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Theodomiro Romeiro dos Santos morreu no dia 14 de maio de 2023. Condenado à morte aos 19 anos, em 1971, tornou-se um símbolo da luta pela anistia

 

Theodomiro Romeiro dos Santos morreu no dia 14 de maio de 2023 depois de enfrentar desde 2018 as sequelas de um AVC hemorrágico. Considerado o mais famoso preso político brasileiro, condenado à morte aos 19 anos, em 1971, tornou-se um símbolo da luta pela anistia, e às portas dela, em 1979, foge da prisão, voltando apenas em 1985, com o fim da ditadura. Torna-se juiz do Trabalho, e casa-se com Virginia Bahia, também juíza do Trabalho. Quando preso, em outubro de 1970, é violentamente torturado, chegando a desmaiar na fase inicial. Permanece preso durante quase nove anos. Um revolucionário. Vamos falar um pouco dele nessa série.

O Grupo de Fogo do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR) decidiu-se por uma ação ousada: assaltar o Banco do Bahia, à Avenida Lima e Silva, no bairro da Liberdade em Salvador. Ação de expropriação. Buscar dinheiro do capital para financiar a revolução.

Breve parênteses.

O PCBR era uma das dissidências do PCB. Nascido em 1968 por iniciativa principalmente de Mário Alves, Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho, notórios dirigentes comunistas, os dois primeiros da Bahia, os três ex-integrantes do PCB.

Violenta repressão ao partido, no início de 1970. Mário Alves, trucidado pela ditadura, assassinado, um dos desaparecidos daquele período sombrio. Jacob Gorender e Apolônio de Carvalho sobrevivem a assombrosas torturas. Em Salvador constitui-se uma nova direção regional com Paulo Pontes, Dirceu Régis e Renato Ribeiro.

Fecha-se o parêntese.

Theodomiro Romeiro dos Santos, nascido a 29 de dezembro de 1951, chega em 1969 em Salvador com 18 anos incompletos. Início de ano, mala pesada, noite, ele depara com Naomar de Almeida Filho, mais tarde reitor da Universidade Federal da Bahia, no portão do Colégio Maristas, onde iria estudar. Naomar, alunos do Maristas, o ajuda. De soslaio observa, quando ele abre a mala no quarto em que ficaram: dentro, vários livros e um revólver. Em 1970, Theodomiro pede para ir para o Juvenato: não permanecer mais no internato, ganhar o direito de morar fora. Concluíra o terceiro ano colegial.  Os dois anos anteriores, fizera em Natal.

Othon Jambeiro, mais tarde vice-reitor da Universidade Federal da Bahia, a pedido de um amigo, consegue um apartamento onde Theodomiro passa a morar, no bairro da Barra. Como não havia nada no imóvel, Othon consegue um fogão para ao menos ele poder cozinhar.

Theodomiro ingressa no BR no início de 1970, oficialmente. Adeus, Maristas. Adeus, Juvenato. A iniciação militante dele fora o avesso da militância revolucionária: como cristão, envolveu-se em trabalhos sociais da Igreja Católica, sob a direção em Natal de Dom Eugênio Salles, um controvertido conservador. E digo controvertido porque houve momentos, quando no Rio de Janeiro, de ele proteger prisioneiros políticos. 

Theo, assim o chamamos sempre, desde a Galeria F, da Penitenciária Lemos Brito em Salvador, era filho de um capitão do Exército, Modesto Ferreira dos Santos, e da professora Georgina Romeiro dos Santos. Teve, portanto, uma formação conservadora ou se quisermos simplesmente uma formação cristã.

O assalto ao Banco da Bahia

O PCBR dava uma guinada militarista, foquista, com uma nova e jovem direção nacional, na qual despontava a figura de Bruno Maranhão. Talvez, e é só especulação, o partido não se tornasse tão militarista, tão foquista como se tornou caso os principais dirigentes não fossem presos, um deles morto e desaparecido, Mário Alves. O foquismo do BR acompanhava tendência de toda a esquerda armada, a acreditar pudessem homens e mulheres corajosos, poucos fossem, serem capazes de derrotar a ditadura, mesmo longe do povo.  

O partido decide então fazer a ação do Banco da Bahia. Banco histórico, nascido em 1858, comandado desde 1942 por Clemente Mariani, e que em 1970 disputava fortemente o mercado com o Banco Econômico.

A ação foi comandada por Antônio Prestes de Paula, veterano militante e militar, uma das lideranças da Revolta dos Sargentos de 1963. Fora militante do PCB, agora no BR. Dela, participariam, ainda, Paulo Pontes, Valdir Sabóia e Fernando Augusto da Fonseca. E o mais jovem de todos, Theodomiro. Para ele, um ousado ritual de iniciação. Estes cinco entrariam no banco.

