Cadernos Teoria e Debate

As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) vêm assumindo um papel cada vez mais relevante com a transição do capitalismo industrial para o capitalismo digital ou informacional e o avanço de neoliberalismo sob a hegemonia do capital financeiro. As TICs são insumo básico da globalização, das transações financeiras e comerciais sobre plataformas em nível mundial, do mercado das bolsas de valores, dos sistemas mundiais de logística e até da produção cultural.

No binômio que compõe as TICs, as redes de telecomunicações continuam essenciais para garantir a comunicação entre pessoas, entre empresas e entre empresas e pessoas. Por isso mesmo, após a privatização das redes públicas de telecomunicações em vários países, estimulada pelo ideário neoliberal, a partir de meados de 1980 (no Brasil, a privatização da Telebras ocorreu em 1998), essa infraestrutura, pela sua essencialidade, continuou a ser regulada pelos governos para garantir a continuidade da prestação dos serviços, a não discriminação no uso das redes, a sua interoperabilidade, a neutralidade da rede e a defesa dos direitos dos usuários.

Mas se continuam essenciais para garantir o acesso – agora, muito especialmente, à internet, que se popularizou a partir da década de 1990 atingindo escala global –, nos mercados globais as redes de telecomunicações e suas empresas já não são mais, como no passado, as que registram maior valor de mercado. As chamadas big techs (Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft), as principais empresas da internet, criadas a partir da rede ou que expandiram suas atividades com e sobre a internet, hoje são as de maior valorização no mercado de ações (o valor de mercado das cinco maiores big techs supera os 5 trilhões de dólares). Isso porque as plataformas digitais, a partir do final da primeira década do século XXI, adquiriram centralidade no capitalismo digital por serem espaços mediadores ativos que colocam em contato diversos agentes para a compra de um bem ou serviço (aquisição de um produto ou download de um aplicativo, por exemplo), para a interação social (como no caso das redes sociais) ou para a realização de atividades específicas (fazer uma busca na rede, conseguir uma hospedagem, participar de um leilão etc.).