Colunas | Cinemateca

Uma diva do cinema que acabou sendo porta-voz das várias lutas encampadas nos filmes que fez

JuliaJulia - Direção de Fred Zinnemann (EUA), 1977, 118 minutos)  Ao receber o Oscar de coadjuvante por interpretar uma médica judia que permaneceu na Alemanha nazista, agindo na resistência, a atriz defendeu a causa palestina no discurso de agradecimento. Naquele reduto de aliados de Israel que é Hollywood, provocou escândalo  e entrou para a lista negra; mas não lhe faltaram prêmios em outros lugares, inclusive em Cannes por duas vezes. E aos 70 anos foi eleita pela revista People uma das 100 “Beautiful People” do mundo. Costuma encarnar mulheres decididas e autônomas, com muita força de caráter, de convicções entre feministas e socialistas.

 

Blow-up (Depois Daquele Beijo)Blow-up (Depois Daquele Beijo) - (Direção de Michelangelo Antonioni,França/Reino Unido/EUA, 1966, 111 minutos) - A atriz, que estreou na Royal Shakespeare Company e agora, aos 74 anos, está atuando numa montagem de Shakespeare nos palcos de Londres, desponta para a fama nesse filme, em que Antonioni perenizou a swinging London dos anos 1960. Ali, tudo se inventava em matéria de comportamento avançado, que depois o resto do mundo copiava. Concentração de contracultura, Beatles, minissaia, psicodelismo, drogas, rock’n’roll: espírito libertário, contestador e antiburguês. O protagonista é um fotógrafo, anunciando a “sociedade do espetáculo”, ou a hegemonia do visual que chegava a galope.

 

Torturados (Down Came a Blackbird) Torturados (Down Came a Blackbird) - (Direção de Jonathan Sanger, EUA, 1995, 113 minutos) - Uma psicanalista especializa-se no tratamento de choque pós-traumático causado por tortura a presos políticos. Na clínica, recebe exilados da África, da América Latina, da Ásia. Hospeda-os, dá-lhes escuta, cuida de seu físico e de sua mente. Aparecem no filme os vários tipos de perseguição empregados para abafar a resistência à tirania em diferentes países. Um enigma, difícil de ser decifrado, cria o suspense e aumenta a complexidade das questões tratadas, introduzindo o tema da delação.

 

 

As Troianas (The Trojan Women)As Troianas (The Trojan Women) - Direção de Michael Cacoyannis, Inglaterra/Grécia/EUA, 1971, 106 minutos
Adaptação da famosa tragédia de Eurípides. Este autor privilegiou personagens femininas, quando era norma na tragédia que os heróis fossem homens. Põe em cena as mulheres da família de Príamo, depois que, saqueada e incendiada pela liga grega, Troia caiu e seguiu-se o massacre de todos os homens. Eurípides enfatiza o triste destino das mulheres em qualquer guerra: meros despojos, escravas e concubinas dos vencedores. Vanessa Redgrave faz o papel de Andrômaca, esposa do herdeiro do trono troiano, Heitor, que vê seu filho ser atirado do alto das muralhas para que a estirpe se extinga.

 

O Poder Vai Dançar (The Cradle Will Rock) O Poder Vai Dançar (The Cradle Will Rock) - Direção de Tim Robbins, EUA, 1999, 133 minutos - Mistura personagens inventados a outros históricos, como Frida Kahlo, Diego Rivera, Orson Welles, Nelson Rockfeller. Centrado na década de 1930, na Grande Depressão, quando as artes nos Estados Unidos eram extremamente politizadas. O filme reconstrói a hoje legendária montagem de um musical com esse título, de tons brechtianos, dirigido por Orson Welles em 1937. Teatro de militância, em favor dos trabalhadores e denunciando as forças do capital, a montagem acabaria por ser proibida pelas autoridades.

 

ComradesComrades - Direção de Bill Douglas, Reino Unido, 1986, 182 minutos -História da repressão a uma tentativa de associação de auxílio mútuo criada por trabalhadores rurais ingleses em 1834. Só por isso, são presos, condenados e desterrados para a Austrália. Os seis lavradores, que passaram para a posteridade com a alcunha de “Os Mártires de Tolpuddle”, do nome da localidade em que viviam, tornaram-se heróis do movimento operário e das lutas de formação do proletariado na Inglaterra. Vanessa Redgrave faz uma ponta. São suas estas palavras: “Escolho meus papéis com todo o cuidado, para que ao fim de minha carreira tenha coberto inteira a história da opressão.”

Walnice Nogueira Galvão integra o Conselho de Redação de Teoria e Debate