Estante

O continente latino-americano tem em seus personagens mais importantes a marca da utopia e da pluralidade. Muitos deles, como José Martí e Mariategui, fizeram da palavra escrita a arma principal de expansão de suas idéias. Não é a toa que ao lado de uma vocação natural pelo discurso, as lideranças sociais da América Latina sempre estiveram à frente de projetos editoriais que marcaram época. Depois da derrubada do socialismo real, a multiplicação de iniciativas nesse campo tornou-se ainda mais necessária no sentido da busca de novos caminhos. É com esse objetivo que nasceu e está crescendo America Libre, publicação trimestral de política e cultura dirigida por Frei Betto. Ela é filha dileta desses novos tempos que vivemos, atuando de forma plural e independente para ampliar o debate das e entre as posições democráticas e populares.

Não é uma tarefa fácil. Pautada no Brasil, editada na Argentina, imprensa no Chile e distribuída para todos os países do continente, incluindo Estados Unidos e Canadá, a revista percorre a trilha de quem persegue a unidade na riqueza das diversidades. De Fidel Castro a Lula, de Daniel Ortega a Cuahutémoc Cárdenas, todos têm seu espaço assegurado. No conselho editorial, para falar do time brasileiro, estão Chico Buarque, Fernando Morais, Antonio Callado, Paulo Freire, Luiz Eduardo Greenhalgh, Gilberto Carvalho, Eric Nepomuceno, Leonardo Boff, Roberto Drummond e Emir Sader. Com um projeto gráfico bem acabado e pertinente, compatível com a qualidade dos textos, a publicação está dividida em seções que enfocam artigos (necessariamente polêmicos), entrevistas, história e eventos.

Tavez o maior mérito de America Libre seja o de levar a sério o seu próprio nome. Não é e nem quer ser porta voz de nenhum partido, sindicato ou movimento social. Ela pretende - com a pretensão de ser utopia - ser espaço de todos os partidos, sindicatos e movimentos afinados com uma nova perspectiva histórica para o continente. No momento que a teoria do fim da História faz água no cotidiano de milhões de pessoas, é bom conhecer uma publicação com esse caráter. O desafio atual consiste em retirar America Libre da clandestinidade, colocando-a, de fato, no circuito das discussões que fervem por aí. Entenda isso como um convite, caro leitor.

Marcos Piva é jornalista e secretário de redação para o Brasil da revista America Libre.