parte de uma geração socializada com a presença (dominante?) da internet. As consequências dessa imensa revolução são enormes.

Os "jornalões" tradicionais estão, cada vez mais, falando para si mesmos. E essa é uma das razões para a enorme perda do seu poder de "formar opinião". Será possível prosseguir contando amanhã a notícia que todos já conhecem hoje? A mídia impressa terá obrigatoriamente que se reinventar e repensar seu papel na sociedade.

Nos EUA, pesquisa realizada pelo PEW Center, divulgada no final de dezembro, revela que 40% da população obtém a maior parte das notícias sobre problemas nacionais e internacionais na internet. É a primeira vez que mais pessoas declaram preferir a internet aos jornais (apenas 35%) como fonte de informação. A televisão continua absoluta, com 70% de preferência.

E aí entrará em cena o critério da credibilidade, até agora deixado em segundo plano pelos empresários brasileiros de mídia.

Nesse contexto viveremos em 2009 um ano pré-eleitoral. Nomes de pré-candidatos à Presidência da República estão "na rua". Pesquisas de intenção de voto, idem. Interesses em jogo ­ inclusive os da própria mídia ­ ibidem. Como acontece em todas as eleições, mais uma vez a grande mídia terá suas preferências refletidas na cobertura jornalística e, ao mesmo tempo, vai manter o surrado discurso do equilíbrio e da imparcialidade. Só que agora dentro de uma tendência inquestionável de declínio progressivo de sua influência na decisão de voto da maioria dos eleitores.

Por outro lado, a batalha das ideias seguirá intensa. Em 2008, conceitos como "liberdade de expressão comercial" e teses como a que desobriga o sistema privado de mídia de sua responsabilidade em relação ao interesse público tornaram-se presentes no debate. O laboratório de "balões de ensaio" jurídico continuará a funcionar a todo o vapor em 2009. Os concessionários privados de radiodifusão continuarão a recorrer ao fantasma da censura e da ameaça à liberdade de expressão como forma de interditar o debate sobre os avanços necessários à democratização do setor. Por outro lado, está em curso um revigoramento da defesa do status quo midiático. Porta-vozes intelectualmente sofisticados permanecerão defendendo em suas colunas, artigos e comentários bandeiras que, faz tempo, foram superadas em outras democracias liberais.

E, por fim, teremos o fator Obama. Se ele cumprir as promessas de campanha para o setor de comunicações, sua posse na Presidência dos EUA deve ter repercussões positivas inclusive no Brasil. Espera-se que sejam criadas novas regras para garantir acesso aberto à internet para todos os domicílios e empresas, urbanas e rurais, ricas e pobres; impedir maior concentração da grande mídia e, ao mesmo tempo, incentivar e fortalecer a mídia local independente ­ jornais, emissoras de rádio e televisão ­; e financiar a mídia pública e comunitária, assim como outros grupos não-comerciais.

Não devemos subestimar o "efeito demonstração" potencial que a adoção dessas políticas nos EUA teria no Brasil. Os principais atores locais, eternamente contrários às medidas democratizantes, perderiam uma de suas principais referências.

É ver pra crer ­ 2009 realmente promete.

Venício A. de Lima é sociólogo e jornalista, autor e organizador de A Mídia nas Eleições de 2006, Editora Fundação Perseu Abramo, 2007