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Para reverter a difícil situação da indústria nacional, o governo deve remover a atração que sua taxa de juros exerce sobre o capital especulativo internacional

Há consenso nas análises de que a principal causa da perda de competitividade da indústria é a desvalorização do dólar. Essa desvalorização tem um componente externo e outro interno dependente da política econômica.

O primeiro está ligado à fragilidade do comércio internacional dos Estados Unidos, que importa muito mais do que exporta. Isso causa rombo nas contas externas, coberto pela venda de títulos do Tesouro americano, principalmente para China, Alemanha e Japão. Esse processo vem de longa data, expondo a incapacidade do país de equilibrar suas contas externas.

Tal componente foi ampliado com a crise de 2008, quando o sistema bancário americano quase entrou em colapso, sendo salvo pelo banco central americano, com a injeção de US$ 1,7 trilhão. Isso inundou o já saturado mercado de dólares, desvalorizando ainda mais a moeda perante as demais. Como o mercado interno americano poderá ficar semiestagnado por vários anos, a alternativa é tentar expandir a exportação. Para isso é necessário continuar desvalorizando o dólar. Assim, esse componente externo deve permanecer e, possivelmente, se agravar.

O interno é a alta taxa básica de juros, que exerce poder de atração dos especuladores externos. Isso valoriza o real perante o dólar em medida superior à que vem ocorrendo na maior parte dos países.

Além da desvantagem competitiva causada pela valorização cambial, as empresas sediadas no país enfrentam custos mais elevados do que as de muitos países com as quais compete, como de infraestrutura, logística, carga tributária, juros elevados e excesso de burocracia. São outros componentes ainda pouco atacados pela política econômica.

Todos esses fatores fizeram com que a indústria de transformação fosse perdendo peso no Produto Interno Bruto (PIB). Na década de 80 participou com 33%, na de 90 sofreu forte queda, caindo para 21%, e atualmente se limita a 15%.

O Plano Brasil Maior, de incentivo à inovação industrial, lançado pelo governo em 1º de agosto deste ano, foi um passo importante no sentido de impulsionar o crescimento da indústria nacional. Mas é pouco, uma vez que o caminho para o resgate do setor passa por políticas mais amplas para corrigir o descaso de décadas com os problemas mencionados.

A dependência de nossa balança comercial dos produtos básicos é consequência dos preços favoráveis no mercado internacional, e não causa do colapso da capacidade brasileira de colocar sua produção industrial lá fora.

Esse quadro de difícil situação da indústria nacional precisa ser radicalmente alterado. É necessário que o Brasil diversifique as exportações e agregue valor aos produtos, aproveitando insumos com vantagens comparativas em relação aos demais países.

Mas o mais importante e urgente é o governo remover o mais rápido possível a atração que sua taxa básica de juros exerce sobre o capital especulativo internacional. Isso dará maior fôlego às empresas para enfrentar, mesmo em condições desvantajosas, a inundação de produtos importados.

Com a intensificação da crise internacional, os países vêm adotando medidas de proteção a suas empresas, antepondo algumas barreiras à penetração de produtos provenientes de outros países. O Brasil também está tomando medidas nesse sentido, especialmente em cima de produtos provenientes do leste da Ásia.

Embora leve mais tempo, a perspectiva de melhora da infraestrutura e logística é favorável e poderá repor parte importante da competitividade das empresas. A desoneração da folha de pagamentos é outra possibilidade que poderá ser aproveitada, com a extensão para outros setores. Enfim, medidas de política econômica não faltam para contribuir para a recuperação da indústria nacional. O que precisa é implementá-las com rapidez.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor