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Dados da OIT do primeiro trimestre de 2021 apontaram que 23,8% da juventude entre 15 e 24 anos estava desempregada nos países da América Latina e Caribe

A coluna anterior apontou dados sobre a evasão escolar de jovens durante a pandemia e o cenário é nada menos que alarmante. Igualmente, a situação do mercado de trabalho vai de mal a pior. O país convive hoje com uma das mais altas taxas de desemprego de sua história: são mais de 20 milhões de pessoas desocupadas, entre desempregadas e desalentadas, o que corresponde a mais de 14% de nossa população economicamente ativa. Esta taxa conferiu ao Brasil a 14a posição em um ranking mundial de desemprego que avalia cem países (em 2020 havíamos ficado na 22a posição).

Como sabemos que indicadores socioeconômicos têm raça, gênero, geração e endereço bem marcados, também o desemprego afeta de maneira distinta os variados grupos sociais. Interessa discutir aqui a situação da juventude brasileira em particular.

A Nota Técnica da própria Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, publicada em 17 de agosto de 2021, mostrou que enquanto 14,7% da população está desempregada, entre pessoas de 14 a 17 anos a taxa é bem mais elevada: 46% estão em busca de trabalho. Já entre 18 e 24 anos o desemprego alcança 31%.

Merece atenção o fato de que jovens são maioria no chamado desemprego de longo prazo, com período superior a dois anos. Também as mulheres são proporcionalmente mais afetadas nos intervalos mais longos de desemprego. Há duas mulheres para cada homem nessa condição. Outro fator de relevo é a baixa escolaridade, que, por sua vez, afeta sobretudo populações negras e moradoras das periferias urbanas e rurais.

Não raro vemos referências que caracterizam parcelas da população jovem como os nem-nem, aqueles que não trabalham nem estudam. Em meados de 2021, pesquisa realizada por uma empresa de recursos humanos com uma amostra de 9 mil jovens brasileiros, apontou que pelo menos 25% deles seriam jovens nem-nem.

A situação é de fato preocupante. Porém, há nuances que merecem ser visibilizadas e aprofundadas. Em artigo publicado nesta revista em fevereiro de 2019 busquei problematizar a alcunha de nem-nem e indagar sobre o quão "explicativa e honesta é essa categoria?" Dois aspectos merecem ser considerados. Por um lado, tem-se que boa parte desses jovens está sem trabalho, mas segue buscando emprego; por outro, muitos dedicam-se a trabalhos de cuidado familiar e quase todos desempenham tarefas domésticas ou ajudam nos negócios da família. Podemos afirmar taxativamente que não trabalham nem estudam? Tenho cá minhas dúvidas.

A pandemia abriu novo capítulo dessa história e trouxe novos problemas para as juventudes. Também em texto anterior de abril de 2020 busquei identificar os principais desafios decorrentes da pandemia. De lá para cá, a situação se agravou. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) do primeiro trimestre de 2021 apontaram que 23,8% da juventude entre 15 e 24 anos estava desempregada nos países da América Latina e Caribe – taxa mais alta desde o início de sua medição em 2006 e 3% superior ao período de pré-pandemia. Atualmente, mais de 11 milhões de jovens procuram emprego na região.

Os múltiplos impactos da pandemia sobre a vida das juventudes podem levar ao que o diretor regional da OIT para a América Latina e Caribe chamou de "geração do confinamento": "essa geração tem vivenciado os impactos da Covid-19 por meio de uma multiplicidade de canais, tais como a interrupção de seus programas educacionais ou de formação e o vínculo com o mercado de trabalho (estágios e aprendizagens), a perda de emprego e renda e a perspectiva de enfrentar maiores dificuldades em encontrar uma ocupação no futuro".

Não faltam, portanto, justificativas para a elaboração, a implementação e o monitoramento de políticas públicas especialmente voltadas aos desafios da juventude – históricos e presentes. Tais políticas precisam levar em conta a sociedade que temos e também a sociedade que queremos.

Falamos aqui, dentre outras, de programas de educação e formação profissional; incentivos para a contratação do "primeiro emprego" em postos de trabalho decente; políticas de crédito nas cidades e no campo; e ações de produção e fruição cultural, particularmente nas periferias. Para sustentar o presente e forjar o futuro, a juventude também precisa de saúde física e mental, por isso, programas de promoção da saúde, incentivo ao esporte e ao lazer e segurança alimentar e nutricional são indispensáveis.

A juventude quer estudar e quer trabalhar. A juventude quer viver.

Luiza Dulci é militante da JPT, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo. É economista (UFMG), mestre em Sociologia (UFRJ) e doutora em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura (UFRRJ)