Estante

O lançamento do livro Mídia, Teoria e politica, de Venício Lima, com prefácio de Nita Freire, foi um fato auspicioso para todos que se interessam pelo assunto das relações entre as comunicações e a política.

Em primeiro lugar porque em suas 365 páginas temos um amplo leque de parte dos temas que são pesquisados dentro deste campo de investigação a cada dia mais decisivo para a compreensão não somente das comunicações de massa e da política stricto sensu, mas do conjunto das relações sociais do mundo contemporâneo.

Em segundo lugar porque, como obra de um autor polêmico e bastante conhecido no meio acadêmico, a sua publicação pela Editora Fundação Perseu Abramo certamente permitirá que seu conteúdo seja socializado também entre a militância de esquerda que nem sempre tem tido acesso a um material mais aprofundado sobre a temática.

Os dez textos agora publicados nesta coletânea sintetizam o que há de mais importante na produção do autor nos últimos 20 anos, nos quais Venício Lima foi professor dos cursos de comunicação e de ciência política na UnB, aposentando-se como titular da mesma universidade, além de ensinar em outras universidades no Brasil e no exterior e ter uma vasta obra publicada.

Nas quatro partes do livro podemos identificar cinco blocos temáticos. No capítulo primeiro ("Breve roteiro introdutório ao campo de estudo da Comunicação Social no Brasil") temos, mais que isso, um introdução ao estudo das teorias da comunicação e dos diversos modelos que servem ou serviram de base para as várias correntes que procuram investigar o fenômeno comunicativo, especialmente com o advento dos meios de comunicação de massas a partir das primeiras décadas do século XX. Texto particularmente proveitoso para quem não é especialista na área, mas pretende ter uma boa visão geral das polêmicas.

Nos capítulos 2 e 3 ("A atualidade do conceito de comunicação em Paulo Freire e Martin Buber na tradição da comunicação dialógica"), temos um diálogo de Lima com Freire, diálogo este que, como destaca a viúva do educador maior do Brasil, no prefácio do livro, era igualmente assumido por Freire.

Na segunda parte, temos dois capítulos ("Comunicações no Brasil: novos e velhos atores" e "Globalização e políticas públicas no Brasil - a privatização das comunicações: 1995-1998") que sintetizam um conjunto de artigos e intervenções do autor sobre um dos seus principais temas de interesse: a economia política das comunicações. Neles, além de um sólido referencial teórico, encontramos um rigoroso levantamento de dados empíricos, que nos permite entender toda a relação simbiótica entre a revolução tecnocientífica que desenvolveu a telemática, com as políticas neoliberais e as fusões de capital características da globalização imperialista em curso em termos mundiais e que, particularmente no Brasil, aprofundam os perigos para uma efetiva democratização da sociedade.

Enquanto na parte acima referida a preocupação do autor se dirige mais para as relações estruturais entre a comunicação e a política, na parte III seus estudos estão voltados principalmente para a influência mais conjuntural da mídia nos processos políticos em geral e eleitorais em particular. São três capítulos que investigam o papel da Rede Globo na "transição para a democracia" entre 1982 e 1985; a importância da televisão na disputa das primeiras eleições presidenciais brasileiras depois da ditadura militar, em 1989; e a centralidade que o autor identifica na TV, como instrumento de construção do cenário de representação da política (CR-P), talvez sua principal - ou ao menos polêmica - construção teórico-conceitual. São várias e controvertidas as questões e hipóteses que o autor levanta nestes três capítulos, sendo, a meu ver, a mais importante a idéia de que as disputas eleitorais ocorrem dentro de um cenário cujos elementos de representação da política são construídos previamente ao momento em que as campanhas são oficialmente iniciadas.

Finalmente, na parte IV, dois dos mais significativos trabalhos de Lima sobre o jornalismo televisivo: "Jornal Nacional: a política simulada - uma análise comparada com o Jornal da Record" e "Notas preliminares sobre o jornalismo da Rede Globo: um 'estudo de caso' sobre o DF-TV". Temos, enfim, uma leitura indispensável para todos, profissionais da comunicação, professores e estudantes nas áreas de comunicação e política, militantes políticos, ou qualquer interessado neste assunto que está na ordem do dia. Uma leitura de um trabalho polêmico, rigoroso e acessível.

Jorge Almeida é doutor em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela Facom-UFBA e professor dos cursos de Publicidade da UCSal e Hipermídia da FTC.