No carro de espera, Alberto Vinícius. Havia outro, de cobertura, onde estariam Getúlio Cabral, Adeildo Fonseca e Bruno Maranhão. Teriam a função de conter quaisquer investidas de forças policiais. Tudo planejado.

25 de maio de 1970, uma segunda-feira, já mais de dez horas da manhã, banco já com movimento intenso. Os cinco entraram na agência, assim como clientes fossem, tal e qual o combinado. Prestes de Paula, o comandante se precipitou, e ao entrar, foi logo avisando aos gritos:

– Isto é um assalto, isto é um assalto!

Isso não fora combinado. Paulo Pontes não conseguiu sequer colocar a máscara, surpreendido pelo gesto do comandante da ação. A ação toda, de cara limpa: um sério furo de segurança. Os demais conseguiram colocar as máscaras. Todos, de armas nas mãos. Imaginem o clima. Os clientes e funcionários, apavorados. Tantas armas. Não era brinquedo, não. Valdir Sabóia e Theodomiro subiram para o primeiro andar. Paulo Pontes, um revólver em cada mão, aos gritos:

– Todo mundo pro banheiro!

Todos desceram para o subsolo, onde localizava-se o sanitário. Paulo, de vigia. Tudo parecia correr bem.

Quem disse?

De repente, fuzilaria. Começaram os tiros, vindos de fora. Polícia cercando o banco. Que diabo é isto? Não estava nos planos. A cobertura não funcionara, o fato. Melhor aceitar: dói menos. Os militantes respondem à artilharia de fora. Tiro pra cá e tiro pra lá. BR não contou conversa: meteu bala nos cinco policiais. Era cinco contra cinco.

Duelo na Liberdade. Manhã quente. Gritaria dos diabos. Os tiros estilhaçavam os vidros do banco. Era preciso saber qual seria o momento de saída do banco, e só o comandante podia decidir isso. Quando Prestes de Paula dá a ordem de retirada, Paulo é o primeiro a sair. Vê um sujeito dentro de um carro, colhido no meio da fuzilaria, estupefato, paralisado, sem saber o que fazer. O tal sujeito deixa o carro. Quase em surto. Abre os braços, o pavor expresso nos olhos, como a perguntar a um Paulo armado com os dois revólveres nas mãos sobre o que fazer. Paulo tinha de dar um jeito naquilo. Teve sangue frio e deu dois tiros na direção dos pés do sujeito. Foi sentir o calor dos tiros, e o homem saiu do torpor, e danou-se a correr.

A essa altura, dois policiais já estavam feridos: um escrivão de polícia e um soldado. Uma correria só: Paulo entra no banco da frente do Aero-Willys, Alberto Vinícius ao volante, sem nunca largar o 38 e o 32. Theodomiro, Valdir e Fernando vêm vindo, andando tão rapidamente quanto podiam. Arrastavam dois sacos repletos de dinheiro, carga preciosa. Paulo, ainda ouvindo tiros, volta-se e aperta o gatilho do 38, arrebentando o vidro de trás do Aero-Willys. Isso cria uma grande confusão, sensação de que alguém está ferido.

Prestes de Paula dá a ordem de arrancar, obedecida por Vinicius. Um dos sacos, justamente o de maior volume de dinheiro, fica no meio da rua quando o carro segue. Só mais tarde, já contando o dinheiro do assalto, ou expropriação, como se queira chamar, por um milagre ninguém ferido, os cinco que entraram no banco ficam sabendo como a polícia chegara até eles tão rapidamente.

Muito próximo do banco, havia uma delegacia de polícia. O PCBR havia feito o levantamento da área e sabia disso. Tinha, no entanto, a convicção de ter condições de fazer a cobertura e, na hipótese de os policiais descobrirem o assalto, impedir que chegassem até o banco.

Nem tudo deu certo, no entanto. Armas, armas pra que te quero? Um imprevisto sério: o rifle levado por Getúlio, Adeildo e Bruno no carro encarregado da cobertura falhou na hora H. Um deles puxou o gatilho de modo a atingir o carro de polícia no momento da saída da delegacia. O carro passou, nem os viu. Não houve tiro.

Getúlio Cabral puxou de seu revólver, mas sentiu de repente um metal frio na cabeça. Um detetive passava por ali, observou toda a cena, e nesse momento vê Getúlio preparando a arma e encosta o revólver na cabeça dele. Puxa o gatilho. O detetive sente o revólver negar fogo. Apavora-se. Dana-se a correr, fugindo, Getúlio nos calcanhares dele, atirando.

As armas falhavam naquele dia. De um lado e de outro. Algumas, ao menos. Um dia de cão. Para os dois lados: o da polícia e dos militantes guerrilheiros, mais para a polícia, com gente ferida.

