Estante

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.

Poeta sórdido:

Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.

Vai um sujeito.

Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito

bem engomada, e na primeira esquina passa um

caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma

nódoa de lama:

É a vida.

O poema deve ser como a nódoa no brim:

Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.

Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas,

as virgens cem por cento e as amadas que

envelheceram sem maldade.