Estante

Meu pai foi para mim "o assassino",
até os vinte anos, quando o conheci,
e vi que este meu dom dele recebi.

Tinha no rosto meu olhar azulino,
na dor um sorriso astuto, doce. E
vagou sempre no mundo peregrino,
amando e dormitando aqui e ali.

Era alegre e leviano, pois o peso
da vida só a minha mãe cabia.
Das mãos ele escapou-lhe qual balão.

"Não imites teu pai, é o que te almejo."
Mais tarde percebi o que então não via:
eram raças em antiga tensão.

(tradução de João Moura Jr.)