Foi a grande ação do BR em Salvador, no período. E a primeira prova de fogo do jovem Theodomiro. Dezoito anos e já numa ação como aquela. Fadado a uma existência cheia de aventuras. Porque desde cedo no caminho da revolução, a cobrar coragem e dedicação, sentimentos de servir ao povo.

Uma existência revolucionária.

Prisão, sargento morto, torturas

A existência revolucionária ganha cores mais dramáticas no dia 27 de outubro de 1970, quando no Dique do Tororó, em Salvador, Theo reage a uma prisão arbitrária e mata o sargento Walder Xavier de Lima. Pensar um pouquinho, e qualquer um de nós conclui não ser qualquer coisa um jovem de 18 anos meter bala em agentes da repressão.

No Dique do Tororó, numa reunião a céu aberto, de pé, Theodomiro, Paulo Pontes, Getúlio de Oliveira Cabral e Dirceu Régis. Baiano, apenas o último. Todos do BR. Dirceu Régis foi logo embora, e os outros três permaneceram conversando. Getúlio, sempre atento, percebe um jipe se aproximando lentamente. Não teve dúvidas: saca da arma, sai correndo, e passa a atirar na direção jipe. Theodomiro e Paulo estavam de costas para a rua, nem tiveram tempo de tentar a fuga. Quatro homens os agarraram e os algemaram. Presos.

Souberam depois quem eram os brutamontes: sargento da Aeronáutica Walder Xavier de Lima, cabo do Exército Odilon Costa e os agentes federais Hamilton Nonato Borges e José Freire Felipe Júnior. O jipe arrancou atrás de Getúlio, e ele corria, olhava pra trás e atirava. Conseguiu escapar por uma estreita e insegura ponte, pinguela a melhor definição, alcançando a outra margem do Dique do Tororó.

No momento exato da prisão, tomaram uma pasta preta das mãos de Theodomiro e um pacote de roupas das mãos de Paulo. Os dois foram jogados nos fundos do jipe, mão direita do primeiro algemada à esquerda do segundo. Na confusão, tiros e mais tiros trocados entre Getúlio e os policiais, devolvem a pasta a Theodomiro. Dentro, um revólver 38.

Theo ainda lançou um olhar pra Paulo, já com a mão esquerda puxando o zíper da pasta preta, como pedindo concordância. Estava decidido: viu ali a chance de garantir a fuga definitiva de Getúlio, além disso, a dele e a de Paulo.

O sargento Walder havia saltado, estava na porta do jipe. Theo com a mão esquerda, a única livre, e ele não era canhoto, começa a atirar. Mira o sargento, e erra o primeiro tiro. O segundo, no entanto, jogou o sargento ao chão, atingido na cabeça. O terceiro tiro, dirigido a José Felipe, outro erro: aloja-se no teto do veículo. Os outros tiros, um atinge Hamilton Nonato, ferido. Theo acabou dominado, desarmado, e logo sentiu na boca o gosto de sangue, a escorrer da cabeça ferida pelas coronhadas dos agentes, assim espancado até chegar à sede da Polícia Federal, na Cidade Baixa, a um pouco menos de cinco quilômetros do Dique do Tororó. Os agentes, enfurecidos, descontrolados, esqueceram de socorrer o sargento ferido. Abandonado, morreu no asfalto.

Quando os dois chegaram à Polícia Federal, foi uma barbárie só. O superintendente, coronel Luiz Arthur de Carvalho, ordenava o massacre. Lá estavam duas dezenas de policiais à paisana e um pelotão de oito soldados do Exército, sob o comando de um sargento. A sessão de socos, pontapés, coronhadas de revólver e de fuzil foi inaugurada pelo próprio coronel. Horas de selvageria, até os dois restarem banhados em sangue.

Um clima de ódio e de vingança. A ditadura acreditava ter a exclusividade da violência, e tinha. Por isso, aqueles homens consideram inaceitável que pudesse um jovem de 18 anos reagir a uma prisão. Theodomiro sangrava muito. Tanto, tanto, a ponto de o coronel Luiz Arthur de Carvalho, o mesmo que menos de um mês depois vai ordenar a minha tortura, temeroso ele pudesse morrer sob os cuidados dele, mandou chamar um enfermeiro do 2º Distrito Naval, ao lado da Superintendência Polícia Federal.

O enfermeiro, transparecendo o mesmo ódio dos demais militares e policiais, corta o cabelo de Theo, observa os ferimentos causados pelas coronhadas, considera-os leves e diz:

– Não é necessária nenhuma providência.

Remexeu na pasta dele e lamentou:

– Pena não tenha trazido uma seringa. Dava uma injeção de éter em seu saco, filho-de-puta.

Não ficou nisso. Pegou o vidro de éter e o derramou inteiro na cabeça de Theo, cuidando para que uma boa quantidade chegasse às faces e aos olhos. Uma dor de enlouquecer. Sensação de estar em chamas. O inferno era ali. Sabia, tinha certeza: o pior ainda estava por vir. Separado de Paulo, foi levado ao primeiro andar, voltaram a torturá-lo.

