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O desafio maior é o crescimento. Para garanti-lo em bom nível, é necessário reduzir a taxa de juro do consumo, que é a maior do mundo

Início de ano é o momento das avaliações sobre o ano que findou e previsões para o novo.

O que marcou 2011 foram inflação alta e crescimento baixo. A explicação é simples. Desde setembro de 2010 houve um surto inflacionário no mundo, a partir da escalada dos preços das commodities. Além da inflação importada, normalmente nos quatro primeiros meses o IPCA registra metade da inflação do ano, devido ao reajuste de transportes coletivos, despesas escolares, gasolina, álcool, IPTU, IPVA etc.

Para combater a inflação importada e a sazonalidade, o governo no ano passado comprou a tese do mercado financeiro. A causa da inflação era o excesso da demanda em relação à oferta e, por isso, era preciso encarecer o crédito, elevar a Selic e reduzir despesas, ou seja, pisar no freio da economia. E assim foi feito.

Resultado: o crescimento econômico, antes estimado em 5%, foi afundando até o governo perceber que havia exagerado na dose, mas o estrago já estava feito. Por outro lado, como o diagnóstico da inflação estava errado, a externa empurrou a interna para o limite de 6,5%.

Neste ano o governo pretende maior crescimento e menor inflação. O ministro da Fazenda prevê crescimento de 5% com inflação de 4,5% e o mercado financeiro, de 3,3% e 5,3%, respectivamente. O que vai influenciar os resultados é a intensidade da crise da zona do euro e as medidas que o governo adotar para ativar a economia. Uma coisa parece certa: a inflação deixa de ser o problema central da política econômica em 2012. A prioridade, segundo a presidenta, é a reativação da economia.

A intensidade da crise vai depender, em parte, da possibilidade de implementação de medidas que permitam a rolagem das dívidas soberanas dos países mais endividados. Como estes têm déficits estruturais nas contas externas, o problema é mais grave do que o simples ajuste fiscal. Assim, avalio ser mais provável uma crise com estagnação ou recuo da economia da zona do euro neste ano. Isso vai dificultar exportações, baratear importações e restringir o crédito externo.

Aqui, mesmo estimulando exportações, poucos resultados poderão ser conquistados, face à maior concorrência no mercado internacional. Com os mercados internos semiparalisados, é vital para Estados Unidos, Europa e Japão ampliar as exportações. A essa pressão vem se somar a da China, que está deslocando parte de suas vendas, antes destinada aos países desenvolvidos, para os emergentes. Restam as commodities, que devem sofrer estagnação/redução na demanda e nos preços, mas serão o carro-chefe das exportações, devido ao abastecimento da China.

Quanto ao crédito, o colchão de mais de R$ 400 bilhões de depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central basta para garantir liquidez à economia.

Quanto à inflação, é de esperar uma redução/estabilização dos preços externos, em razão de maior oferta que demanda. Isso ajuda a conter cerca de metade dos preços internos. A outra metade fica com os preços administrados (30%) e serviços (20%). Sabe-se que os preços administrados são contidos em ano eleitoral. Assim, 80% da inflação poderá ser baixa. A isso se soma a nova metodologia de cálculo do IPCA, reduzindo-o em meio ponto. Esses fatos podem levá-lo a ficar abaixo da meta de 4,5%.

O desafio maior é o crescimento. Este não se sustentará, apesar do empurrão que o salário mínimo vai dar no início do ano, sem vigoroso estímulo ao consumo. Para garanti-lo e em bom nível, é necessário reduzir a taxa de juro do consumo – a maior do mundo, desde 2000 –, que constitui seu principal entrave. Isso implica enfrentar o poderio do mercado financeiro, o que não foi feito até hoje. Do contrário, corre-se o risco de repetir o baixo crescimento de 2011. Vamos aguardar.

Amir Khair é mestre em Finanças Públicas pela FGV e consultor