Estante

cordel.jpgFeminismo, sexo, oligarquias, coronelismo, cangaço, mortes, eleições e jornalismo. Tudo junto e misturado em um balaio político que culminou na revolta que criou o Território Livre de Princesa, no interior da Paraíba. O cordel Viagem aos 80 Anos da Revolta de Princesa conta a história de um inusitado grito de independência que forjou a criação de um município-estado apartado da jurisdição estadual e vinculado ao governo central. Com todos esses ingredientes se deu a Revolta de Princesa, que misturava oligarquias e coronelismo dos dois lados.

“Se os homens fossem anjos não haveria necessidade de governos.” Talvez essa frase sintetize uma querela entre grupos oligárquicos e conservadores que povoavam a Paraíba dos anos 1930, estado que respirava política.

O cordel destinado aos estudantes do ensino fundamental prima pelo didatismo e segue o caminho plural. Nem tanto à terra, nem tanto ao mar. Nem João Pessoa, aliado de Getúlio Vargas, era santo ou demônio, tampouco a oligarquia Dantas o era, assim como os grupos que gravitavam entre uma e outra facção.

O livreto aborda vários episódios na órbita da Revolta de Princesa: o feminismo de Anayde Beiriz, o assassinato de João Pessoa, a prisão e morte de João Dantas, a invasão do município de Teixeira, a emboscada no município de Água Branca, que dizimou em uma só lapada duzentos soldados oficiais, entre outros.

E, em tempos de discussão de regulação da mídia, um detalhe ilustrativo e simbólico aparece no cordel: o uso das páginas do jornal A União como instrumento de embate político por parte dos que ocupavam o governo estadual. Nas páginas do diário a vida íntima de João Dantas e Anayde Beiriz foi exposta. Essa devassa é apontada até hoje como o estopim que detonou a bomba do assassinato de João Pessoa por Dantas. Uma curiosidade: fundado em 1893, A União é o único jornal diário de um governo estadual, circula até hoje e informa na primeira página que é o terceiro mais antigo do país.

O autor, Janduhi Dantas, professor de cursos pré-vestibulares e cordelista consagrado, publicou também Lições de Gramática em Versos de Cordel, pela Editora Vozes. Divulgador desse tipo de literatura, escreveu A Mulher Que Vendeu o Marido por R$ 1,99, adaptado com sucesso para o teatro de rua e de tablado em várias regiões do país.

Viagem aos 80 Anos da Revolta de Princesa foi publicado pela parceria entre o autor, a Secretaria Municipal de Educação de Matureia (PB) e o Ministério da Cultura, que patrocinou a impressão de três mil exemplares para serem distribuídos em Pontos de Cultura, Pontos de Leitura e bibliotecas públicas do estado.

A Editora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) ampliou a tiragem e oferece a publicação a R$ 5,00 o exemplar. Para pedidos acima de cinquenta unidades, o preço cai para R$ 2,00.

Nilton José Dantas Wanderley é secretário de Educação de Matureia (PB), bacharel em Ciências Sociais, com pós-graduação em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba