Estante

É uma necessidade conversar com os poetas.

E se os poetas morrerem, procurarei os mortos,

as flores do mal que estão na minha estante.

E existe também a poesia no ar, a vaga música,

imune aos gases mortí­feros, invulnerável aos

bombardeios. Coloco-me irredutivelmente na

estrada de Cecí­lia Meireles:

No estrondo das guerras, que valem meus pulsos?

No mundo da desordem, meu corpo que adianta?

A quem fazem falta, nos campos convulsos

meus olhos que pensam, meu lábio que canta?