Batiam sem parar, perguntando sempre aos gritos:

– Qual é o seu nome?

– Qual é o seu nome?

De repente, o ódio torna-se metódico. O espancamento não era mais indiscriminado. A selvageria, agora à base de socos e cassetetes, concentrava-se nos rins e joelhos, principalmente no direito, já bastante inchado. Desmaiou quando o dia 28 de outubro começava a clarear. Só voltou a si na manhã do dia 29, um desmaio de mais de 24 horas. E mal ganhou consciência, recém-acordado, tem os olhos vendados, e é submetido ao pau-de-arara, pouco importando aos torcionários os joelhos inchados dele.

Mexiam em fios, percebeu. E iniciaram os choques elétricos. Um fio, amarrados aos órgãos genitais. Outro, livre, percorrendo todo o corpo, manuseado pelos torturadores. O corpo inteiro estremecia, e a dor nos órgãos genitais era de intensidade jamais sentida. Imaginava fossem explodir. E eram seguidas as indagações, raivosas e sem rumo:

– Seu nome, filho-de-puta?

– Onde fica o aparelho onde você morava?

– Quem dirige o BR?

Logo descobriram o diminutivo do PCBR, a tortura era acompanhada pelo cantarolar diabólico de música da época na voz tonitruante de Tony Tornado, vencedor do V Festival Internacional da Canção de 1970:

“A gente corre, a gente morreu na BR-3”.

Início da noite do dia 29 de outubro de 1970. É arriado do pau-de-arara. Levado a prestar depoimento a Luiz Arthur de Carvalho. Só neste momento revela o nome verdadeiro, deixando o coronel à beira de um ataque de nervos, obrigado a rasgar o primeiro depoimento, dado por ocasião do flagrante. Só não agrediu Theo porque ele encontrava-se em frangalhos.

Na mesma noite, é levado ao Quartel do Barbalho. Suporta, durante 12 dias, sessões seguidas de pau-de-arara, choques e afogamento. Nos três primeiros dias, não comeu nada nem bebeu um único gole d’água. Nesses 12 dias também não o deixaram dormir. Era perceberem ele conciliar o sono, e chutavam-no impiedosamente. Durante 33 dias não tomou banho, não obstante as grossas placas de sangue na cabeça.

Numa das sessões, o capitão do Exército, Hemetério Chaves Filho, comandante do Barbalho, o torturou pessoalmente. Esse capitão era um sádico. Gostava de citar o Marquês de Sade. Tinha uma espécie de êxtase quando torturava, eu próprio uma das vítimas dele. No dia da tortura em Theo, o sadismo dele revelou-se de modo mais completo. Uma celebração: vestiu um calçãozinho azul, uma camiseta branca, fez aquecimento, várias flexões, e depois começou a torturá-lo.

Nada do que é humano me é estranho, Terêncio tinha razão, pois não é?

O cabo Dalmar Caribé, um dos assassinos de Lamarca, no dia 27 de novembro de 1970, chega à frente da cela de Theo, no Quartel do Barbalho, entra acompanhado de quatro agentes e o espanca brutalmente. Berravam, babavam de tanto ódio. Eu já estava preso, fui testemunha da barbaridade. Como se vingassem o sargento morto. O ódio não guardava limites. Em outra ocasião, testemunhei o general Abdon Sena, comandante da VI Região Militar, chegar à frente da cela de Theo e dizer alto e bom som, de modo a todos poderem ouvir:

– Se dependesse de mim, você já estaria morto!

Theo sobreviveu.

Oldack Miranda, em conversa depois da partida definitiva de Theo, disse:

– Bem olhado, Theodomiro foi um vitorioso. Passou por tudo isso, por uma ditadura impiedosa, torturado do jeito que foi, condenado à morte tão jovem, fugiu, foi pro exílio, voltou, tornou-se juiz, e pôde testemunhar a vida política do país por tanto tempo, testemunhar e participar já sob a democracia. Uma vida vitoriosa.

Oldack tem razão.

 

Referências

JOSÉ, Emiliano. Galeria F – Lembranças do Mar Cinzento (primeira parte). São Paulo: Casa Amarela, 2000.

JOSÉ, Emiliano. Galeria F – Lembranças do Mar Cinzento (segunda parte). São Paulo: Editora Casa Amarela, 2004.

JOSÉ, Emiliano. O Cão Morde a Noite. Salvador: EDUFBA, 2020.

 

Emiliano José é jornalista e escritor, autor de Lamarca: O Capitão da Guerrilha com Oldack de Miranda, Carlos Marighella: O Inimigo Número Um da Ditadura Militar, Waldir Pires – Biografia (2 volumes), O Cão Morde a Noite, entre outros