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Além formar jovens que já estão nas trincheiras progressistas, o movimento busca disputar segmentos juvenis que vêm sendo atraídos por iniciativas de formação política, a maior parte delas proveniente do campo liberal e conservador

O Movimento Representa foi lançado em fins de 2019 com o objetivo de "impulsionar a próxima geração de lideranças do PT e democratizar o acesso à formação para candidatas e candidatos jovens". Na carta-manifesto para Representar o Brasil, o movimento anuncia a que veio: promover a renovação política no PT, contribuindo também para a renovação na política brasileira de maneira geral. Afirma que "é preciso ousar, levar nossa democracia adiante, construir políticas públicas para 99% dos brasileiros e brasileiras. Garantir cidades sustentáveis, com espaços culturais nos bairros, justiça social, qualidade de vida e que preza acima de tudo, com o pagamento da maior das dívidas do Estado brasileiro: a dívida com o seu povo, com o povo trabalhador!".

Vinculado ao PT e elaborado por lideranças da juventude do partido, o Movimento Representa possui um portal próprio, assim como perfis no Facebook, no Youtube e no Instagram. Pretende criar uma "rede de lideranças comprometidas com a consolidação de uma alternativa política popular para o Brasil, que dê voz ao povo e que transforme a sociedade pela esquerda". Para tanto, criou também um canal de financiamento a partir de contribuições independentes, para que cidadãos, como eu e você que apostam na renovação política, possam participar e apoiar a formação e as campanhas eleitorais das novas lideranças.

A iniciativa da JPT bebe de algumas fontes promissoras, como é o caso do Elas por Elas, "projeto desenvolvido pela Secretaria Nacional de Mulheres do PT com o intuito de impulsionar a participação de mulheres na política e construir uma plataforma feminista para o Brasil". O projeto foi viabilizado em grande parte devido às cotas na administração dos recursos eleitoral e partidário conquistadas pelas mulheres brasileiras nos últimos anos. Atualmente 30% dos recursos do Fundo Eleitoral de Financiamento de Campanha são destinados às candidaturas de mulheres e outros 5% dos recursos do fundo partidário é administrado pelas Secretarias Nacional e Estaduais de Mulheres do PT. Lançado em 2018, o projeto Elas por Elas conta com assessoria jurídica, de comunicação e de planejamento de campanha, além de fornecer conteúdos específicos para as candidatas mulheres petistas.

Vale mencionar ainda que o projeto se baseia na força da diversidade das mulheres, principalmente jovens, negras e LGBT. Nestas eleições, ações conjuntas das Secretarias Nacionais Agrária e de Mulheres têm contribuído para estimular e organizar candidaturas petistas de mulheres do campo, das florestas e das águas. Trata-se de um avanço importante, sobretudo considerando que mais de 70% dos municípios brasileiros têm menos de 20 mil habitantes e 90% deles têm menos de 50 mil habitantes – são, portanto, municípios muito marcados por traços da ruralidade.

De inspiração semelhante ao Elas por Elas e ao Representa, o Partido dos Trabalhadores inaugura nestas eleições o projeto Nossas Cores, que visa apoiar candidaturas LGBTIA+. Para este pleito já foram mapeadas mais de quinhentas candidaturas petistas em todo o Brasil, sendo dezessete majoritárias e 494 proporcionais.

Ao mesmo tempo em que busca formar jovens que já somam nas trincheiras progressistas, o Representa busca disputar segmentos juvenis que vêm sendo atraídos por uma diversidade de iniciativas de formação política, a maior parte delas proveniente de campos liberais e conservadores do espectro político. Vale lembrar, por exemplo, que jovens deputados federais como Tábata Amaral (PDT-SP), Felipe Rigoni (PSB-ES), Daniel José (Novo-SP) e Tiago Mitraud (Novo-MG) são expoentes da chamada bancada Lemann no Congresso Nacional. Isso porque foram formados e alçados à política em com o apoio de projetos do empresário Jorge Paulo Lemann, por meio de sua Fundação Lemann.

Os movimentos pelo impeachment em 2015 e 2016 também alçaram jovens para a atuação institucional. Dois exemplos emblemáticos vêm de São Paulo: Kim Kataguiri, eleito deputado federal (DEM-SP) em 2018 com a maior votação do Brasil (465.855 votos); e Fernando Holiday, primeiro homossexual assumido a ocupar o cargo de deputado estadual na Alesp (ex-DEM, atualmente Patriotas). Ambos foram formados e tornaram-se referência do Movimento Brasil Livre (MBL).

Iniciativas como RenovaBR, Acredito, RAPS e Agora têm ganhado muitos adeptos nos últimos anos. Vale notar que elas têm despertado interesse não apenas de candidatos de centro e/ou da direita. A polêmica envolvendo a candidatura da ativista comunitária Thais Ferreira, no Rio de Janeiro, indica que há também procura por parte de militantes progressistas. Thais foi candidata a deputada estadual pelo PSol e atualmente ocupa a primeira suplência. Sua pré-candidatura a vereadora da cidade do Rio de Janeiro nestas eleições de 2020 foi barrada pelo partido, que aprovou resolução que proíbe candidaturas de pessoas que tenham participado de cursos de renovação política em formato dos acima mencionados – Thais havia participado de um módulo de formação à distância do RenovaBR.

No campo progressista uma das iniciativas mais promissoras é a PartidA, movimento inaugurado em 2015 voltado à divulgação, formação e apoio de candidatas mulheres. A iniciativa se manifestA em favor de uma democracia feminista ético-política, construída a partir da pluralidade das mulheres. Incorpora a dimensão ecológica e se propõe a transformar o cenário político, cultural, social e econômico do Brasil, resistir à violência do poder patriarcal e combater toda forma de manipulação e opressão. Para o pleito de 2020 a PartidA organizou uma jornada nacional de formação. Além dela, outras dezenas de organizações e coletivos feministas têm promovido iniciativas semelhantes, com cursos de formação, comunicação e planejamento de campanhas.

Em análises anteriores sobre as eleições de 2018, mostramos que o PT possui poucas candidaturas jovens, assim como elege muito poucos jovens, quando comparado a outros partidos. O Representa pretende mudar essa realidade. Até o momento, já são quase 4 mil jovens cadastrados na plataforma do Movimento. Os cursos de formação contaram com mais de 2.200 inscritos.

O desafio é grande, mas a força da juventude petista é ainda maior. Por mais jovens comprometidos com o projeto popular, com a mudança e a justiça social, desejamos vida longa ao Movimento Representa!

 

 

Luiza Dulci é militante da JPT, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. É economista (UFMG), mestre em Sociologia (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura (UFRRJ)