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Inegável o papel que a internet desempenhou no processo eleitoral

Os dados sobre a internet no Brasil têm mudado a uma velocidade espantosa. Pesquisa pioneira realizada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – SP durante a eleição presidencial de 2006, além de chamar a atenção para o fato de que apenas 25% do eleitorado (31,4 milhões) tinha acesso à internet, revelou que os principais blogs políticos eram de “jornalistas vinculados a grandes jornais que (eram), inclusive, abrigados nas páginas desses grandes jornais ou em portais a eles vinculados” (sic) e que havia “uma convergência de conteúdo e de perspectiva na análise de informações em relação a esses veículos”. Apesar disso, foi inegável o papel que a internet desempenhou ao longo do processo eleitoral como auxiliar na organização de eleitores, de lideranças de opinião e na articulação de segmentos politicamente ativos da classe média.

Menos de um ano e meio depois, o Interactive Advertising Bureau Brasil (IAB Brasil) revelou que 40 milhões de brasileiros já têm acesso à internet e a estimativa para dezembro de 2008 é que esse número chegará a 45 milhões, o que representa um crescimento de 15% em relação a 2007. A internet, assim, passa a ser a segunda maior mídia de massa do país, com alcance inferior apenas ao da TV. E o mais revelador: 37% dos internautas que acessaram a internet em 2007 eram da classe C (os demais eram 50% das classes A e B e 13% das classes D e E). Em 2008, a expectativa é que o segmento da classe C alcance 40%.

Os pressupostos para a ocorrência dessas incríveis mudanças são o aumento da renda e os avanços na escolaridade de camadas significativas da população. A inclusão digital, aliás, é um setor em que as políticas públicas têm obtido resultados positivos. Exemplos são o Computador para Todos e os Pontos de Cultura. Em 2007, pela primeira vez, a venda de computadores (10,5 milhões) ultrapassou o total de aparelhos de TV comercializados no país.

Esse crescimento ocorre paralelamente a uma relativa estagnação da mídia impressa (à exceção de algumas revistas populares) e, sobretudo, dos principais jornalões. Parcela importante de nossa população, historicamente excluída do acesso à mídia impressa, estaria hoje em condições de multiplicar as mensagens recebidas diretamente da internet e também aquelas “mediadas” por suas lideranças (que se utilizam intensamente da internet).

O maior acesso a fontes diferentes de informação e o aumento da rede de relações sociais à qual o cidadão comum está interligado diminuem o poder de infl uência que a grande mídia tem de agir diretamente sobre sua audiência (ouvintes, telespectadores e leitores) e fortalecem a mediação exercida pelas lideranças locais. Os “formadores de opinião” tradicionais passam a ser substituídos por “líderes de opinião” comunitários com acesso à maior diversidade e pluralidade de informação existente na internet.

Dentro desse novo panorama, há indicações de que blogs de jornalistas que já foram ligados à mídia tradicional, sites alternativos e/ou de crítica de mídia passaram a ser tão ou mais visitados do que os “antigos” blogs e os próprios sites dos jornalões. Daí o atual sucesso de alguns desses blogs em amplas camadas da população e a incrível capacidade de multiplicação capilar de informações e análises.

Prevenindo-nos para não aceitar argumentos falaciosos do tipo “as novas tecnologias da informação tornaram obsoletos os riscos da concentração (da mídia)”, que têm sido colocados por donos dos conglomerados midiáticos globais, não há dúvida de que a internet amplia consideravelmente o espaço público para o debate e a disputa política e ainda se constitui em alternativa ao oligopólio informativo da grande mídia. É um importante avanço na longa caminhada pela necessária e inadiável democratização da comunicação.

Venício A. de Lima é sociólogo e jornalista, autor/organizador de A Mídia nas Eleições de 2006, Editora Fundação Perseu Abramo, 2007