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Os governos do PT não abrem mão de conduzir a política macroeconômica, diante situações que podem pôr o país em recessão ou comprometer o emprego e a renda

Entre outras razões, os governos do PT não abrem mão de conduzir a política macroeconômica, especialmente diante de crises internacionais ou especulações que passam a desorganizar a economia, pôr o país em recessão ou comprometer o emprego e a renda, a exemplo do colapso mundial de 2008.

A não interferência governamental é um dogma do sistema financeiro, mesmo que a intervenção seja para criar condições macroeconômicas boas para toda a sociedade, porque anula a capacidade que ele têm de manipular o mercado, os operadores e os analistas econômicos da grande mídia. Quer um jogo de cartas marcadas ou um capitalismo sem riscos.

No governo da presidenta Dilma, ela precisou intervir em função da conjuntura internacional, com um tipo de ativismo absolutamente necessário para um período de transição entre a crise e sua superação, sobretudo para amenizar os efeitos perversos da crise sobre o país.

Além da resistência à presença do governo na definição da política macroeconomia, pelo menos quatro outras ações governamentais provocam tamanha hostilidade do sistema financeiro privado à gestão da presidenta Dilma. Aliás, esse comportamento do mercado financeiro vale para qualquer governo que não aceite o jogo da banca.

O primeiro motivo, e não necessariamente o principal, é porque o governo Dilma ousou desafiá-lo, de um lado pressionando o Banco Central para que reduzisse a taxa Selic, com reflexos nas margens de lucro dos bancos privados, e de outro determinando aos bancos oficiais (BB e CEF) a redução do spread bancário, o que ampliou a concorrência.

Os banqueiros, que antes elogiavam o governo, passaram a hostilizá-lo e a promover campanha com o objetivo de desqualificar a presidenta e seu governo quanto à capacidade de manter a inflação e o gasto público sob controle, inclusive alugando alguns articulistas de economia da grande imprensa.

Insistiram nessa tática, aparentemente sem resultados, durante dois anos, até que, por sazonalidade nos produtos hortifrutigranjeiros, houve aumento de preços de alguns alimentos, inicialmente da batata e logo em seguida do tomate, criando as condições para a vitória da guerrilha inflacionária, que assustou os consumidores e forçou o governo a autorizar a elevação da taxa de juros.

O segundo motivo é porque nos governos do PT os recursos estatais e o dinheiro de origem trabalhista (FAT, FGTS e alguns fundos de pensão de estatais), com baixa intermediação do sistema financeiro privado, são utilizados para fornecer crédito barato, gerar emprego e renda. Ou seja, em lugar de ir para a especulação, com ganhos astronômicos dos rentistas, esse dinheiro foi vai para o investimento produtivo.

Em um governo de perfil liberal, que afrouxa ou desregulamenta a economia e abre mão de dar a direção aos investimentos, esses recursos certamente seriam administrados por bancos privados, e não por bancos oficiais (BB e CEF) nem tampouco pelo BNDES, e certamente iriam para a especulação, e não para o investimento.

O terceiro motivo foi a criação do Fundo Soberano, com as finalidades de promover investimentos em ativos no Brasil e no exterior, formar poupança pública, mitigar os efeitos dos ciclos econômicos e fomentar projetos de interesse estratégico do país localizados no exterior. Isso reduz as perspectivas de captação e administração de recursos públicos pela banca privada.

O quarto foi a criação do Banco dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que terá um capital inicial de US$ 50 bilhões e poderá ser utilizado, com custo mais baixo, por seus sócios, o que, igualmente, não agradou aos banqueiros brasileiros.

Por tudo isso, o sonho do mercado financeiro, diante do “risco” de intervenção governamental, é garantir “autonomia e independência” ao Banco Central, que nessa condição fará o que os banqueiros determinam, enquanto o povo, que elege o presidente da República e o Congresso Nacional, seria o maior prejudicado sem o BC independente e autônomo em relação ao mercado financeiro privado. É isso que está em jogo nestas eleições.

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap