Estante

Capa do livro Idosos no BrasilIdosos no Brasil – Vivências, Desafios e Expectativas na Terceira Idade traz um conjunto de artigos de 16 autores que comentam sobre os dados de uma pesquisa inédita de mesmo título, abordando diferentes aspectos da velhice e do envelhecimento, na tentativa de “compreender as características, as necessidades e as possibilidades de segmentos importantes da sociedade brasileira ainda pouco estudados”.

Para saber quem são os idosos brasileiros foi preciso fazer 230 perguntas a 3.744 pessoas (2.136 idosos com 60 anos ou mais e 1.608 jovens e adultos de 16 a 59 anos), de 204 municípios, em cinco grandes regiões do país. Questões que nortearam os resultados da pesquisa – realizada em uma parceria entre a Fundação Perseu Abramo (FPA), o Sesc Nacional e o Sesc São Paulo – e deram voz aos próprios idosos, “priorizando sua perspectiva sobre o contexto sociocultural em que vivenciam o processo de envelhecimento”.

Cada pergunta ajuda a compreender o perfil sociodemográfico da população idosa brasileira em seu processo de envelhecimento e nele ver a persistência das desigualdades sociais e regionais já apontadas no estudo Indicadores Sociodemográficos Prospectivos para o Brasil. Desigualdades presentes também neste livro, especialmente na parte em que apresenta a síntese da pesquisa em 11 capítulos, todos ilustrados com gráficos e tabelas, os quais subsidiaram a narrativa de outros 18 capítulos que integram a primeira parte da obra e falam sobre a atual situação dos velhos brasileiros nos domínios do bem-estar psicológico, social e da saúde.

Será que existem mais coisas boas ou ruins em ser idoso? Como é se sentir idoso? Com que idade se chega à velhice? No Brasil as pessoas têm preconceito em relação aos idosos? Como os mais jovens vêem os idosos? Como os idosos vêem a juventude? As respostas dadas em relação às percepções da terceira idade e à auto-imagem do idoso são heterogêneas e diversas, assim como é a velhice. No entanto, em relação ao sentimento da idade, a maioria, apesar de ter mais de 60 anos, não se sente idosa. Tanto é que a média total dada à pergunta relacionada a que idade se chega à velhice foi de 68 anos e cinco meses.

Se pudesse decidir sem se preocupar com qualquer problema, o que gostaria de fazer nos próximos anos? Em que a idade atrapalha para fazer o que gostaria? Muita gente se engana ao pensar que na velhice as pessoas não têm mais sonhos. As respostas dadas a essa questão mostram que os idosos brasileiros querem ser felizes, curtir a vida, ter um trabalho, viajar e ter o próprio canto para morar. Mas qual brasileiro não tem esses mesmos desejos, independentemente da idade? Recentemente, uma pesquisa intitulada “Quantos sonhos você tem?” mostrou que uma senhora de 84 anos havia comprado um apartamento na praia, na planta, para mudar-se daqui uns quatro ou cinco anos, pois esse sempre fora seu desejo, mas a falta de dinheiro – resposta comum dos idosos brasileiros – não lhe havia permitido realizá-lo em outra etapa da vida.

Apesar de os idosos de hoje nos dizerem que viver o presente é mais importante do que se preocupar com o futuro, vale a pena ficar atento aos resultados da pesquisa, pois indicam caminhos que devem ser seguidos para viver uma boa velhice, cada vez mais longeva.

As vozes dos idosos nos provocam a repensar o papel da velhice e nos conclamam a ser sujeitos de nosso tempo. Este livro, indicado para todos, nos faz refletir sobre a longevidade, pois, se não morrermos jovens, envelheceremos com certeza. Como queremos envelhecer? Os idosos brasileiros de hoje destacam os desafios sociais dos idosos que seremos (e teremos) amanhã, caso não os resolvamos até lá.

Há muito que fazer, mas este livro tem o potencial para “funcionar como um marco para as políticas e as práticas sociais em relação ao idoso no Brasil” e, principalmente, o potencial de invocar a “solidariedade geracional”, para que esta “se transforme em uma das condições de um novo pacto civilizatório voltado à justiça, à paz e à realização plena das potencialidades humanas”.

Beltrina Côrte é jornalista, docente do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia da PUC-SP, editora da revista Kairós e coordenadora executiva do site Portal do envelhecimento