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Filmes que recontam as lutas pela conquista do voto e de direitos

O Voto É SecretoO Voto É Secreto - (Direção: Babak Payami, Irã, 2001, 100 minutos) - A jovem agente eleitoral, com uma urna de papelão nas mãos, tem um único dia para recolher os votos dos ralos habitantes de uma ilha, na primeira e recente eleição democrática no Irã. Aparece até um eleitor que só vota em Alah. O motorista do jipe, um soldado designado para ajudar a moça, discute com ela – mas no fim, em seu próprio voto, põe o nome dela na cédula. Tal voto não vale, mas vejam o tamanho da homenagem... Modesto e discreto, o filme discute questões políticas de alcance universal. Prêmio de direção e roteiro em Veneza; prêmio especial do júri na Mostra Internacional de São Paulo.

 

Politicamente Incorreto (Bulworth) Politicamente Incorreto (Bulworth) - (Escrito, produzido, dirigido e estrelado por Warren Beatty, EUA, 1998) - Uma aula completa: o candidato a senador pelo Partido Democrata entra em conchavos e faz qualquer concessão para ser eleito, embora nada pretenda cumprir do que promete.  Demonstração de como se pode conscientemente engambelar os negros, que sempre votaram e continuam votando maciçamente nesse partido. O filme é engraçado por seu cinismo, mas também patético pela descrença nos instrumentos de participação democrática. Sarcástico, não agradou muito e desde então foi coberto por um manto de silêncio; mas, raro e extraordinário no panorama americano, deve ser visto.

 

Anjos Rebeldes (Iron Jawed Angels)Anjos Rebeldes (Iron Jawed Angels) - (Direção: Katja von Garnier, EUA, 2004, 123 minutos) - O movimento das sufragetes nos Estados Unidos, historiando a luta pelo direito de voto às mulheres. As brutalidades a que foram sujeitas as militantes, que se agrilhoavam aos portões dos edifícios públicos para resistir: espancamento, prisão, alimentação forçada por tubos quando faziam greve de fome. Por volta do primeiro quartel do século 20, a vitória estaria à vista. Houve ramificações do movimento em nosso país, onde as mulheres votaram pela primeira vez  em 1934, muito antes da Suíça, em 1971. Com Hilary Swank, Anjelica Huston, Julia Ormond, Frances O’Connor.

 

EntreatosEntreatos - (Direção: João Moreira Salles, Brasil, 2004, 117 minutos) -Retrata o último mês da campanha pela eleição de Lula em 2002. O espectador toma conhecimento dos bastidores da campanha, registrados dia a dia. Deve ser visto junto com outro documentário do mesmo ano, Peões, de nosso maior documentarista, Eduardo Coutinho, no qual velhos militantes recordam para a câmera os eventos dessa passagem fundamental do movimento operário e da História do Brasil que foram as greves dos metalúrgicos em 1979-1980, culminando na criação do Partido dos Trabalhadores. Ambos são de primeira importância.

 

ConrackConrack - (Direção: Martin Ritt, EUA, 1974, 107 minutos) - Um voluntário branco vindo do Norte dá aulas a crianças negras numa escola pobre no Sul. Para que os negros votassem, era pré-requisito que soubessem ler, e por isso a campanha pelo alistamento eleitoral no Sul incluía ensinar a ler: muitos militantes deram a vida por essa causa. A promulgação da Lei dos Direitos Civis em 1964 e da Lei do Direito ao Voto em 1965 coroaria a vitória. Um dos raros diretores de esquerda de Hollywood, Martin Ritt foi incluído na famigerada Lista Negra dos anos 50. Mais conhecido por Norma Rae, sobre uma sindicalista, com Sally Field (ela, Oscar de melhor atriz; o filme foi premiado em Cannes). Com Jon Voight como protagonista.

 

Os Companheiros (I Compagni) Os Companheiros (I Compagni)  - (Direção: Mario Monicelli, Itália, 1963, 126 minutos) Clássico de uma grande fase do cinema italiano, que se caracterizou pela realização de filmes políticos notáveis, como O Caso Mattei, Um cidadão Acima de Qualquer Suspeita, A Batalha de Argel, Queimada. Memória da mobilização operária pela redução da jornada de 14 horas, no alvorecer do século passado. Examina o papel dos partidos políticos de esquerda no deflagrar de uma greve com essa bandeira. O movimento sindical, os problemas e impasses de uma greve. Marcello Mastroianni no inesquecível papel de um modesto militante clandestino.

Walnice Nogueira Galvão é professora emérita da FFLCH da USP e integrante do Conselho de Redação de Teoria e Debate